Capítulo Único | Foi sempre sobre nós.

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Andrômeda
Constelação do hemisfério boreal.
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É fácil falar sobre o exato momento em que eu amei você.

Amei não como amigo, não como irmão. Eu te amei de uma forma que essas duas definições não eram suficientes.

Eu te vi sentado na arquibancada enquanto escutava música nos seus fones de ouvido. Parecia distraído demais para perceber que estava me aproximando. Suas mãos ossudas e cheias de tatuagens sustentavam anéis pesados, entre seus dedos também havia um cigarro mentolado que tragava devagar — era o seu favorito. Olhei em volta e percebi que a primavera estava prestes a adormecer para dar lugar ao vento frio de outono. Vento este que não pareceu incomodá-lo, apesar de você estar vestindo roupas não tão quentes.

Quando finalmente notou que eu estava perto, me dirigiu um de meus sorrisos favoritos — aqueles que chegam nos olhos.

Meu coração bateu forte no peito, me esquentou por inteiro, tanto que eu esqueci do frio que fazia. E daí em diante, ele — meu coração — nunca deixou de bater com força toda vez que você me agraciava com a sua presença.

E foi nesse momento que eu finalmente deixe-me aceitar que não tem como escapar de você e da sua Andrômeda, Jungkook.

Nos conhecemos no auge da nossa adolescência, éramos rebeldes e cheios de problemas em casa. Você tinha me visto chorando baixinho no banheiro da escola, que por um acaso, havia escutado sem querer o motivo da minha cara de espanto e decepção. Eu havia sido abandonado por minha única família. De novo, porque não era a primeira, nem a segunda vez que me deixaram sem ninguém para ter de amparo. No entanto, daquela vez, doeu mais, pois eles — os policiais — ligaram avisando que não iriam voltar mais. Nunca mais.

Apesar de estudarmos na mesma turma durante o ensino fundamental e médio, nunca de fato havíamos tido uma conversa, além poucas palavras trocadas.

Você me observou por alguns minutos — encostado na pia, bem ao meu lado, me vendo lavar o rosto com um pouco de força — e soltou uma frase que não esperava ouvir de ninguém.

— Nossa cara, que merda — disse, simples assim.

Além de falar algo que me deixasse um pouco chocado, você me puxou para uma parte isolada da escola e me ofereceu um baseado, que até hoje, não sei de onde o tirou.

Não disse nada mais, apenas me fez companhia, até o cigarro ser apagado. Desse momento em diante, eu nunca mais me senti sozinho.

Nós começamos a nos ver todos os dias, às vezes conversávamos, às vezes apenas fazíamos companhia um pro outro; amanhecemos centenas de dias, eu não tinha casa para voltar e você não tinha ninguém para se preocupar.

Poderia ser mais triste, mas eu tinha você e você me tinha, e por isso, o tempo que passava era bem menos desagradável.

No dia do seu aniversário, pegamos um ônibus qualquer, sem sequer olharmos o destino. A única coisa que sabíamos, era que ele nos levaria para fora de nossa cidade natal. Nesse dia descemos na terceira parada — você alegava que três era o nosso número da sorte, e é claro que tinha razão —, o lugar era povoado por poucas casas, andamos nas ruas estreitas e tivemos o melhor almoço de todos. Nosso plano era apenas passar o dia, mas descobrimos uma clareira que tinha de vista um pequeno lago, onde o sol da tarde beijava a água escurecida — então, decidimos que iríamos passar a noite. Por ser verão, apenas as poucas cobertas que havíamos levado nas mochilas serviram. Ficamos deitados vendo o sol se pôr para dar lugar as estralas e a lua minguante.

Esse, com certeza, foi o melhor dia da minha vida, e obviamente eu acabei confessando para você, porque não conseguia te esconder nada. Pelo menos era o que eu acreditava.

Sobre Andrômeda e Poeira Cósmica (NamKook)Where stories live. Discover now