Henry I

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Acordo com o sol vindo da janela no meu rosto, minhas costas doendo me lembram de onde eu estou.

Amélia.

Me sento devagar e franzo a testa ao ver uma folha de papel flutuar lentamente em direção ao chão, resmungo a agarrando antes de cair e vejo o nome na frente.

—Mia? Desde quando deixamos bilhetes? —sussurro negando com a cabeça julgando que ela tenha ido trabalhar e me deixado dormir.

Abro o bilhete e novamente franzo a testa ao ver pequenas manchas malhadas e agora já secas pela superfície, leio as primeiras palavras e sinto meu corpo tensionar.

—Não. Amélia. —chamo mais alto nem terminando de ler e me levanto correndo até o quarto dela. O guarda- roupas estava aberto e vazio, a cama perfeitamente arrumada sem ser pelo caderno ali e uma bola de papel perto do travesseiro. Vou até ela a pegando e desdobrando. —O que esse filho da puta fez com ela pelo amor de Deus? —resmungo escutando o barulho da porta da frente. —Amelia isso não tem a...

—Henry? Vocês deixaram a porta destrancada. —a voz de minha prima interrompe as minhas palavras assim que chego a sala. —Henry? Você está vermelho... O que está acontecendo? Cadê a Mia?

Ela tinha nos deixado, no meio da madrugada. Tinha fugido como fez com eles, como se fossemos as pessoas que a machucaram.

—Foi embora. —murmuro da maneira fria e tensa entregando o bilhete para Anna.

—O que? Como assim?

—Nós não fomos o suficiente pra fazer ela ficar Anna, simples. —pego minhas coisas rapidamente precisando sair daquela casa o mais rápido possível.

—Henry. —minha prima segura meu braço e a encaro.

—Eu ofereci ajuda, nós prometemos que iríamos cuidar e proteger ela. E mesmo assim não foi o bastante para fazer ela ficar. —murmuro magoado por aquilo, por ela ter desistido.

—Sei que você tem sentimentos por ela e que está magoado, mas ela só está assustada. Provavelmente se sentindo culpada por aquilo que aconteceu na padaria. —Anna nunca é a voz da razão em uma conversa, e estar sendo comigo só me deixa mais irritado.

—Meus sentimentos não tem nada a ver com o assunto Anna, o único assunto aqui é que ela disse que éramos uma família. Não se abandona a família, nunca. —puxo meu braço agarrando meu casaco e saio apressado daquele lugar.

A cidade está sem cor, o céu nublado e turbulento refletindo meu humor, as barracas da praça ainda fechadas provavelmente por causa do tempo. Mantenho meus passos rápidos sem responder o bom dia de ninguém que passava por mim, apesar de conhecer a todos, meu olhar fixo no caminho para a minha padaria.

—Então você passou a noite cuidando da formiguinha? —paro respirando fundo ao escutar a voz dele.

Ele não estava cansado de apanhar?

—A surra de ontem não foi suficiente? Está querendo outra? —me viro encarando o rosto dele. Os machucados e hematomas bem evidentes debaixo da barba, meus punhos fizeram um bom trabalho. —E não a chame assim seu doente de merda.

—Só quero conversar. —ele ergue as mãos como se estivesse se rendendo e cruzo meus braços pensando seriamente em como seria bom tirar o queixo dele do lugar, ou uma das mãos talvez.— Amélia não é quem você pensa... Ela tem sérios problemas psicólogicos, sem falar na enorme mania de viver fugindo.

—Você ainda tem coragem de vir aqui e culpar ela pelo que aconteceu? —ergo uma sobrancelha e ele faz uma cara surpresa. —Acha mesmo que eu vou acreditar em você? Foi você aparecer aqui que a mulher se encolheu em uma bolha, seu babaca. Eu não preciso de explicações para saber que você a machucou, e você deve rezar para nunca mais aparecer na minha frente depois que eu descobrir como a machucou. E eu vou descobrir.

—Ou o que? O que você poderia fazer comigo? —ele da uma risada e ergo uma sobrancelha novamente
—É só a droga de um padeiro de merda, eu posso fechar aquele lugarzinho com um estalar de dedos. E quanto a sua prima? Ela vai saber se recuperar se perder aquele emprego de bosta?

Ele tinha a coragem de me ameaçar?

—Você é uma piada. —rio com vontade olhando em volta com orgulho do que vou falar a seguir. —Estamos aqui a sete anos, e a primeira coisa que descobri é. Amigos são mais importantes que qualquer outra coisa no mundo, mais até do que a família. Você pode tentar ferrar com minha padaria ou o emprego da Anna, mas nós, e Amélia, nunca estaremos sozinhos.  Agora faça-me um favor, e desapareça das nossas vidas, e se eu souber que chegou perto da minha garota outra vez. Não vai ser seu nariz que eu vou quebrar.

—Isso não acabou ainda Cavill. —ele tenta soar ameaçador o que me faz rir mais enquanto dou as costas e me afasto.

Preciso achar a Amélia antes que ele descubra que ela voltou para Londres.

Ela era importante para mim, além dos sentimentos estranhos e conflitantes que andam por minha mente, ela era minha amiga. Uma das amizades mais genuínas que eu tive durante minha vida toda, nós e Anna tínhamos uma ligação que ia muito além do simples coleguismo de estrangeiros em uma terra nova.

Sim, ela era linda e por Deus, aquela bunda poderia parar o mundo se quisesse, mas por trás de tudo isso ela era só uma garotinha precisando de apoio e carinho. Eu percebi isso no dia que nos conhecemos, ela não estava perdida só por causa de um mapa, ela estava totalmente sem rumo.

Esses sentimentos novos não eram mais fortes que nossa amizade, e eu não ia deixar ela abandonar o que construimos aqui.

É com isso isso na cabeça que entro no meu apartamento digitando o número dela esperando que por algum milagre ela o atenda.

—Alô? —uma voz familiar atende, mas não era minha garota, oh droga.

—Esther? —pergunto fechando minha cara. Amelia tinha voltado para o inferno.—Onde está Amélia?

— Sim, quem está falando? —ela mantém o tom rude. —Amélia não pode falar agora.

—Meu nome é Henry Cavill, eu sou um amigo da sua filha. —mantenho o máximo de educação que eu posso com aquela mulher, mesmo que tenha vontade de entrar no celular e a punir por tudo que Mia tenha me contado.

—Cavill? —ela parece estar tentando se lembrar do meu nome e fecho meus olhos nervoso. —Nunca ouvi falar em nenhum amigo dela com esse sobrenome. —suspiro um pouco aliviado. —Como eu disse, Amélia está ocupada e não pode atender agora.

—Não pode ou não quer? —mordo meu lábio com medo da resposta.

—Acho que você sabe a resposta garoto, não ligue mais por favor. Ela está em casa agora.

E desligou a ligação sem me deixar responder. Ela não queria falar comigo? Porque ela não queria falar comigo?

Dolce Pandoro - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora