**Capítulo 51**

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As palavras daquele pastor ficaram dias se passando por minha cabeça, me deixando confuso pra caralho.

Querendo ou não aquelas paradas todas lá, tinha dado um peso do caralho na minha mente.

E pra completar era o Magrão no meu ouvido toda hora falando sobre aqueles versículos. Já sabia que tinha sido pra mim, mas não gostava muito de lembrar e acabar entendendo o que eles queriam "falar" pra mim.

Tava na cara que queria passar, e me fazer pensar sobre matar o GG, e acabar perdoando ele, mas infelizmente eu não consigo. O cara já me fez tanto mal que ninguém tem essa noção, e eu quero sim cobrar essa porra dele, da pior forma.

E eu vou cobrar!

Assim que entrei na sala da Jade, ela não estava ali, apenas as coisas dela. Estranhei um pouco, mas me sentei na cadeira, apoiando meus braços na mesa.

Os caras fecharam a porta, me deixando sozinho ali por alguns minutos, até a Jade aparecer balançando algumas chaves nas mãos.

Ela assim que me viu, deu um sorriso fraco, vindo na minha direção.

Jade: Consegui permissão para deixar você solto das algemas nas nossas consultas. - balançou as chaves outra vez, e eu fiz careta.

Sinistro: Ala, fez isso porque, pô?

Jade: Porque eu acho que assim é melhor. - suspirou alto, e veio me soltar. - Trouxe seu caderno, e quero que você comece a escrever hoje já, aqui na consulta mesmo.

Retirei as algemas, deixando as mesmas em cima da mesa. Jade sentou na cadeira dela, guardando as chaves, e me olhou outra vez.

Ela tirou um caderno de dentro de sua bolsa, junto com uma caneta.

Jade: Sinistro, quero que você escreva tudo, desde que você foi preso lá no Carandiru, até hoje em dia. Quero que você escreva na visão do Sinistro, como na visão do Rafael. E não se preocupe, esse caderno vai ser privacidade sua, nem eu e nem ninguém vai ler.

Olhei pra ela apertando um pouco os olhos, meio desconfiado mesmo, e ela riu de lado, negando com a cabeça. Peguei aquele caderno, batendo a caneta na capa, e fiquei olhando para o mesmo.

Sinistro: Aí, posso começar a escrever na cela?

Jade: Tanto faz, você decide. - deu de ombros. - Se você acha que é melhor, ok!

Concordei com a cabeça e decidi que iria começar a escrever mais tarde na cela mesmo, de madrugada quando os caras já estão dormindo e eu tenho a minha paz.

Jade: Fiquei sabendo que você foi para o culto esses dias atrás...

Sinistro: Fui com o Magrão, ver como é, tá ligada?

Jade: E você gostou? - fiz que sim com a cabeça, e ela sorriu. - Já fui em alguns cultos daqui, para ver o comportamento de alguns presos que vou começar a atender, e até que eu gostei também.

Sinistro: Vai atender mais caras aqui? - cruzei os braços, olhando pra ela serinho.

Jade: Sim, uma vez na semana vou estar atendendo eles. É, Sinistro, não vou ser exclusivamente sua...- me olhou, e eu fiz careta. -... psicóloga, claro!

Sinistro: Mas acho que vou ser o único exclusivamente daqui que conseguiu transar contigo. - falei mesmo, e ela se engasgou na hora com a própria saliva.

Jade: Sinistro! - me repreendeu com o olhar, e eu percebi que ela tava toda vermelha. Ala, tava com vergonha a mulher!

Sinistro: Qual foi, Jade? Tá com vergonha mesmo, pô? - perguntei, sorrindo de lado, e ela negou com a cabeça. - Ih, tá sim...

Jade: Olha o que você fala do nada também, quer que eu fique como, Rafael? - perguntou baixo, escondendo o rosto com o cabelo.

Sinistro: De boa, pô, até porque é normal transar...

Jade: Super normal transar com meu paciente dentro de um carro.

Sinistro: Se transar dentro de um carro foi o problema, bora aqui em cima, pô. - passei a mão na mesa, olhando serinho pra ela.

Vi a garota engolindo em seco, abaixando o olhar, começando a se remexer na cadeira.

Jade: Rafael...para! - pediu baixo.

Sinistro: Eu tô zoando contigo, carai, fica de boa aí mermã. - falei negando com a cabeça, e ela respirou fundo.

Jade se levantou da cadeira batendo uma folha de papel perto do rosto, se abanando, e eu segurei a risada, percebendo que tinha mexido um pouco com elas os bagulhos que eu disse.

Jade: Você não tem um pingo de vergonha na cara, Sinistro. - me olhou, e eu ri de lado. - Pilantra!

Sinistro: Você que é fraca e não aguenta nem algumas simples palavras. - me levantei também, me aproximando um pouco dela. - Mas qual foi, tu se arrependeu mesmo da parada que rolou?

Ela olhou pra mim, parando de se abanar, e ficou me olhando nos olhos por maior tempão. Mordeu o lábio inferior, atraindo minha atenção ali.

Jade: Não...

Diário de um DetentoOnde histórias criam vida. Descubra agora