Parte 2 - Marco

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Maio 2013

Ainda não consegui combater o vício do jogo, mas já consegui recuperar a minha casa. Continuo a jogar, mas não tanto como antes. Acredito que a conversa que tive com a Nádia e os conselhos que me deu ajudaram-me a descer à terra e a abrir os olhos. A noite que passei com a Nádia foi inesquecível. Acho que nunca me tinha aberto tanto para ninguém e acho que posso dizer o mesmo em relação a ela. Ao contrário do que eu imaginava, ela também não teve uma vida fácil. Depois do que me contou, fiquei a vê-la com outros olhos.

Desde esse dia que nos encontramos no bar quase diariamente. Umas vezes vem sozinha, outras vezes vem com o Fred. Sempre que me vê, faz questão de me cumprimentar e trocar algumas palavras e isso significa bastante para mim. Cada vez que a vejo, o meu dia ganha mais cor. Ela mexe comigo de uma forma que não consigo explicar. Acho que ainda é muito cedo para dizer que estou apaixonado, mas quem sabe.... Sei que estou hipnotizado pelos seus olhos, que são verdes, como os da Jéssica. Sei que fico todo perdido e desorientado quando ela está por peto... Não sei se algum dia vou merecer o seu amor e a sua atenção, ela é boa demais para mim.

No dia em que voltei para o meu apartamento, encontrei a Jéssica à entrada do prédio.

- -Marco? Que fazes aqui? - perguntou ela e era óbvio que não esperava encontrar-me tão cedo.

- Consegui recuperar a minha casa, por isso estou de volta! - respondi e ela ficou surpreendida.

- Como é que arranjaste o dinheiro todo em tão pouco tempo? Quer dizer... não é que seja da minha conta...

- Não, não faz mal.... eu tenho feito horas a mais e tenho ajudado o Xavier com os fornecedores e com a papelada.

Ela pareceu ficar entusiasmada e feliz por mim.

 E paraste de jogar? – perguntou.

- Não, não parei, mas já não jogo tanto como jogava. Ouve Jéssica.... Eu mudei e não quero estar assim contigo.... Lamento que as coisas não tenham resultado...

- Não peças desculpa, Marco, a culpa não foi só tua.... Eu também não sou fácil.... Mas podemos voltar a ser amigos, se quiseres, claro...

- Quero muito!

Abracei-a. Era bom tê-la por perto de novo, sentir que nada tinha mudado. As coisas estavam a compor-se e a voltar, aos poucos, ao normal.


Maio 2013

O Xavier tinha-me dado uma folga no dia a seguir. Disse que eu precisava de descansar e arrumar as malas e por isso não se importava de me dar o dia. Eu agradeci e aproveitei essa manhã para dormir. Depois de tantas noites em claro e a dormir debaixo de uma árvore, sabia bem deitar a cabeça numa almofada e esticar o corpo num colchão. Depois de acordar, bebi um café, comi uma torrada e fiquei a ver televisão durante um tempo. Quando estava a começar a desfazer as malas que tinham a minha roupa, a campainha tocou.

Antes de abrir, olhei pelo óculo para ver quem era. Do outro lado, vi a Nádia e o meu coração quase explodia. Ela estava linda e irresistível. Vestia uma camisola florida com os ombros à mostra, umas calças de ganga justa e umas botas. Tinha o cabelo solto, mas envolvido por um lenço com o mesmo padrão da camisola. Abri a porta, completamente enfeitiçado e tentei manter a postura.

- Nádia! Que surpresa! Que fazes aqui? - eu cumprimentei-a e tentei agir da forma mais natural possível, mas não estava a ser fácil porque respondeu-me com um sorriso estampado no rosto.

- Marco! Eu... eu pedi a tua morada ao Xavier, ele disse-me que te tinha dado o dia e eu... eu decidi vir ajudar. - disse ela, desviando o seu olhar do meu.

- Ah... - eu não sabia o que dizer – Obrigado! Entra, entra, fica à vontade. A minha casa não é muito grande, mas é o que chega para mim.

- Eu gosto! É muito acolhedora e é a tua cara!

- Os seus olhos brilhavam e deixavam-me ansioso, mas ao mesmo tempo com receio. Tinha medo de fazer alguma coisa que a pudesse magoar...

- Eu... obrigado! Posso oferecer-te alguma coisa?

- Pode ser um chá?

- Claro! - enquanto eu fui pôr a água a ferver na chaleira elétrica, ela sentou-se no meu sofá.

Sentei-me ao lado dela, à espera que a água fervesse. Ficámos os dois sentados, um ao lado do outro, a olhar para a televisão que estava desligada e a ouvir a água borbulhar. Acho que se conseguia ouvir o meu coração a bater como um tambor, parecia que ia sair do meu peito.

- Eu... eu estou a trabalhar num quadro que é inspirado em ti.

A voz tremia e as suas mãos também quando ela me mostrou uma foto do quadro. Estava lindo!

- O que achas? - perguntou ela, com uns olhos que me deixam louco.

- Está... está lindo! - respondi eu e ela sorriu.

Eu não resisti e toquei-lhe na cara, afastando os cabelos que tapavam as suas bochechas. Aproximei lentamente a minha cara à dela e os nossos lábios encontraram-se. Foi um beijo intenso e demorado. Ela não recusou nem me fez parar, apenas se deixou levar e só parámos porque ela ficou sem ar. Depois começou a rir-se e tapou a cara com uma almofada para se esconder, mas ela estava toda corada que nem dava para disfarçar. Até fiquei a pensar que tinha feito alguma coisa de errado.

- Estás bem? Fiz alguma coisa de errado?

- Eu... tu... não...

Ela mal conseguia falar e eu mal conseguia entender, por isso afastei a almofada da sua cara e olhou para mim com olhos de cachorrinho abandonado. Só me apetecia guardá-la num potinho e ficar com ela para sempre.

- Não gostaste? – perguntei.

- Gostei, muito... - disse ela, envergonhada – Mas é que... foste o meu primeiro...

- Nunca tinhas beijado ninguém? - ela fez que não com a cabeça - Bem... eu... sinto-me o homem mais sortudo do mundo!

Ao dizer isto, peguei na mão dela, fazendo-a levantar do sofá. Depois, peguei-a ao colo e rodopiei com ela no ar. E desatámos os dois a rir e a gritar e as nossas bocas voltaram a unir-se e a explodir de felicidade.  

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