Superar Juntos - Maratona 1

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- O que você pensa quando vê isso? - Juliana me mostra um tipo de desenho preto borrado, mas que me parece com respingos de sangue.

- Sangue. - eu tenho feito terapia, parece que passei por eventos traumáticos demais para alguém que mal se tornou uma adulta. Jackson tem sido paciente ao extremo comigo, estou aguardando o dia em que ele vai se cansar de me esperar. Ele participa de algumas sessões, para me dar apoio, mas as vezes ele tem que resolver algumas coisas que tomam todo o seu dia.

- E essa?

- Um gato.

Joseph não morreu ainda, mas não está nada bem. Ele está internado em estado grave faz três dias, sem nem poder receber visitas. Minha irmã está praticamente acampando na porta da ala hospitalar, só sai de lá para fazer suas higienes básicas. Eu adoraria poder ajuda-la, mas como vou ajudar outra pessoa quando eu mesma preciso de outra para não enlouquecer completamente?

Graças a todos esses eventos eu tenho crises de choro aleatórias e desenvolvi um medo absurdo de escuro e de ficar sozinha nele, as vezes não precisa nem estar escuro, basta apenas eu começar a pensar que todos sumiram e eu fui a única a ficar viva que começo a entrar em pânico. Juliana disse que meu quadro não é tão grave, mas se não for tratado desde cedo irá apenas piorar, obviamente ela não me contou diretamente foi eu quem ouvi sua conversa com Jackson.

- Podemos parar por hoje? - pergunto, não estou me sentindo muito bem e estou com zero vontade de continuar com isso. Ela me encara com um olhar que eu conheço muito bem e assente.

- Está bem, mas se precisar de mim já sabe onde me encontrar. - me levanto do divã e saio de sua sala.

Caminho pelos corredores do palácio sem um rumo certo. O olhar de pena dos funcionários me incomoda e irrita, me olhar assim não vai ajudar em nada! Saio em direção ao jardim e corro para o mais longe que posso, sentindo o vento gelado bater em meu rosto e meus cabelos soltos voarem. Quando estou longe o bastante para não ser ouvida me jogo de joelhos no chão e deixo as lágrimas escorrerem.

- Por que tinha que ser assim? - pergunto arrancando alguns matinhos e jogando longe. - Por que eu tive que vim para essa droga de lugar? Por que eu não pude viver uma vida normal e me apaixonar por alguém normal?

Me sento e abraço os joelhos, escondendo o rosto neles. Chorar alivia, Juliana quem me disse. Mas no meu caso só me faz querer ser engolida pela terra e desaparecer. Começo respirar mais profundamente, inspirando pelo nariz e expirando pela boca, numa forma de tentar controlar essa choradeira. Quando isso acontece a única pessoa que consegue me acalmar, fora os remédios, é Jackson.

Mas sou orgulhosa demais para procura-lo toda vez que me sinto triste. Me parece muito egoísta ter que faze-lo parar de trabalhar para cuidar de mim, não sou mais criança. Preciso começar a achar as respostas dos meus problemas sozinha, afinal não precisei de ajuda para me meter neles. Consigo controlar um pouco minha respiração e me deito olhando o céu que deveria ser azul, mas nuvens escuras o cobrem quase por completo, hoje vai chover e provavelmente será temporal.

Eu preciso voltar lá para dentro mas estou sem um pingo de forças, e vontade, de levantar daqui. Estremeço um pouco quando ouço o som de um forte trovão retumbar dentre as nuvens. Meus pensamentos voam para minha falecida amiga, ela me contou que gosta... gostava de dias chuvosos. Disse que era bom tomar banho de chuva, era como sentir sua alma sendo lavada pelo universo.

Aonde será que ela está agora? Ela acreditava que depois da morte as pessoas viravam anjos da guarda de outra pessoa querida que ficou, só espero que ela esteja bem do outro lado e talvez um dia eu possa vê-la de novo. Me questiono se Joseph vai se juntar a ela em breve, não estou preparada para mais uma morte.

Princesa?Eu?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora