Pela contagem dos dias riscados no calendário, era dia 8 de abril de 1991.
Alex estava parada na sala, suas malas estavam dentro do seu carro. Seu rosto vermelho e inchado entregava que ela esteve chorando. A verdade era que ela estava cansada. Cansada pra caralho. Aquilo era desgastante para todos, ela tentou cuidar de Pelle mas ela sequer se cuidava, do que adiantava alguém quebrado tentar juntar os cacos de outra pessoa?
Pareceu, na cabeça dela, que ela estava fugindo como uma covarde, porque era isso que ela estava fazendo, Alex sequer tinha coragem de bater na porta de Pelle e lhe dizer que estava indo para a Suécia. Ela apenas saiu porta a fora, a louça estava lavada e havia um bilhete escrito a mão colado na sua porta.
Se toda essa cena estivesse num filme, a trilha sonora seria uma música melancólica, lenta e nostálgica tocada num piano.
Dar partida no carro foi tão difícil quanto descer o pequeno morro que dava para a entrada da casa e ir embora. Alex pensou que Pelle a odiaria por ir embora, mas lembrou-se que ele sequer sentia mais alguma coisa, então, de coração pesado, partiu.
A paisagem estava verde, o céu estava claro e a temperatura amena. Era bonito o jeito que os raios de sol atravessavam a copa das árvores e produzia algumas sombras falhadas, conforme ela deixava Kråkstad para trás, menos casas apareciam, não que houvessem muitas no pequeno vilarejo, mas era notável quando você deixava o lugar.
Os chalés com jardins repletos de roseiras eram lentamente substituídos por árvores altas e trajadas do mais limpo verde, alguns lagos e as vezes algumas casas de campo perdidas entre a paisagem.
O total oposto era dentro do carro de Alex, a ansiedade da garota parecia pairar dentro do carro como uma névoa cinzenta e densa, de fundo tocava alguma musica sobre Satã, sacrifícios humanos ou morte. Ela apertava o volante com tanta força que as pontas dos seus dedos ficaram brancas, Alex sentia que vomitaria a qualquer momento, mas mesmo assim ela foi capaz de deixar Kråkstad.
Demorou apenas alguns minutos para chegar até Ski depois de sair do vilarejo, mas, na cabeça atormentada da garota, pareceram décadas. As lágrimas escorriam no seu rosto como pessoas num tobogã, até que ela não aguentou mais, parou o carro ao lado de uma cabine telefônica e vomitou todo o seu café da manhã nos seus sapatos.
Algo na sua cabeça a dizia para voltar.
Encostou no carro, procurando nos bolsos seu isqueiro, acendeu um cigarro, deixando a fumaça tentar levar alguma parte do seu estresse. Achou nos bolsos uma moeda que costumava usar para tocar sua guitarra quando sua palheta sumia, ela estava até um pouco marcada por conta das cordas. Caminhou até a cabine telefônica, incerta se deveria fazer isso ou não.
"Øystein", ela falou ao telefone quando Aarseth a atendeu. "Estou indo para a Suécia".
"Alex! Puta merda! Onde caralhos você está?!", a voz de Øystein saia atropelada, ele parecia nervoso.
"Eu estou em Ski, o que aconteceu?", ela perguntou, suas sobrancelhas cruzadas.
"Quando você saiu de casa? Pelle acabou de me ligar", Alex engoliu seco. Øystein não falaria daquela forma se algo ruim não tivesse acontecido.
"T-Tem quase uma hora, o que aconteceu Øystein?!", a preocupação retornou ao seu corpo como um soco no estômago.
"Pelle me ligou me dizendo que você tinha ido embora, ele parecia estar chorando e...", Alex não deixou ele terminar.
"Ligue para Jørn, AGORA! Estou voltando!", seu coração estava tão acelerado quanto seu carro.
Ela deu meia volta num movimento brusco, o pneu fez barulho na pista quando Alex começou a correr para voltar para casa. Que merda eu estou na cabeça? Ela se perguntava, já se culpando por qualquer coisa que possa ter acontecido com Pelle.

YOU ARE READING
QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)
RomanceAlex Dahl buscava no Black Metal uma forma de expressar o caos e dor que carregava consigo, a oportunidade surgiu através de uma banda norueguesa chamada Mayhem, mas ela não esperava que fosse achar seu lugar no mundo junto daquelas três almas desaj...