40_ Orgulho.

132K 13.3K 14.9K
                                    

Rain Miller

Eu não consigo respirar.

Eu me sinto presa.

Era pra ser a droga de um fim de semana e agora já é terça-feira, tudo porquê o carro do meu pai avariou e o carro da minha mãe tá em outra cidade.

Eu nunca desejei tanto ter um terraço pra subir ou um Marcus pra encontrar.

Olhei debaixo da minha cama, realmente considerando fazer as mesmas coisas baixas que eu fazia antes de entrar pro colégio interno.

Puxei a caixa que eu costumava guardar as substâncias e abri a mesma.

Eu não encontrei nada.

Não tinha nada naquela caixa.

Me levantei em choque e comecei a vasculhar as minhas gavetas, procurando desesperada por alguma coisa.

Nada.

Eles tiraram tudo do meu quarto.

Caminhei até o meu guarda roupas, completamente frustrada. Puxei uma roupa qualquer e vesti. Enviei uma mensagem para a minha amiga, avisando que não importa qual festa fosse e nem aonde fosse, eu já estava lá.

Olhei para a hora e suspirei.

14:14.

Me preparei pra pular a janela do meu quarto e quando eu pulei, a porta do meu quarto se abriu, revelando o meu pai, com um sorriso no rosto e um bolo gigante de chocolate nas mãos.

Eu gritei desesperada sentindo a minha mão escorregar da janela e me fazendo cair pra trás.

Lição número seis: Não tente fugir de casa, principalmente se você vive em um apartamento no sexto andar.

Eu consegui me segurar na corda que sempre me ajudava a fugir e vi o meu pai correr até a janela desesperado.

Pelo menos se você não tem tanta sorte como eu.

O rosto assustado do meu pai se transformou em raiva.

Ele me ajudou na força do ódio, a entrar pela janela, e só então, eu vi que o prato com o bolo que o meu pai carregava, no chão, em pedaços e sujando tudo em volta.

- QUE MERDA VOCÊ TINHA NA CABEÇA QUANDO TENTOU FAZER ISSO? - Perguntou ele irritado.

Mais uma vez, abaixem o volume, vai ter realmente muita gritaria.

- Vocês vasculharam o meu quarto e tiraram as minhas coisas? - Perguntei com um olhar mortal pra ele.

- Você quer dizer as drogas? - Zombou com ódio e eu mantive o meu olhar mortal nele. - Vai me dizer que você também quer morrer de overdose? Vai seguir o exemplo do seu irmão?

- Qual é a merda do seu problema? - Perguntei chocada com o seu comentário.

A minha mãe apareceu na porta do meu quarto completamente assustada e suja de farinha.

Os meus pais sempre foram péssimos cozinhando, mas eles adoravam fazer bolos.

Eu lembro que sempre que o Lorenzo conquistava uma coisa, eles faziam um bolo de morango.

Eu nunca recebi um bolo, pelo menos até hoje.

E agora, esse bolo, tá imitando o Bolsonaro no chão.

- O meu problema? - Riu o meu pai. - Você tentou fugir de casa, pela janela. Você podia ter morrido, Rain. Que droga! - Continuou o meu pai e então eu notei o desespero no seu olhar.

O mesmo desespero que eu vi nos olhos dele na noite que o Lorenzo saiu junto das ambulâncias e não voltou.

- Por que você tem essa droga de comportamento? O que tem de errado com você? - Questionou frustrado.

- Finalmente achou a sua personalidade de merda em mim? - Ri sentindo os meus olhos queimarem.

- Você é uma abominação. - Insultou.

- A gente é. - Devolvi o insulto. - A nossa personalidade é.

- Você nunca me deu orgulho nenhum, você nunca nos deu orgulho nenhum.

- Válter. - Chamou a minha mãe em um tom de aviso que ele tava passando dos limites.

- Eu nunca tentei te dar orgulho nenhum, e mesmo se eu tentasse, vocês são tão sufocantes que eu não conseguiria.

O meu pai de repente parecia furioso, ele sempre teve problemas em controlar a raiva, mas o olhar dele, agora, parecia me assassinar.

- Você deveria ter morrido no lugar dele, seria muito melhor. - Soltou com dor e raiva na voz.

Aquilo, foi com certeza, a gota de água que me fez explodir.

- VÁLTER! - Gritou a minha mãe em choque.

- QUE TIPO DE PAI É VOCÊ? QUE TIPO DE PAI FALA UMA COISA DESSAS PARA A PRÓPRIA FILHA? Eu tenho aguentado anos, eu tenho aguentado todo mundo me culpando pela morte do Lorenzo, eu tenho aguentado e segurado essa mentira por alguém que NEM AQUI ESTÁ MAIS. - Gritei me aproximando cada vez mais do meu pai que tinha os olhos arregalados.

- Rain. - Tentou chamar a minha mãe com a voz firme.

- VOCÊ QUER SABER A VERDADE? - Forcei um sorriso. - Ele se matou. Ele se drogou tanto, ao ponto de ter aquela overdose. Porquê ele simplesmente não conseguia mais aguentar, ele não conseguia aguentar vocês, ele não conseguia mais me aguentar, ele não conseguia mais aguentar nem respirar. Essa é a porra da verdade.

Eu encarei os rostos chocados da minha mãe e do meu pai antes de continuar.

- E eu tinha TANTO MEDO, eu realmente tinha tanto medo de estragar o jeito que vocês olhavam pra ele que eu simplesmente menti. O Lorenzo nunca foi perfeito, ele só sabia esconder direito as merdas dele. EU DEIXEI VOCÊS ME CULPAREM PELA MORTE DO MEU PRÓPRIO IRMÃO. Eu fiz vocês me odiarem, só pra vocês não deixarem de amar ele. Eu preferi assistir o desprezo dos meus pais contra mim, do que assistir vocês odiarem ou saberem a verdade sobre ele.

Respirei fundo.

- E agora, me falem, vocês têm orgulho da porra da filha que vocês têm?

continua...

O Colégio InternoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora