DEZOITO

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Juliette Freire.

Controlei-me para não chorar, mas a imagem de Bil veio vivida em minha mente. O desespero dele ao saber da doença, a perda dos movimentos das pernas e depois dos braços, a raiva dele.

Fora um alívio para ele começar a perder a consciência do que o cercava, pois ele não se conformava com aquela doença. Havia se tornado amargo e raivoso, com ódio de depender de mim para tudo. Foram momentos horríveis, tanto para mim, que me desdobrava tentando fazer o melhor por ele e cuidar da nossa filha recém-nascida, quanto pra ele.

Bil teve que suportar dores, desespero, raiva, revolta. Principalmente ao saber que não havia cura e que ele pioraria cada vez mais.

Não conversamos durante o resto do caminho. A festa se realizaria em uma boate privativa e luxuosa, que também pertencia a Sarah. Chegando lá fomos recebidas pelos guardadores de carros e logo ela apoiava a mão em minhas costas e me acompanhava ao interior da boate.

Era grande, linda, cercada por plantas exóticas do lado de fora e por vidros dourados. Lá dentro a penumbra era quebrada por jogos de luzes suaves, que iluminavam o amplo salão. Estava lotado. As pessoas bem vestidas espalhavam-se pelas mesas, pelo salão e pela grande pista de dança.

Uma música animada tocava. Garçons impecáveis circulavam entre os convidados, servindo champanhe e drinques, além de elaborados petiscos.

Senti-me um peixe fora d'água ali. Nunca fui de frequentar boates, nem quando Bil estava bem de vida e vivia na farra. Agora então, aquilo parecia outro mundo para mim.

Várias pessoas cumprimentavam Sarah e me olhavam com curiosidade. Ela acenava com a cabeça, mas não parava, levando-me mais para o centro do salão.

- Até que enfim! - Uma mulher muito alta e elegante parou a nossa frente, parecendo aliviada. - Já estava desesperada, Sarah! A nossa estrela já perguntou mil vezes se você já tinha chegado! Não sabia mais o que fazer para entretê-la.

Enquanto falava, ela me olhou de cima abaixo, depois fez pouco caso. Parecia que eu era só um enfeite ali.

- Falarei com ela.

- Ótimo. O João também está te procurando e...

- Certo. Acabei de chegar. Vou ter tempo para falar com todo mundo.

- Claro, Sarah. Ah, só mais uma coisa! - Sarah pareceu um pouco incomodada ao fitá-la. - Não sei como, mas a... - Fez um olhar cúmplice com Sarah. - Ela deve ter vindo como acompanhante de alguém. Sinto muito.

Olhei curiosa para ela, que apertou a boca com desagrado, mas não disse nada. A moça suspirou e se afastou.

- A uma mesa reservada para nós. Vamos até lá. - Disse Sarah, perto do meu ouvido.

Seguimos em frente, mas fomos abordadas por várias pessoas. Fiquei surpresa por ver tanta gente famosa ali, tão de perto, fazendo questão de vir abraçar Sarah. Alguns pareciam velhos amigos dela. Mal podia acreditar que eu apertava as mãos daqueles artistas, a maioria cantores.

Mas lá estava eu, inibida e surpresa. Alguns mal prestaram atenção em mim, na certa acostumados a ver Sarah sempre na companhia de uma mulher diferente. Outros me olhavam com curiosidade. Vários homens fitaram-me com admiração e foram charmosos, várias mulheres me olhavam atentamente, umas até com desejo estampado em seus rostos, já outras me examinaram como se eu fosse uma barata. Algumas eram melosas e oferecidas perto da Sarah, como se eu nem estivesse ali.

A estrela da noite era Kehlani Ashley, uma cantora que há mais de dois anos não saía da lista das músicas mais tocadas, aparecia sempre na televisão e era um sucesso de público e vendas. Pelo que pude entender, ela havia assinado contrato para fazer shows em alguns estabelecimentos da Sarah em Los Angeles e em Nova York e aquela era uma noite de comemoração de divulgação.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora