Da Boca 『L7NNON』

Capítulo 1

3 meses depois...

Como as coisas mudaram depois da minha conversa com Bebeto...

Primeiramente, irei me apresentar. 

Sou a Lívia, tenho 21 aninhos e moro com minha mãe no Morro da Chapada, uma comunidade em Realengo. 

Desde a separação dos meus pais, nunca mais tive contato com ele, o que até me doía, sempre fomos muito grudados, mas tentava seguir minha vida, ele também nunca me procurou. 

Agora, voltando para minha nova vida, Bebeto me "contratou". 

Visto que eu era a única mulher que trabalhava no meio, ele me deu a função de fazer a contabilidade das bocas.

Ele disse que eu era a pessoa mais inteligente pra isso, mesmo sem entender, aceitei, né?

Todo dia eu passava por todas as bocas da comunidade, recolhendo todo o dinheiro e o entregando logo em seguida.

Eu recolhia o dinheiro e Sorriso, um dos vapores, me acompanhava para entregar o novo lote.

No início foi bem difícil, mas com o tempo foi ficando mais tranquilo. 

Quer dizer, ficou mais tolerável. 

Ainda era estranho andar armada, mas era o que era. 

A parte mais difícil dessa vida foi ver a cara de desgosto da minha mãe quando descobriu. 

Ela chorava e tentava entender o motivo que eu tinha entrado nessa vida. 

Nunca esqueço aquele dia, foi dolorido demais vê-la daquele jeito. Hoje em dia, apesar dela odiar minha função, até tenta me entender. 

Mas uma coisa boa que aconteceu desde que cheguei aqui foi conhecer Lennon. 

Ele era um rapaz que trombei logo no início. 

O mais velho era uma das pessoas que mais me fazia dar risada. 

Todo dia eu almoçava na lojinha do seu Zé, como hoje, e quase todo dia ele aparecia por lá, como agora. 

-Lili, boa tarde. -Ele sorriu. 

Sorriso que abalava minhas estruturas. 

-Boa tarde, Lele. -Brinquei sorrindo. 

Eu o observava enquanto ele fazia sua compra, mas o menino me pegou bem no flagra. 

-Seu Zé, me dá um pouco de água, a dona ali me secou tanto que desidratei. -Ele falou me olhando. 

-Deixa de ser palhaço, garoto. -Joguei um papel nele. 

-Tá vendo? Me agredindo. -Ele balançou a cabeça. -A vida dá dessas... 

-Dormiu com algum palhaço, Lennon? -Me levantei levando a louça que almocei para seu Zé, que dava risada da nossa implicância. 

-Vou nem te responder, bebê. -Fez careca. 

-Vocês são engraçados. -Seu Zé riu. -Fazem meu dia mais feliz. 

-Que isso, a gente é assim mesmo. -Falei. -Faremos isso mais vezes, não é, Lele? 

O rapaz assentiu enquanto me encarava sorrindo. 

Mas nosso momento foi desfeito quando ouvi meu radinho dar sinal de vida. 

Os três desfizeram o sorriso, mas atendi o rádio. 

 -Manda. -Falei assim atendi, em seguida, vi o maxilar de Lennon trincar e ele se despediu de seu Zé, indo embora rapidamente.