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BEATRIZ 🍄

Entrei em casa com calma tentando fazer o mínimo possível de barulho, o que era impossível já que a porta de madeira faz um barulho alto de lata velha. A qualquer momento meu pai vai aparecer aqui na minha frente e vai me encher de perguntas que não sei se sou capaz de responder.

Talvez eu escape das suas perguntas se eu correr para o banheiro e fingir uma dor de barriga.

—Beatriz.

Tarde demais para fingir uma dor de barriga daquelas que te prendem no banheiro por no mínimo uma hora.

—Oi pai — sorri falsa.

O barrigudinho me olhava sério com as mãos na cintura, talvez pensando no sermão que vai me dar.

—Você está me dando todos os motivos para não deixar você sair outra vez Beatriz — Disse sério — Combinamos um horário e você chegou tempos depois, eu espero que você tenha uma boa explicação.

Agora é a hora que eu invento uma mentira tão cabeluda quanto a barriga do meu vizinho cachaceiro.

—Então pai, imprevistos acontecem não é mesmo? — sorri nervosa — Vou te contar o que aconteceu, a vó da Viviane gostou muito de mim e insistiu para que eu comesse um bolo que demorou para ficar pronto.

A vó da Viviane deve estar se remexendo no túmulo, sim, ela morreu.

—É mesmo? — Me olhou desconfiado.

—sim, ela é bem velhinha sabe? E eu gostei muito dela e o sentimento foi recíproco.

Meu Deus, que a Dona vó da Viviane não apareça para me assombrar.

—Quem é aquele que te trouxe?

—Meu amigo, ele é gay — falei a primeira coisa que veio na minha mente — Eu estou falando que ele é gay, porque ele é muito engraçado e você iria gostar muito dele.

Meu pai me olhava confuso, eu estava toda embolada com as palavras, estava falando compulsivamente, sim, eu começo a falar sem parar quando estou nervosa e isso não é bom, as vezes as pessoas acham que sou louca.

—Não esqueci da minha lasanha — Apontou — E nem mesmo da coca gelada.

Algo passou pela minha cabeça, meu pai está sendo muito bom para mim, atencioso demais, preocupado demais, tranquilo até demais. Eu tenho uma leve dificuldade de confiar nas pessoas e essa mudança repentina do meu pai é muito estranha.

—O que está acontecendo com você?

—Como assim? — me olhou confuso.

Me sentei ao lado dele no sofá, o mesmo devorava uma coxa enorme de frango, dificilmente iria ver o meu pai em frente a televisão sem um pedaço de frango na mão.

—Você mudou muito — O mesmo ainda me olhava confuso — Não grita mais comigo, está mais atencioso e não bebe a dias, seu comportamento mudou do nada.

—Onde você quer chegar com isso?

—Eu só quero saber o porque, a anos eu te peço para parar de beber e mudar o comportamento comigo, mas nada nunca melhorou. Por que agora?

Meu pai se levantou com o osso de frango na mão e caminhou para a cozinha. Mas se ele acha que eu vou deixar isso de lado, eu não vou mesmo. Segui ele até a cozinha, o mesmo jogou o osso fora e lavou a mão me olhando de cara feia.

—Você não tem mais o que fazer não criatura? — Bufou.

—Sim, ouvir o que você tem para dizer — sorri — Sabe seu armando, eu te conheço muito bem e sei que você está me escondendo alguma coisa.

Só por uma noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora