TRINTA E SETE

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"Escutei a música que você recomendou. Achei boa"

"Apenas boa? B, pelo amor de Deus, a música é INCRIVEL"

"Não exagera!"

"É um bom momento para contar que meu irmão e minha tia sabem sobre o nosso beijo ontem?"

"Mas nos beijamos hoje"

"Já é meia-noite. Portanto, ontem"

"Certo. Certo. Eu conheço seu irmão, já colamos em uma prova de matemática. Legal que sua tia sabe. Assim posso te beijar na frente dela, correto?"

"NÃO. COM CERTEZA NÃO"

"Sem graça. A propósito, acho que tive a pior conversa com meu pai em dias. Ele meio que surtou, mas meus amigos me ajudaram a acalmar as coisas. Você ainda não os conhece. Temos que marcar"

"Minha bateria social está bem baixa no momento, sinto muito. Espero que o conflito com seu pai se ajeite. Eu sinto saudades do meu"

"As coisas vão se resolver de um jeito ou de outro. Ainda tenho a xícara de ondas. Tomo café nela todo dia e a lavo, a deixo no quarto"

"que fofo"

"Tem algo que eu possa de dar também? Tipo, uma lembrança?"

"Eu bem que gostaria de algo com C de você" — digito depressa.

"SEU PEVERTIDO!!!"

"Eu me referia a uma camisa. CA-MI-SA. Não é minha culpa se sua mente é tão podre quanto um caminhão de lixo, B"

"Quem te conhece que te compre, Alison. Certo, uma camisa então. Veremos quando, mas para isso você tem que aceitar sair comigo e meus amigos"

"Temos provas daqui a algumas semanas, estou mal na escola"

"Vai ser apenas uma noite. Posso te ajudar a estudar. Prometo"

"Você digitou que colocou na prova de matemática. Como pode me ajudar a estudar? Vou pedir ajuda à Maria, isso sim... Pensando melhor, ela me dá uma tapa na orelha toda vez que eu erro uma questão, então sim, você pode me ajudar. Saio com você e seus amigos"

"Ótimo, depois dessa resposta posso até pensar em te dar aquela outra coisa com C. CA-RI-NHO, caso você pense em outra coisa, After"

"ATÉ PARECE"

***

Acordei mais pesado que uma rocha. Até meu peito parecia esmagado; me faltava ar e eu me sentia como se não tivesse dormido, mas dormi, capotei alguns minutos que tomei um comprimido. Parece que as consequências pesam mais que o efeito. Eu já deveria ter parado, mas pensei que não me faria tão já que estou quase acabando a cartela. Faltam apenas seis, eu acho. Não vai demorar, às vezes tomo até dois, mas não passo disso, é arriscado demais e tudo que quero é que meus olhos preguem por algumas horas, que minha mente se desligue dos pensamentos nublados e que meus sentimentos entre em uma fileira organizada. Eu quero ter efeitos positivos quando estou acordado, mas ter pesadelos não ajuda. Essa noite meu pesadelo foi em um hospital, eu escutava meus batimentos e queria chamar alguém — minha mãe, com certeza — mas percebi algo: minha garganta estava inchada. Inchada porque estava cheia desses comprimidos para dormir, e toda vez que eu tentava falar um A, eu vomitava dezena no meu colo. Era algo infinito, o vômito, eu poderia ficar ali por horas e nunca acabaria, eu estava com eles dentro de mim e vomitar não ajudava, era como os sentimentos ruins; vomitar não ajuda, estão em um canto que os dedos não podem alcançar.

Não era meu primeiro pesadelo, mas era o primeiro que me deixou paralisado de medo na cama.

Espero até eu me convencer de que foi apenas um sonho, eu poderia falar normalmente. Isso demorou bastante tempo. Tanto que acabei fechando os olhos e murmurando para mim mesmo que tenho que levantar, que hoje tenho que entregar um trabalho importante. Mas isso não parecia fazer tantas diferenças lá no fundo, poucas coisas faziam diferença. Meu cérebro deu um jeito de separar as coisas do meu dia em duas partes> importantes e não importantes. Trabalho da escola é importante, sonolento e exausto como estou, não é mais importante. Tomar banho parece fútil. Levantar parece desnecessário.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora