Capítulo 3 - O Dia Seguinte

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att: awnchickens

Mais uma atualização para as três pessoas que leem essa fanfic. Peço desculpas pela demora.

***

Novembro, 2018

Camila

Silêncio. Foi tudo que ouvi quando as portas dos elevadores se abriram e entrei caminhando pelo décimo andar do prédio da polícia de Nova York. A caixa de papelão dos correios embaixo do braço. Os inseparáveis saltos batendo contra o chão. Eu conseguia escutar cada respiração enquanto os olhos se viravam para me observar na passarela de um desfile mórbido.

Era familiar a sensação de entrar em uma sala e notar a conversa morrendo. Mas, em todo esse tempo, eu nunca tinha visto um departamento inteiro se calar ao me ver chegando.

Discussões se silenciaram. Dedos pararam de digitar nos teclados. Até mesmo os detetives sentados na copa pararam de beber a água suja com leve toque de cafeína disponibilizada pelo departamento e ergueram a cabeça.

Ariana se levantou da mesa colocada perfeitamente em frente à minha. Ela abriu a boca, mas eu não tive coragem de parar e conversar com a minha parceira. Zayn e Normani se entreolharam no fundo do escritório, sentados diante dos seus computadores muito mais potentes do que os mundanos usados pelo resto da equipe de homicídios. Até mesmo Ashley, a braço direito de Jauregui, paralisou o que estava fazendo e me encarou com um quê de pena.

Eu odiava pena. Eu tinha aceitado a pena das pessoas por tempo demais.

Tentando manter a minha compostura, decidi seguir em frente, minha atenção fixa na sala com paredes de vidro no fim do corredor de estações de trabalho.

Eu não fazia ideia de como tinha conseguido me acalmar, entrar no carro, e dirigir de casa até o escritório. Eu não fazia ideia de como estava conseguindo caminhar sem tropeçar nos meus próprios pés, sem minhas pernas cederem e meu corpo acabar encolhido em um canto enquanto eu lutava para respirar.

Mas eu tinha certeza que se olhasse para alguém, se me permitisse a chance de conversar com qualquer um dos meus colegas que ao longo dos anos tinham se tornado amigos, a minha pose se desmancharia.

Eu acabaria em prantos como uma imbecil e daria a certeza que Olivia provavelmente estava procurando – eu não conseguia lidar com isso.

Assim que empurrei a porta, a mulher negra se levantou. Mesmo acostumada a frequentar os mesmos ambientes que Olivia, a sua presença era sempre imponente. Ela estava usando o seu terno feminino impecável e a maquiagem leve que amenizava as marcas da sua experiência. A chefe do departamento de homicídios tinha assistido com atenção a minha entrada triunfal, com o queixo erguido e o peito aberto, a encenação perfeita para parecer tão valente quanto metade do mundo pensava que eu era.

As paredes transparentes da sua sala permitiam que ela acompanhasse a movimentação do seu time em ação. Mas, no momento, tudo que Olivia conseguia observar era um escritório inteiro parado, dividido entre sussurros e olhos pregados nas minhas costas.

Olivia apertou um botão ao lado do teclado do seu computador e as persianas se abaixaram automaticamente. A sala ficou um pouco mais escura, mas pelo menos assim eu não me sentia mais um reality show ambulante.

"Você devia ter me ligado. Eu te pedi uma coisa, Cabello, e você não acatou a minha ordem."

Eu sabia que em outro momento aquilo me renderia um esporro. Mas aquela voz sempre guardava mil e uma facetas. Dessa vez, não era a dura e firme de uma comandante. Mas sim a sutil e carinhosa de uma amiga. De alguém que se importava com a Camila pessoa muito antes de se preocupar com a Camila policial.

Fire & BloodWhere stories live. Discover now