Juliette Freire.
Eu evitei responder as perguntas da Carla. Ela percebia que eu não estava bem, comentando meu abatimento e palidez. Mas eu desconversava. Pela primeira vez não desabafei com ela e nem contei o que me preocupava. Tinha vergonha que ela soubesse o modo humilhante e violento com que eu fora tratada.
Há quase três dias eu não via e nem falava com Sarah. Desde quarta-feira de manhã bem cedo, quando ela bateu na porta do banheiro avisando que Rodolffo me levaria para casa com Cecile. Sim, eu tinha passado a noite no banheiro aquele dia. Foi incrivelmente fria. Eu saí de lá humilhada e dolorida, com um ódio imenso dela. Passei aqueles dias apavorada, com medo que ela me chamasse e me machucasse novamente.
...
Era impossível comparar aquela Sarah bruta e violenta com a mulher que me deu tanto prazer todo esse tempo. Mas ela era a mesma mulher fria e que me desprezava.
Na madrugada de sexta para sábado eu dispensei Mary.
Dormia em meu colchonete, por volta das quatro horas da manhã, quando eu acordei com a voz baixa e fraca de Bil a me chamar. Levantei em um pulo, olhando-o. Meus olhos encheram-se de lágrimas ao fitar os seus, embaçados e foscos.
- Babe?
- Sim, meu amor. Sou eu.
Segurei carinhosamente a sua mão fria e inerte e beijei-a.
- Estou aqui.
- Não consigo... Me mexer.
Notei que ele estava consciente da realidade que o cercava. Há muito tempo isso não acontecia e um medo atroz me dominou. Lembrei que os médicos haviam dito que ele teria uma melhora relativa antes de falecer, recobrando a consciência.
- Sente dor?
- Não.
- Sede? Eu...
- Não. Não consigo te ver direito.
Seus olhos sem vida tentavam se fixar em mim. Percebi o desespero em seu rosto.
- Acabou, não é? Eu cheguei ao fim.
- Não! Você está aqui comigo! Vivo!
- Isso não é vida. - Sua voz era muito fraca e baixa. - Não posso nem tocar em você. Não posso mais nada. Acabe com isso, por favor. Acabe com o meu sofrimento.
Fiquei muda e surpresa, fitando-o. Ele foi mais explícito:
- Deixe-me morrer, Juliette. Ninguém vai saber, por favor, estou implorando. Você pode fazer isso.
- Não! Bil... Não! Eu não posso perder você. - Falei horrorizada, começando a chorar. - Nunca! Acha que eu poderia matar você?
- Eu já estou morto. Por favor, agora...
- Não! Vou cuidar de você, Bil. Farei de tudo para que não sinta dor e não volte para o hospital. Mas não me peça para ser a sua assassina. Isso nunca. Vamos esperar a hora que Deus quiser.
Apesar de seus olhos meio paralisados e de sua fraqueza, percebi sua expressão de raiva. Por um momento eu me lembrei que ele costumava ficar assim quando se sentia contrariado. Sempre fora mimado e voluntarioso, pois gostava que tudo fosse feito do seu jeito.
- Você é uma egoísta! Esperar a vontade de Deus! Essa é boa! Diz isso porque não é você nessa cama! Merda, não posso nem me mexer! Quando fiquei assim? Não consigo me lembrar.
- Bil... Não diz isso...
- Você sempre me amou. Sempre acabava fazendo tudo o que eu queria. Eu quero morrer, Juliette. Me ajuda agora.
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CHANTAGEM - SARIETTE
RomanceJuliette encontrará o ódio e o amor na figura de uma mulher do passado.