capítulo 4 | Lucius Callahan

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— Retocou o cabelo, quanto tempo! —

Stephan grita assim que entra no bar.

— É. E parece que você não é cego. —
respondo.

Ele se aproxima e mexe no meu cabelo seco tingido novamente há menos de algumas poucas horas de cinza, ignorando o meu comentário por completo. Dou um suspiro esperando que ele se canse de mexer no meu cabelo feito uma criança, remexendo alguma das ondulações misturadas nas mechas e as que corriam pelos cantos do meu rosto.

A obsessão dele por meu cabelo e as raras ondulações era uma das coisas que se manteve desde que nos conhecemos, e, bagunçar mais meu cabelo era o passatempo preferido dele durante grande parte da nossa adolescência antes de eu tingir e cortar mais.

— Que tal um rosa? Ou ruivo? —

Ele aponta para o próprio cabelo tingido de ruivo porque Stephan não era ruivo de verdade. Era uma cópia falsificada retocada frequentemente. A era ruiva de Stephan tinha menos de dois meses enquanto eu arrastava a cor cinza dos meus por séculos.

— E comprar uma farmácia inteira a cada mês? Obrigado, estou bem. —

Dou um peteleco em uma mecha de um liso espesso que volta no mesmo segundo para o mesmo lugar, algumas das mechas estão amassadas e por ele ter secado na toalha em uma tentativa provável de impedir que as mechas molhadas manchassem a roupa.

— Pinta esse cabelo de cinza faz tantos anos que é capaz da sua raiz nem se lembrar da cor natural dela mesma, precisa de um glow up

Bate no meu ombro uma forma de incentivo. Apago o cigarro, olhando para a porta do bar, esperava que Dionísia passase por ela e sorrisse. Não via ela desde o episódio da janela, cerca de apenas dois dias atrás.

Buscava uma maneira de ir no apartamento dela parecendo o mais inofensivo possível apenas para ter uma desculpa para trocar nem que duas pequenas palavras com ela. Algo que me consumia e incomodava era que tinha apenas dois dias que eu não a via, ou seja, como eu me torturava ansiando para ve-la dessa maneira, era um sentimento estranho. E eu vinha tentando lutar contra o sentimento de querer rever ela mas era um sentimento estranho que me fazia me sentir tão bem que começava a permitir que me dominasse.

— A luz do depósito queimou, onde estão as reservas? —

Stephan fala, ao retornar carregando as caixas das bebidas de sabor que entregaram hoje de manhã em atraso e eu nem peguei para arrumar.

— A luz? —

Repito, aprofundando nessa ideia.

— É. A luz, que ilumina a escuridão e afastar os fantasmas da invocação do mal, sabe? —

De repente uma luz se ilumina dentro da minha cabeça.

— É isso! Uma luz! —

Levanto. Stephan recua surpreso e franze cenho. Procura respostas não ditas ainda me observando desconfiado ao me escutar exclamar empolgado sabendo que eu odeio falar alto e nunca me empolgo por alguma coisa como demonstrei agora.

— Segura as pontas, vou dar uma passada na loja aqui perto, não demoro. Consegue ficar sozinho? —

O seguro nos ombros e o encaro esperando que responda. Ele me olha zangado, um olhar de decepção e descrença mediante minhas palavras para o ruivo dramático que é.

Heart ProblemsWhere stories live. Discover now