Despair

17.

Assim que abro a porta do apartamento, o meu corpo sente-se fraco e as minhas pernas tremem. Em cima de tudo o que aconteceu na última hora, mal comi hoje. Sou sincera que a única coisa que me apetece neste momento é ir para a cama, adormecer e nunca mais acordar. Sinto um buraco no meu coração e um aperto no peito que não me deixam descansar, não desaparecem. Atiro os meus pertences para cima do sofá e caminho preguiçosamente até à cozinha. Tiro um pote de noodles instantâneos do armário e coloco água a ferver na cafeteira elétrica. Decido tomar um banho enquanto os noodles ensopam a água, de qualquer das formas, não demoro muito tempo.

A água quente que cai do chuveiro sobre o meu corpo lava parte da mágoa que sinto no meu peito, apenas para a deixar voltar assim que todo a torneira para colocar shampô no cabelo. Esfrego preguiçosamente o mesmo e, assim que termino, oiço alguns barulhos fora da casa de banho. Fico assustada de início, quase que me esquecia que Logan também vive aqui. Decido ignorar e continuar com o meu banho. De repente, a porta da casa de banho abre-se e eu não tenho coragem para espreitar pela cortina e ver o que se passa.

"Temos que falar." A voz de Logan soa destorcida por entre o som da água e eu sinto um ligeiro alívio por ser só ele. Ele que matou a tua tia, a minha mente relembra-me.

"Sai, por favor." É a única coisa que consigo dizer. Para além de não querer ter nada a ver com ele, estou no meu estado mais vulnerável, tanto física como psicologicamente. Não pode correr bem.

"Eu não vou sair." Ele diz num tom sério e eu quase que consigo imaginar a sua expressão. Bufo em frustração com as suas palavras, as lágrimas já secas de antes misturam-se agora com a água e eu quero bater em mim própria por estranha chorar, mais uma vez. "Tens que ouvir o que eu tenho para dizer." Ele diz novamente, aumento ainda mais a minha raiva.

"Não Logan, não tenho!" Grito e abro a cortina do chuveiro, esquecendo-me por momentos que estou completamente nua. Os seus olhos voam para o meu corpo e eu reviro os olhos e puxo a toalha para envolver o meu corpo. "Tens que ser mesmo um porco para estares a pensar em sexo neste momento." Digo brutalmente e saio da banheira. Quero sair da casa de banho o mais rápido possível, o espaço é demasiado pequeno para nós os dois e eu sinto-me sufocada.

"Eu não estava..." Ele não acaba a frase e suspira pesadamente. "Há mais sobre isto que não sabes e eu tenho que to dizer." Ele diz e por momentos, penso que vejo mágoa no seu olhar. Ele deve ser um excelente ator, porque eu forço-me a não acreditar no que ele me diz. Por muito que eu ache que ele, definitivamente, não presta, a curiosidade leva a melhor de mim e eu lanço-lhe um olhar para que continue a falar e ele solta um suspiro de alívio. Sento-me na beira da banheira e Logan senta-se no tampo da sanita. Esta deve ser a cena mais ridícula que já vivi em toda a minha vida. "O que o Levi disse não é totalmente mentira." Ele diz e os meus olhos arregalam-se. Por momentos pensei que ele me fosse dizer que sim, que era mentira e que ele só o disse porque é uma pessoa merdosa. Mas ele não o faz.

"Por amor de Deus Logan, se não é mentira então estás só a gastar o meu tempo." Levanto-me rapidamente do meu lugar, mas ele impede-me.

"Deixa-me acabar, por favor." Ele diz quase num sussurro, os seus olhos penetram nos meus e eu obedeço, voltando a sentar-me. Abano a minha perna impacientemente, um tique nervoso tão velho quanto eu. "Eles pediram-me para descobrir em que hospital ela estava, para poderem... tratar do assunto." Logan diz e eu recuso-me a olhar para ele. Tenho a certeza que a minha cara está inchada e vermelha, mas é o que menos me importa neste momento. "E eu descobri." A sua voz sai baixa. As lágrimas rolam pela minha cara e eu tento limpá-las rapidamente. "Mas eu juro, Alice, juro por nós, que não sabia que era a tua tia!" Ele diz, aproximando-se um pouco mais de mim e colocando uma mão sobre o meu joelho, mas eu afasto-me.

"Mas que nós?" Digo alto. "Não há um nós, nunca houve e nunca vai haver!" Os meus olhos quase me saltam da cara com a raiva que sinto. Logan apenas olha para o chão, suspirando. "Tu disseste que me amavas, certo?" Digo, baixo. "Quem é que faz uma coisa destas a alguém que ama?" Os nossos olhos encontram-se e os seus estão húmidos e bastante vermelhos. Palmas para o espetáculo.

