30º (especial)

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Nunca vou me esquecer da vez em que minha ex-namorada do ensino médio disse-me que precisava terminar pois eu era "perfeito demais"

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Nunca vou me esquecer da vez em que minha ex-namorada do ensino médio disse-me que precisava terminar pois eu era "perfeito demais".

Parece gentil, não? Encerrar um relacionamento com essa espécie de elogio. Porém, desde então não deixo de pensar que, caso eu fosse mesmo perfeito, ela não teria me largado. A verdade é que sempre fiz questão de mostrar meus defeitos, mas as pessoas têm dificuldade em enxergar quem os outros realmente são. Essa garota não tentou ver além de minha carapaça, e acabou por aceitar que namorava apenas o cara certinho da sala, quando eu sou muito mais complexo do que isso (qualquer ser humano é).

Com Penny não foi diferente. Mesmo depois da traição, eu não queria deixá-la ir. Acredito que uma de minhas piores características é a intensidade; quando eu me entrego, dou literalmente tudo de mim. Já quis muito ser como Harry, que não se apegava a nada nem ninguém; vivia como se a única coisa que importasse fosse o seu pleno bem-estar. Eu invejei seu estilo por muito tempo, quis ser leve como ele para assim, quem sabe, não sofrer tanto com meus próprios pensamentos.

Ser "perfeito demais" nunca me levou a nada. Talvez no trabalho isso seja um bom aspecto, mas te garanto que meus funcionários não pensam dessa forma — eu consigo ser um otário quando as coisas não estão do meu jeito. Deve ser por essa razão que optei por me casar com a empresa e deixar de lado tudo o que envolve relacionamento com pessoas reais. Harry e Bobby eram os únicos que eu poderia considerar como "amigos", e nós estamos conectados por negócios. Claro que eu e Styles acabamos aprofundando nossa relação com o passar do tempo, e ainda não sei como ele continuava falando comigo depois de tantas broncas que já levou devido à sua preguiça.

Aquele cara sabia me tirar do sério.

Chloe também era uma boa amiga. Ela não era do tipo que admite o quanto gosta de você ou manda mensagens com frequência, mas também não precisava que fosse. Eu conseguia sentir confiança sem que precisasse haver muito esforço de sua parte. Era algo que ela simplesmente transmitia; algo em seu jeito de ver as coisas a fazia ser compreensiva e incrivelmente amigável.

Passar uma tarde inteira jogando videogames com ela e Harry durante a gravidez foi, sem dúvidas, a prova de que nossas amizades eram as mais improváveis e a mais incríveis que já existiram.

O meu ponto é: de perfeito não tenho nada. Depois de tantos anos tentando entender o que esse conceito de perfeição significava, cheguei à conclusão que ele nem poderia se caracterizar como um conceito realmente, uma vez que não existe. A dramática história de Harry e Chloe é um bom exemplo do quão defeituosos nós somos. A vida apenas pega essas características ruins e joga na nossa cara diariamente.

— Ei, chefe!

Tirei os olhos da prancheta para procurar quem me chamava. Nosso contador havia acabado de deixar o Amnesia e eu tentava entender suas anotações no papel que me entregou — pelo pouco que compreendi, nossa situação estava ótima. Eu não me lembrava a última vez em que tivemos dívidas com a boate ou dor de cabeça com assuntos financeiros.

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