19. A música diz: O que morreu não está morto.

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#MorceguinhoCerejinha

Você desenhou estrelas ao redor de minhas cicatrizes, mas agora eu estou sangrando.

Quando pequeno eu tinha o hábito de ir ao cemitério.

De meus sete aos dezessete anos eu perdi alguns de meus parentes. Isso ia de tias por parte de mãe até minha avó por parte de pai, todos, em algum fatídico momento, faleceram. Restam alguns, claro, familiares distantes. É como se não estivessem aqui, em exceção de tia Rebekah, irmã de meu pai.

Minha mãe sempre teve como costume visitar qualquer ente querido, então levava consigo Jihyun e eu ao cemitério da cidade. Por distração e falta de ânimo em estar naquele lugar, no entanto, habituado e não sentindo emoção alguma, eu levava comigo um caderno de desenho. Desenhava túmulos, dos mais belos aos mais deploráveis.

Vez ou outra alguma pessoa depredava algo, então eu desenhava seu atual estado, quando retornava e via que tinham consertado, desenhava o novo.

Cômico, para não ser trágico.

Mantenho boas lembranças de cada uma de minhas idas, e não faz tanto tempo assim que deixei de ir. Houve a morte de meu pai, motivo: leucemia.

As visitas diminuíram, em nome do amor que eu sentia por ele, eu me via programado a não visitá-lo, a não ser que a saudade fosse tão grande que me levaria a ficar um bom tempo olhando para sua lápide, suspirando em sua falta, mas aliviado por seu descanso. Ele foi muito bom para a nossa família, contudo, eu sabia que agora ele poderia ser ainda melhor onde quer que ele possa estar.

Quando me recordo de nossas idas a enterros, missas ou meras aparições pelo dia de finados, eu tenho em mente meu caderno de desenho, não houve um dia em que eu não o tivesse levado comigo, mesmo tendo minha mãe resmungando sobre minha falta de consideração para com os mortos.

Mortos que são mortos entendem que você não deve temê-los, eu fiz homenagens em desenhos. Tenho passagem livre.

O ponto é; hoje eu acordei cedo, sentindo-me estranhamente normal após uma noite tão conturbada como a de ontem. Chupa-cu, Rosie sendo pega por ele, Hoseok e eu nos tornando suas próximas vitimas e, Dândi e Yoongi matando-o, deixaram minha cabeça um pouco avoada; eu deveria estar em pânico, mas não estou.

Eu despertei sozinho, como de costume. Nunca sei se Jeon dorme comigo, tudo o que sei é que quando a manhã chega, eu tenho a mim mesmo e nada além. Em exceção da noite em sua cobertura, claro.

Antes de partir, o italiano deixou um bilhete para mim: "Chéri, o seu fuckboy favorito está atolado de serviços na Rock. Desejo-lhe um agradável dia, cuide-se. Sem pressão, mas estarei de volta à noite, você deveria passá-la comigo. Frisando que é sem pressão, haha".

Agora, eu me via sentado no chão, ajeitando a bagunça em meu quarto. Eu só poderia sair se deixasse tudo nos trinques. Encarava o caderno de desenho e o bilhete deixado por JK, logo ao ladinho do último desenho que eu fiz quando fui ao cemitério pela última vez; quatro meses atrás.

Ao lado dele há outro, eu ganhei de presente de um rapaz. É engraçado pensar que desde que eu me entendo por gente, esse homem frequentava o mesmo cemitério que eu, me viu crescer, desenhar túmulos e, no final, me presenteou com um desenho.

Pego o papel, encarando o túmulo feito em rabiscos. Nunca superei o quão bem ele desenha, também nunca superei não saber nada além de seu nome, não sei de onde ele é ou qualquer informação segura. Somente sei que ele me viu crescer, nos falamos algumas vezes, em todas quando eu estava sozinho, desenhando. Ele se aproximava calmamente, perguntava como eu estava, elogiava meus desenhos e me observava com cuidado.

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