"Eu tentei, Alice! Eu tentei!" Logan grita e levanta-se do seu lugar. A sua altura em comparação com a minha é assustadora, especialmente estando eu sentada e ele em pé. Decido levantar-me para diminuir a diferença, mas, mesmo assim, ele tem quase dois palmos a mais.

"Tentaste o quê?" O meu tom sai mais confuso do que irritado.

"Assim que te conheci e descobri quem ela era, eu tentei mudá-la de hospital. Eu subornei médicos, enfermeiros, porra, até a merda de um segurança." Ele entrelaça os seus longos dedos no seu cabelo e puxa-o para trás. "A condição dela não era estável e não puderam fazê-lo." Uma lágrima escapa dos seus olhos e ele limpa-a depressa, como se tivesse medo que eu a visse. Os meus olhos estão postos nele neste momento, não sei o que dizer. Okay, ele tentou reverter o que já tinha feito, mas e daí? Não anula o facto de ele ter participado na morte de uma pessoa inocente, desde o início.

"Preciso de tempo." É apenas o que digo e é sincero. Preciso de me afastar para tentar perceber o que vou fazer a seguir. Sinto-me estúpida por sequer considerar aceitar uma coisa destas e é exatamente por isso que preciso de espaço.

"Okay..." Ele assente várias vezes e caminha até à porta.

"Eu não vou ficar aqui." Digo baixo e ele vira à sua cabeça na minha direção, os seus olhos bem abertos.

"Eu não te incomodo, prometo." Ele diz, como se me estivesse a pedir para ficar, mas eu abano a cabeça negativamente.

"Não consigo estar perto de ti neste momento. Pelo menos, respeita isso." Digo. Ele não diz nada, apenas sai da casa de banho e, poucos segundos depois, oiço a porta do seu quarto bater com força.

***

Lauren foi a minha salvação. Há bastante tempo que não estava com ela e, assim que lhe liguei, ela não exitou em ajudar-me. Como da primeira vez, não pude ficar em sua casa, mas o seu irmão está fora da cidade e deixou-me ficar no seu apartamento. Para minha sorte, ele mantém este apartamento aqui, caso aconteça alguma coisa. Acho que nunca lhe vou conseguir agradecer o suficiente, se não fosse ele, ia passar a noite na rua.

Não vejo Logan há mais de uma semana e não tem havido qualquer tipo de tentativa de contacto dele. Agradeço isso e o facto de ele tentar respeitar o meu espaço, mas, no fundo, achei que ele fosse tentar mais afincadamente que eu o perdoasse. Ele está a fazer o que eu lhe pedi e eu devia estar feliz, mas, a verdade é que não estou. Como poderia estar?

Lauren está neste momento comigo, ainda me vai explicando algumas coisas sobre o apartamento do seu irmão. Felizmente ainda cá estão algumas coisas que eu vou definitivamente precisar, mas apenas o suficiente para eu poder dar-lhe o meu toque pessoal.

"Não te esqueças que só podes lavar a roupa no programa mais curto, os outros não funcionam muito bem." Lauren diz apontando para a máquina de lavar e eu assinto.

"Não sei como te agradecer." Digo pela milésima vez e ela revira os olhos em tom de gozo e caminha na minha direção, envolvendo-me num abraço apertado. Tenho que rezar bastante força para não me largar a chorar com o seu aperto, mas consigo controlar-me. Somos interrompidas por alguém a bater à porta de casa e olhamos uma para a outra, confusas.

"Estás à espera de alguém?" Pergunto-lhe e ela abana a cabeça negativamente.

"Tu estás?" Lauren pergunta-me, mas eu digo que não.

Caminho até à porta e espreito pelo pequeno buraco, mas não vejo ninguém. Volto a olhar para Lauren, mais confusa do que antes e ela dás-me um gesto para que eu abra a porta de uma vez. Reviro os olhos à sua pressa, mas obedeço. Assim que tenho visão total para o corredor, a primeira coisa que vejo são os olhos rasgados de Victor e a sua presença intimida-me instantaneamente.

"Temos que falar." Ele diz, o seu tom sério e rude, enquanto passa por mim e se senta no sofá. Olho para Lauren e nenhuma de nós parece encontrar palavras para o que se está a passar. Victor recosta-se no sofá e esboça um sorriso malicioso nos lábios, que faz o meu estômago dar voltas.