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BEATRIZ 🍄

Depois de mais de vinte minutos pedalando a minha bicicleta, eu já não aguentava a dor nas pernas, a sede e o cansaço. o sol estava tão quente e me deixava ainda mais exausta. Estava quase me dando por vencida quando avistei a minha casa na esquina. De longe se via o quão simples somos. É uma casa de dois andares, mas a parte de cima está longe de estar pronta. É uma casa inacabada, não tem pintura, podemos ver os tijolos amarelos de longe, sem muro, apenas um cercado baixo e um velho portão.

Tento plantar algumas flores para deixar ela mais agradável aos olhos, mas meu pai insiste em chegar com qualquer coisa velha e jogar encima delas. As vezes, acho que ele simplesmente faz essas coisas por não dar a mínima para nada, ou já faz com o intuito de me ferir.

Coloquei a bicicleta na varanda de fora, não posso bobear e deixar ela na rua, isso é pedir para ser roubada.

Típico bairro brasileiro.

Entrei em casa e agradeci pelo silêncio. me dei conta de que meu pai não estava em casa e eu estava grata por isso. Cada minuto longe dele é um momento glorioso para mim.

Tomei um banho relaxante e vesti minha camisa da seleção brasileira e um short preto molinho, bem confortável, essa roupa já virou meu uniforme semanal.

Me joguei na cama sentindo o cheiro gostoso do amaciante na minha roupa de cama, lavei tudo ontem de manhã, não a nada melhor do que deitar em uma cama limpa e cheirosa, é como se você reiniciasse o sistema do seu corpo, se levantasse sendo outra pessoa.

-mas o que é isso? - me levantei rápido vendo que tinha alguém acertando coisas na minha janela, abri ela violentamente e me deparei com o Davi me olhando com um sorriso sapeca - você está acertando pedras na minha janela Garoto?

Ele se aproximou sorrindo, como se não tivesse feito nada demais, uma mão ele colocou na minha bochecha, com a outra ele apertava a alça de uma sacola branca com força.

-Oi para você também minha gata - Então eu sou a gata de alguém? - Eu vim te trazer esse delicioso picolé de chocolate, para adoçar a vida e deixar esse seu mal humor de lado.

Me afastei da janela dando espaço para que ele pulasse para dentro. Fui até a porta do meu quarto e tranquei, não quero nem imaginar a reação do meu pai se ver o Davi aqui no meu quarto. Ele não gosta muito do garoto e poderia o tratar mal.

O Garotinho de cabelos cacheados passou por mim como se fosse o dono da casa, se jogou na minha cama enquanto devorava o seu picolé de morango.

-O seu pai vai demorar a chegar não vai? - concordei e peguei o meu picolé da sua mão, me sentando ao seu lado - Eu não gosto dele, por isso vim agora, porque eu sabia que ele estaria trabalhando.

Davi odeia meu pai. Ele sabe de algumas coisas a seu respeito, então isso desencadeou um ódio profundo por ele.

E o ódio é gratuito, meu pai não gosta dele por causa da sua língua afiada, sempre com uma reposta pronta para tudo.

-Ele vai chegar depois das quatro - Joguei a embalagem do picolé no lixo do quarto, voltei minha atenção para ele que parecia estar perdidinho nos seus pensamentos - Está pensando em que?

-Estou bravo - me olhou fazendo careta, me sentei ao seu lado esperando que ele me contasse o motivo de toda essa cara feia - ontem a noite eu ouvi você gritar, eu tentei vir te ajudar, mas minha vó não deixou e eu fiquei muito triste, agora eu acho que entendi, ele te bateu outra vez não bateu?

As palavras simplesmente sumiram, eu não tinha resposta para essa pergunta.

Davi é um garotinho de nove anos, muito inteligente e maduro para a sua idade, as vezes eu esqueço que ele é só uma criança e desabafo com ele, conto todos os meus problemas, o Rapazinho vem todo cheio de conselhos como se fosse gente grande.

Só por uma noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora