Epílogo

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Epílogo

Huma & Kim

Queria poder acordar e dizer: — Kim, tive um pesadelo horrível. Sonhei que o mundo vivia uma pandemia e milhares de pessoas morreram no Brasil e mais milhares pelo mundo.

Ele olhar para mim e dizer: — Calma meu amor, volte a dormir, tudo não passou de um sonho ruim.

Eu acordaria no dia seguinte muito feliz. Tomaríamos café juntos, eu iria para o trabalho e ele para o estúdio gravar ou para a agência fazer alguma campanha publicitária.

Na hora do almoço, encontraríamos, comíamos juntos e a tarde sairíamos para caminhar na rua do porto. Passaríamos na casa de meus pais, daríamos um abraço neles, tomaríamos um suco ou um café, porque é difícil sair de lá sem comer alguma coisa. Fique claro que não é uma reclamação. Quem sabe meu irmão teve a mesma ideia e até levou meu sobrinho.

A noite veríamos uma série ou um filme, quem sabe beberíamos um vinho escutando uma música antiga.

Nada disto pode é real.

A realidade é que estou desempregada, mas graças a Deus não estou desamparada sem renda. A pandemia existe e não acabou, muito pelo contrário, neste ano a situação se agravou numa proporção assustadora. O grupo musical que o Kim fazia parte, sim eu disse no passado mesmo, bem dizer acabou, desmembrou-se.

A boa notícia é que meus pais já se vacinaram, eu e o Kim já estamos com a primeira dose agendada, mas nem a metade dos brasileiros têm essa mesma sorte.

Min-a assumiu a gerência de um setor importante na empresa: recursos humanos. Aproveitou uma reunião e explanou aos diretores acionistas o meu caso, foi contra o pai ao dizer que ele usou um assunto pessoal para minha demissão, neste caso uma funcionária exemplar que iria fazer muita falta.

Fui chamada a empresa para uma conversa. Convidaram-me a trabalhar em umas das filiais fora de Piracicaba. Não aceitei. Por quê? Por vários motivos, o principal era eu ser casada com o Kim. O presidente continuaria o mesmo, apesar de ser num ambiente diferente, mas ele não reconhecia meu marido como filho e nem eu como nora. Sempre pensei que o trabalho precisa ser extensão de nossa casa. Um lugar para ser feliz com aquilo que fazia. Não iria acontecer mais isso. Outra, sabia da minha competência para assumir um bom cargo em qualquer lugar, se a pandemia deixasse.

Agora você pode estar se perguntando: Como dois desempregados viveríamos? Como pagaríamos nossas contas? Simples, com planejamento econômico, algo que sou boa, modéstia parte.

E na verdade, não estava totalmente parada e sem renda. Aceitei escrever uma coluna sobre economia para uma revista eletrônica. Eles já haviam me feito essa proposta há um tempo, mas o trabalho me impedia de aceitar. Após a demissão entrei em contato, perguntei se ainda precisava desse serviço. Acertei uma matéria por mês e agora eles pediram a cada quinze dias.

Iniciei um podcast por simples brincadeira e acabou evoluindo para algo sério. Com a popularidade do Kim, que fez algumas indicações em seu perfil na internet, estou cada dia ganhando mais ouvintes.

Minha amiga Josi ficou semanas sem falar comigo. Brava, pois não a convidei para o casamento. Depois de várias explicações acabou aceitando, mas não fomos perdoados ainda. Vai precisar de uma visita para acalmar meus amigos. Confesso que morro de saudades deles. E da minha pequena afilhada. Nunca fiquei tão longe deles e por tanto tempo. Vejo as fotos e vídeos, não acredito como ela cresceu.

Finalmente pude carregar meu sobrinho após quase seis meses. Ver de longe foi um avanço. Agora a luta é que os dois, meu irmão e sua esposa afirmam que não vão tomar a vacina da covid, pelo menos por enquanto ou até os estudos ficarem mais avançados. Vem aí outra novela que dona Amália é protagonista e não aceita esse roteiro.

Um Coreano Caiu na Minha Vida. Completo.Where stories live. Discover now