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BEATRIZ 🍄

Primeira semana de fevereiro, infelizmente ou felizmente, a tão aguardada e desanimante "volta as aulas". O último ano do ensino médio, o tão sonhando último ano, o desejo com todas as minhas forças desde que eu me entendo por gente, mas agora que estou tão perto de me formar, sinto uma pequena pontada no peito, uma dorzinha por saber que não vou mais voltar a escola.

Não quero dizer que vou sentir falta da escola em si, mas sim dos meus amigos, doi saber que não vou mais ter eles na hora do almoço, que não vou mais rir das suas piadas sem graça, que as minha manhãs se tornarão extremamente chatas.

De toda a escola, só vou sentir falta dos meus amigos, até porque passei os piores anos da minha vida na escola, as pessoas são tóxicas, mal educadas e não se importam se as palavras delas vão te ferir.

A parte ruim de estudar em uma escola cercada de gente rica, é a parte em que eles fazem o possível para fazer com que você se sinta diferente, inferior, e as vezes fazem com que se questione se você realmente cabe no mesmo lugar que eles.

Não cheguei nessa escola pela minha condição financeira, pelo contrário, se dependesse disso eu nunca chegaria nem mesmo na portaria. Essa escola tem um projeto, todo ano oferecem duas bolsas de estudos para os alunos do fundamental que estão indo para o ensino médio. São selecionadas as duas melhores notas em uma prova feita por eles. E bom, eu tive a sorte de tirar a maior nota dentre tantos alunos e hoje estou aqui.

Foi incrível para mim, uma garota tão pobre conseguir algo tão grandioso. Estudar nessa escola e receber a educação que eu recebo é a minha maior chance de vitória. Não venho de uma família que pode me pagar uma faculdade, então nessa escola tenho a preparação e ensinamentos necessários para me dedicar a conseguir uma bolsa de estudos e me formar na minha profissão dos sonhos.

Direito. Parece algo tão inalcançável para alguém como eu, mas jamais deixo de sonhar com isso desde que sou uma criança.

Inclinei o pescoço para olhar dentro da escola, nunca muda nada por aqui, é sempre a mesma coisa, mesma cor, as mesmas plantinhas em um canto qualquer, algumas placas com frases motivacionais, bem limpinha e organizada.

O bullying que alguns ricos fazem com pessoas como eu é tão real. E a primeira pessoa a zombar de mim pela minha roupa inferior a dela estava ali, desfilando pela escola. Os fios loiros e hidratados de Daniele voavam enquanto o vento batia no seu rosto. Não dá para negar, ela é linda. A típica garota loira e rica, não tão inteligente mas com dinheiro suficiente para não se preocupar se sabe somar dois mais dois.

Caminhei para dentro da escola, andando devagar e tendo a sensação do último primeiro dia de aula. Fiz algo que nunca havia feito antes, comecei a analisar os estudantes.

Os grupos são bem divididos por aqui, geralmente os que se empenham em estudar não querem ficar perto dos garotos do time por exemplo, que as vezes dão a impressão de que só querem vir para a escola atrás de diversão, os jogos e as garotas.

Do lado da quadra de esportes ficavam amontoados os garotos do time de futebol. Todos parecem iguais. Próximo a eles tinham a maior partes das garotas da escola. Sempre se insinuando, e gritando histericamente.

Sorri quando notei uma mesa cheia de pessoas com cadernos na mão, conversando eufóricos enquanto apontavam para algo em seus livros. Com certeza, esses são os que se dedicam de fato aos estudos.

Um pouco mais afastado de tudo e todos tinha Leonardo, encostado na parede branca com o seu cigarro entre os dedos, algo que já se tornou sua marca Registrada, o fumante que se isola de tudo, se chegasse um pouco perto conseguiria ver suas tatuagens, quase nunca vistas já que sua jaqueta de couro se encarrega de escondê-las. Ele não é o tipo de pessoa que se inturma, dificilmente é visto conversando com alguém.

Só por uma noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora