capítulo 2

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São quase seis horas da tarde. As malas estão distribuídas sobre a cama. É a primeira vez que levo muita coisa para a escola. À medida que adiciono as roupas que minha mãe pediu que comprassem, percebo que sempre irei precisar do auxílio de mais uma mala. Eu gastei metade do meu tempo, dobrando e organizando essas roupas.

Com dificuldade consigo fechar a terceira mala. Ótimo. Por sorte, a maior parte das minhas coisas já estão na escola. O que tenho aqui, são só alguns novos livros que li durante o verão. O meu quarto está tão vazio quanto a biblioteca da escola nos finais de semana. Mas para um quarto quase vazio, está uma bagunça. Talvez eu devesse arrumá-lo antes de ir...

Ir para um internato, poderia ser considerado indistinto  para a maioria das pessoas de fato, mas não para mim. Honestamente dizendo, a razão para que portem esse pensamento, de que colégios internos tratam- se de prisões, aonde os alunos só possuem tempo para estudar e nada mais, é a inexistência de averiguação.

Poderia afirmar com total certeza, que alunos de colégios internos possuem tempo suficiente para cumprirem suas vontades.

Estudar em um internato, é o lugar ideal para provar o sabor e a euforia da liberdade. Muitas pessoas abusam disso. Obviamente.

Como por exemplo; festas durante finais de semana, bebidas, sexo e em momentos ilícitos, drogas. Era o ambiente perfeito, para filhos mimados de pessoas ricas que não vêem propósito algum em sua vidas fúteis e arbitrárias. É claro, desde que você não seja pego quebrando as regras.

Para mim, o Havey Khai adequa-se ao meu lugar de paz. Na maior parte do tempo, permaço em meu quarto ou na extensa biblioteca. Sem críticas diárias, sem pessoas me dizendo o que tenho que vestir ou fazer, essa é a melhor parte de morar em um internato.

Aquele era um novo ano. Eu estou mais que disposta em conseguir a medalha de ouro e lavar o prêmio de melhor aluna do ano. Meu desempenho no ano passado havia se rebaixado, graças a aluna nova. Nossas notas eram sempre as mesmas, nunca atrás, nem na frente uma da outra.

Mas a medalha foi conquistada por ela, graças às suas ações voluntárias para a escola. Esse ano, seria diferente. Eu iria ganhar, eu iria conseguir a medalha de melhor aluna, e não importaria o que tivesse que fazer para recuperá-la.

Visto-me com uma calça jeans, com alguns rasgos nos joelhos, mas nada muito chamativo e por fim um moletom, para me aquecer durante a viagem. Apesar de estar no auge do verão, na nossa região é comum fazer frio. Principalmente durante a noite.

O motorista despeja as malas no porta- malas, enquanto Madson faz tranças em meu cabelo.

— Está muito danificado por conta da tinta. Se quer ter cabelo colorido, faça o favor a si mesma, e cuide dele, para que não fique tão quebrado assim. — ela puxa uma mecha.

— Ai —reclamo.

— Como deixou chegar a essa situação? Olha só como ele está sem vida! — continua com suas reclamações.

Madson odeia desordem, e quando notou  o estado que se encontrava meu cabelo, ordenou que trouxessem elásticos, na falsa ilusão de esconder as pontas duplas.

Aprecio sua apreensão comigo. Por ser a filha mais nova, Antonnie, sempre desejou me manter excluída das brincadeiras, no entanto, Madson nunca deixava que isso acontecesse.

Quando brincávamos de casinha, ela sempre pedia que eu a chamasse de "mamãe", mas com o tempo, eu de fato a enxergava como uma figura materna.

Quando foi enviada para o colégio aonde passou o fundamental, tive que me virar sozinha. Tive que me acostumar a estar sozinha. Foi nessa época que aprendi a gostar de minha própria companhia. No começo foi difícil, eu não sabia como lidar com o silêncio externo e o barulho interno de meus pensamentos, mas como sempre eu me adaptei a situação.

A última noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora