24_ Você é um ser humano horrível.

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Eliza Claire

Eu tinha acabado de perder tudo.

Lentamente, eu consegui sentir as minhas bochechas aquecerem e cerrei a mandíbula.

Pisquei os olhos, pra afastar as lágrimas, e voltei a encarar o Theo.

Ele sorria para os responsáveis da bolsa.

Me peguei pensando em como a minha mãe reagiria quando eu contasse que perdi a bolsa. Será que ela tentaria esconder o olhar de decepção? Será que ela vai tentar me confortar?

Eu não tinha certeza se teria coragem para admitir que perdi.

Era muito mais fácil ser uma perdedora do que esfaquear alguém pelas costas, de fato. Mas eu nunca desejei tanto ter traído alguém primeiro.

Eu sempre fui boa em notar os detalhes ou em achar uma palavra traiçoeira na frase de alguém. Então, como eu não percebi o que ele fez?

Como eu não percebi quando ele me negava informações sobre o seu trabalho?

Eu nunca pensei que gostaria tanto de ter destruído alguém, antes que ele me destruísse.

O Theo não apenas destruiu os meus sonhos. Ele também destruiu os sonhos da minha mãe.

Será que a Luma faria algum tipo de piada com máfia quando eu contasse pra ela o que o Theo fez?

Ou será que o meu padrasto compraria outro hamster pra mim?

A sala parecia estar fria e os meus ouvidos queriam explodir.

- Senhorita Claire! - O diretor chamou mais uma vez com o cenho franzido.

Eu encarei ele, estremecendo e sentindo um leve toque de alguém nas minhas costas. O meu corpo encolheu com o toque repentino e tão acolhedor.

Observei a mão que tocava e fazia carinho na minha pele.

Theo.

Subi o olhar pelo seu braço e encontrei o seu rosto me encarando com preocupação. Ele conseguiu esconder todo tipo de divertimento do seu olhar e apenas me encarou com ternura.

- Tá tudo bem, querida? - Ele perguntou se aproximando do meu rosto. Como se ele realmente se importasse...

Eu encarei ele incrédula, me questionando se ele tinha planejado isso o tempo todo.

O meu coração acelerou e o Theo desceu a mão pelas minhas costas, continuando o carinho.

Foi exatamente ali que você me apunhalou. Será que você consegue sentir a ferida?

- Senhorita Claire, você pode apresentar o seu trabalho agora. - A senhora Reitrac pediu e eu virei o meu rosto pra ela.

Eu assenti e com as pernas trêmulas me levantei da cadeira. Caminhei até o centro da sala e encarei o telão em que os meus slides tinham passado.

Os meus outros concorrentes pareciam estar confusos, assim como os responsáveis da bolsa e o diretor, mas o Theo estava satisfeito com o meu silêncio.

Ele tinha se sentado na cadeira ao lado da minha, e tinha um sorriso quase invisível enquanto encarava as folhas do trabalho nas minhas mãos.

O alarme de incêndio soou e todos entraram em pânico se levantando das cadeiras.

O diretor ajudou os responsáveis pela bolsa a saírem da sala junto de todos os alunos. Senti o diretor também começar a me empurrar para fora da sala em desespero.

O alarme continuou, cada vez mais alto, penetrando os meus ouvidos e me fazendo apertar os olhos.

Pelo canto do olho, vi o Theo sair por um dos corredores opostos e eu me virei por impulso pra seguir ele, deixando todos os outros seguirem para fora do colégio.

Comecei a seguir o Theo e quando cheguei perto dele, puxei o seu braço pra acertar um soco no seu rosto.

O Theo segurou o meu braço, como se já esperasse.

- Ah, oi, querida. - Ele sorriu de lado.

- Você me traiu! - Disparei, soltando o meu braço da mão dele.

O Theo fingiu surpresa, abrindo a boca levemente. Como se aquilo fosse um absurdo. Como se eu fosse louca por me sentir irritada.

- Agora eu estou realmente ofendido. - Ele falou me encarando desacreditado.

- Qual é a porra do seu problema? - Quase gritei, empurrando ele contra um parede.

Eu me aproximei dele, colocando o meu dedo indicador bem perto do seu rosto com ódio.

Traição pode ser usada em tantos cenários, mas mesmo assim, foi usada no nosso.

- Eu confiei em você. - Soltei entredentes, semicerrando os meus olhos com dor.

- Não deveria. - Ele deu de ombros encarando o meu dedo apontado pra ele e depois desviando o olhar para o meu rosto.

O Theo tinha o corpo contra a parede que eu empurrei ele, mas a sua cabeça estava inclinada pra mim, assim como o seu olhar brilhante.

- Você realmente deve ter esquecido, querida. Mas nós estávamos competindo, e aparentemente, eu sou o vencedor agora. - Debochou jogando a cabeça para trás, fazendo o seu olhar subir para o teto.

- Nós tínhamos um acordo. - Lembrei me aproximando dele irritada e atraindo o olhar dele de volta para os meus olhos.

- Se você tivesse prestado atenção em mim nesses dias, você teria percebido que eu faço qualquer coisa pra ganhar. E se para ganhar, eu tivesse que te trair, eu faria isso mil vezes. - Ele sorriu se aproximando também. - Se te destruir significa ganhar, então eu vou te destruir com prazer.

O Theo se aproximou ainda mais, fazendo o meu dedo tocar no lábio inferior dele por um segundo.

Eu afastei a minha mão imediatamente e o Theo abriu um sorriso ainda maior.

- Me dá um bom motivo pra eu não te espancar aqui mesmo. - Pedi sentindo o meu sangue ferver.

Eu estava ficando cada vez mais irritada com cada palavra que ele soltava.

Confiar nele foi um erro. Um erro muito grande.

O Theo suspirou se aproximando e eu coloquei a minha mão contra o seu peito, empurrando ele contra a parede mais uma vez.

Senti o seu olhar queimar a minha mão que tocava o seu peito de um jeito firme.

Nem quando o seu olhar voltou a fitar os meus olhos eu retirei a mão dele.

A mão do Theo subiu até a minha e por um momento eu considerei que ele arrancaria o meu toque, mas ele apenas segurou a minha mão e levou até o pescoço dele.

Encarei o Theo incrédula enquanto ele pressionava a minha mão contra o seu pescoço.

- Porque talvez eu goste de apanhar de você... - Ele sugeriu e eu travei a mandíbula com ódio.

- Você é um ser humano horrível. - Insultei.

- Você ficaria surpresa com a quantidade de vezes que eu escuto isso. - Ele confessou sorrindo de lado.

continua...

O IntercâmbioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora