5 - Inimigos Amigos

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  - Tae! - Gritei tentando chamar a atenção dele - Tae por favor...!
  Mal pude me encolher com a dor das primeiras pancadas e recebi outras, o punho dele fechado veio de encontro ao meu rosto, rolamos no chão, eu tentei sair por cima agarrando seus antebraços com toda força para tentar lhe conter, mas ele era ágil demais, se desvencilhava, quando enfim voltou para cima de mim, eu estava com as pernas envoltas em seu quadril, fazendo o máximo de esforço para afasta-lo mesmo rendida, o que restou dos meus cabelos cortados estavam nos meus olhos agora. Bagunçados e molhados do meu suor frio.
  - Fala agora onde você deixou a Mallya pra morrer sua desgraçada! Você jamais se importou com ela! Agora estão todos mortos por sua causa sua vagabunda!
  Arregalei os olhos com a fala dele, então era nisso que ele estava acreditando, talvez fosse com isso que estivesse sonhando no coma induzido. Talvez a culpa fosse toda minha mesmo, mas a Mallya não estava morta, não enquanto eu estava viva aqui pra lutar por ela.
  - Tae! Tae não é assim que aconteceu..! - Ele nem me deixou terminar e senti seus dedos apertando a minha garganta. Arquejei e tentei alcançar seu rosto com as unhas numa falha tentativa. Ele estava me esganando. Os olhos dele repletos pelo mais puro ódio, até que as lágrimas começaram a escorrer por suas maçãs do rosto.
  Eu estava ficando sem ar.
  - Ela era tudo que eu mais amava sua desgraçada sem coração, como você pode fazer isso?!!
  - T- TAE! - A voz falhou, seus dedos ossudos estavam esmagando minha traquéia, comecei a esperniar em agonia, tentando arranhar seu rosto, ou soca-lo qualquer coisa que o fizesse me soltar - T-tae...
  Tentei puxar ar, aos poucos ele ia se esvaindo, meus braços já estavam ficando sem forças pra arranhar ou tentar empurrar ele. Perdi a paciência, ele não ia me ouvir na paz. Estava dominado por fúria demais para isso.
  Dei um impulso em seu braço direito, voltando o mesmo para dentro e segundos depois foi possível escutar o crac, e então Tae caiu para trás gritando. Acho que tinha quebrado seu braço com tanta força que ele grunhiu e me soltou, caindo para trás agarrando seu pobre membro com toda dor possível. E eu me rastejei tentando me afastar dele.
  - Volta aqui! Sua maldita! - Tae que já havia se recuperado do primeiro estágio de dor, agora tinha agarrado meu pé com a mão esquerda, dei um chute em seu rosto, marcando cada traço angelical com o meu coturno e me rastejei para mais longe, tocindo. Quando olhei para ele novamente, em seus olhos vi a raiva que sentia de mim, junto com o sangue que estava escorrendo pelo canto de sua boca. É ele tinha se machucado também.
  - Deixa de ser imbecil! Eu tô aqui pra resgatar ela também, eu vim aqui por vocês! - Rosnei fitando ele com raiva e bati a mão no peito cuspindo ódio.
  - Eu não acredito em você! - Ele riu com deboche, limpando o canto da boca com as costas da mão, só serviu para espalhar ainda mais o sangue. Se Mallya estivesse aqui teria adorado aquela cena, ele tinha ficado muito charmoso, mas a única coisa que eu conseguia sentir por ele naquele momento era raiva. Raiva por mim tê-lo soltado, e raiva por ele ser o mesmo babaca de sempre. Nunca enxerga mais do que está a sua frente. - Você é um monstro Alícia, nem todas as boas ações do mundo podem mudar isso. Quando a coisa ficar feia de verdade, você vai ser a primeira a fugir e deixar os outros morrerem só pra escapar. A sua vida é a única que importa não é mesmo? É assim que vocês psicopatas pensam... - Vociferando Tae grunhiu mais um vez, pendendo o a cabeça pra trás para tentar reprimir a dor intensa de fazer seu osso do braço direito voltar pro lugar.
  - Eu só não vou te dar um soco agora mesmo, porquê temos coisas mais importantes pra fazer. - Bufei e mais um crac abafou as minhas últimas palavras e então levantei, batendo a poeira da calça. Foi quando escutei o rugido de uma das feras. Não parecia tão perto, mas com certeza já tinham nos descoberto.
  - Essa não!

- Mallya on-

  - Vai me deixar tomar um pouco do seu sangue antes de corrermos precipício a baixo de novo, ou posso morrer de uma vez, assim evitamos que eu perca meu tempo me levantando, sim? - Indaguei com um sorriso fraco, mas fulgaz o bastante para mostrar as presas se formando na minha boca. E ele riu, uma gargalhada gostosa que chegou a me causar arrepios. Quem quer que fosse não era Jong Up. Um cheiro de eucalipto invadiu o ambiente, misturado com aquele toque adocicado do sangue dele.
  - Então é com isso que você estava sonhando Mallya? - Ele, o rapaz alto de ombros largos que saiu do escuro e foi para a claridade da única janela que havia naquele lugar imundo pronunciou. Quando se aproximou um pouco mais pude notar que realmente não era humano. Em seus braços musculosos estavam várias marcas negras como se fossem tatuagens, mas parecia diferente de tinta, eram mais como cicatrizes, ou cicatrizes cobertas por tatuagens. Seus olhos eram dourados e perseguiam cada movimento meu, até meu busto que se movimentava com a minha fraca respiração. De sua cabeça pálida e loura duas orelhas levemente pontiagudas se prontificaram em ouvir.
  - Quem é você criatura? - Perguntei começando a ficar tensa, minhas omoplatas reclamaram com a pressão e assim que ele ameaçou se aproximar demais eu chutei no ar, ameaçando ele com meu pé amarrado. Que bela ameaça. Caçoei internamente de mim mesma. Não poderia fazer nada afinal. Mais presa do que estava era impossível ficar.
  - Eu sou alguém que você vai conhecer muito em breve Mallya, mas fora daqui.
  Ele veio se aproximando mesmo com a minha desconfiança, e então me mostrou o que parecia ser uma mordaça. Isso não parecia nada bom. Esse imbecil ia me impedir de gritar. Isso se não fizesse coisas piores comigo muda.
  - Sai de perto seu babaca, ou vou quebrar cada um desses seus ossos! E depois vou fazer picadinho e dar pro meu dragão! - Esbravejei ameaçando empoderadamente, mas isso não pareceu intimida-lo nem um pouco.
  - Vamos Mallya, não temos muito tempo para apresentações. - Ele sorriu amistoso, mas sua boca não parecia conter a mesma verdade que sua frase. Ele ia me matar? Dessa vez eu ia ter um sonho diferente? Ou será que... Essa não eu realmente estava acordada. Será que ele era a fera? O chupa-cabra/lobisomem. Ah meu Deus era ele! A coisa em forma humana era tão desumano quanto em sua forma mosntruosa!
  Meu coração se afundou no peito, acelerando muito depressa. O cheiro de eucalipto se intensificou e sobressaiu ao que parecia ser sangue. E então ele chegou mais perto. Tentei virar o rosto instintivamente, mas ele puxou meu queixo para olhar para ele. Dentro de seus olhos dourados.
  - O que você vai faz... - Não tive mais tempo de questionar suas intenções, ele estava me emudecendo com os trapos em suas mãos, e eu agora quieta de palavras estava sendo levantada por ele, comecei a me debater, os braços dele me agarraram forte e enquanto eu estava tentando desesperadamente sair das suas mãos, cheguei a concluir que até o chão ia ser melhor que a morte.
  E então, enquanto estava sendo levada para sabe-se lá onde nos braços daquela criatura de orelhas pontiagudas eu tentei gritar, falhando miseravelmente.

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