Capítulo 3 - Ataque rebelde

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Maxon no fim ganha a aposta. Fico sabendo que May, irmã de America, não derramou uma lágrima sequer ao comer a torta de morango. Eu torço para que o encontro dos dois desse certo.

No dia após o encontro deles, já estou na sala de jantar com meus pais, Maxon, e as Selecionadas, tomando café da manhã. Quando dou uma olhada em America, ela parece aflita com alguma coisa. Será que o encontro dos dois não foi bom?

Antes de ter qualquer oportunidade de perguntar a Maxon sobre o encontro, começo a ouvir gritos do corredor, seguidos de vários passos de guardas. Rebeldes.

- Para o fundo da sala, senhoritas! - meu pai grita, instruindo as Selecionadas, e corre até uma janela.

Cada um de nós vai rapidamente baixar as persianas de cada janela. As meninas estão sem entender absolutamente nada. Logo depois de fecharmos as cortinas, vários guardas entram na sala, eles fecham as portas, trancam, e reforçam com barras.

- Eles invadiram a propriedade, Majestade, mas conseguimos conter o avanço. Seria bom que as senhoritas saíssem, mas estamos muito próximos da porta...

- Entendido, Markson. - meu pai diz, interrompendo o guarda.

Nos preparos da Seleção, já havíamos discutido a possibilidade de uma invasão dos rebeldes. Com mais civis dentro do palácio logicamente estaremos mais vulneráveis, momento perfeito para tentarem entrar. Os rebeldes odeiam a Seleção, e eu até entendo o motivo do ódio deles, é um truque barato para entreter a sociedade e para fazer com que pessoas da família real se casem com pessoas de castas mais baixas.

Várias meninas vem nos ajudar a baixar as persianas, que são pesadas por serem de metal.

- Para o fundo da sala. Agora! - eu digo para as meninas que estão perto de mim.

A maioria faz o que mando, mas quando olho para trás, antes de segui-las até o fundo, reparo que Celeste ficou, parece em choque. Vou até ela, toco de leve em seu braço esperando qualquer reação.

- Vamos. Precisamos ir para onde estaremos mais seguras. - eu digo, pegando seu braço e a puxando para o fundo do cômodo.

Assim que todos estão um lugar mais seguro, passo os olhos pelas Selecionadas. Tiny Lee, da casta Três, está inconsciente nos braços de outra menina. A maioria parece estar histérica, sem saber como reagir a uma situação dessas. Quando me viro para ver como Celeste está, vejo que ela e outra Selecionada conversam, ela não parece estar mais em choque, mas com certeza não está bem como aparenta.

Não faço ideia há quanto tempo estamos aqui. Penso em perguntar à Celeste como ela está, mas logo desisto da ideia. Ela e qualquer outra Selecionada são preocupação de Maxon! Deixe que ele pergunte à todas. É isso que ele faz, passa por todas meninas perguntando para cada uma como elas estão. Até que para em America, e os dois ficam conversando.

Não aguento de ansiedade e resolvo verificar como Celeste está. Se não fosse pela situação, eu  me questionaria mais do porque eu estão tão preocupada com somente uma delas. Vou até ela.

- Está tudo bem? - eu pergunto, em tom baixo.

Por um segundo acho que ela vai sorrir para mim, mas parece que ela pensa bem e então franze a testa.

- Acha mesmo que sou tão fraca? É claro que estou bem. - ela responde agressivamente.

- Não acho. O que acho é que nenhuma de vocês está acostumada com situações assim, e reagir com medo é absolutamente normal. - eu digo, não mudando meu tom de voz.

- Por que perguntou só para mim, então? - ela diz, em tom desafiador.

Antes que eu pudesse responder, ou ao menos pensar em uma resposta, há um abalo. Ouço alguns gritos e algumas Selecionadas voltam a chorar. Celeste instintivamente segura minha mão quando as paredes começam a tremer. Está com medo.

Como percebo seu jeito agressivo, ao invés de questioná-la eu aperto sua mão de volta, como uma forma de confortá-la.

Por que meu coração está batendo mais forte? Eu já passei por situações como essa antes, não tem motivo para nervosismo. Será que é pelo fato de eu estar de mãos dadas com Celeste? Não, é claro que não. Eu só devo estar nervosa por ser quase que uma completa desconhecida segurando minha mão.

- Quem são eles? - ela sussurra em meu ouvido.

- Os rebeldes? - eu pergunto.

Olho para ela e ela assente com a cabeça. Nunca estive tão perto dela antes (ou de qualquer Selecionada), ela fica bem mais bonita quando não está com sua expressão arrogante.

- Existem dois grupos rebeldes, os do sul e os do norte. De todos os ataques que temos todos os anos, no geral eles são feitos pelos nortistas, já que eles estão mais perto, Maxon e eu acreditamos que eles estejam no território de Likely, como não muitas pessoas moram lá por serem somente ruínas. É raro quando eles invadem o palácio, - eu notei que ela ficou mais preocupada com isso. - mas as poucas vezes que eles conseguiram, não fizeram muito estrago. Então acredito que esse ataque de agora seja obra deles.

- E os do sul? - ela diz, olhando nos meus olhos, demonstrando genuína preocupação.

Eu hesito em respondê-la, mas não mentirei, então resolvo contar. - Os sulistas geralmente são mais letais. Eles atacam geralmente no máximo duas vezes ao ano, mas sempre que eles vêm alguém morre. É difícil diferenciar um nortista de um sulista, então geralmente só descobrimos qual dos dois é depois do ataque.

- E o que eles querem?

- Nos derrubar, basicamente. Eles não são nem da casta Oito, imagino que estejam insatisfeitos com isso. Os do norte ainda não descobrimos o que querem, ainda é um mistério.

No fim ficamos trancados lá pouco mais de uma hora. Ninguém invadiu o palácio, apenas a propriedade. Os guardas atiraram em dois homens que chegaram perto da entrada principal e os outros fugiram. Como medida de segurança permanecemos lá um pouco mais, até o palácio todo ser revistado.

Assim que somos liberados a voltar para nossos aposentos, eu me viro para Celeste, que ainda segura minha mão.

- Quer que eu a acompanhe até seu quarto? - eu pergunto.

- Não precisa, Alteza. - ela diz.

Antes de soltar minha mão e seguir as outras Selecionadas para fora da sala de jantar, ela parece pensar em alguma coisa. Ela hesita, mas logo depois dá um passo para a frente e dá um beijo em minha bochecha, ela sorri e logo segue as outras meninas. Sinto meu rosto corar.

Por que eu corei por causa disso? Convenço a mim mesma de que é porque não e estou acostumada com essa demonstração de afeto vinda de uma desconhecida.

A Princesa de IlléaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora