capítulo 23

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— Por que você faz isso? Não vê que está me despedaçando? — fiquei de joelhos perante o chão de concreto.

— Porque você é uma Milles. Os Milles merecem sofrer.

Abri os olhos gritando, assim fazendo Antony e Brandon levantarem de suas camas, assustados. Os dois ficaram me olhando, sem dizer nada. Levei a palma da mão para a testa, inundada de suor. Suguei todo o ar com a boca enquanto tentava recuperar o fôlego.

— O que quis dizer com isso? — sussurrei para mim mesma, me forçando a lembrar dos acontecimentos do sonho.

Brandon e Antony trocaram olhares e aproximaram- se.

— Com o que estava sonhando? — Antony pergunta curiosamente.

— Deixe ela. — Brandon o interrompeu.

Olho para os dois sem dizer nada. Não vi quando Brandon chegou, nem mesmo quando fui colocada de volta na cama do meio. Os lençóis já não me protegiam do frio, na verdade, faziam meu corpo encharcar de calor e suor. Os joguei para longe de mim, e abracei meus joelhos. Não consigo me lembrar do sonho. Aos poucos sinto que ele está começando a se tornar uma memória esquecida. Só me lembro da última parte.

— Que horas são? — olhei para a luz que emanava da janela. Pequenos raios de sol, filtravam as cortinas. Eu não consigo discernir se é uma manhã ou quase meio- dia.

— São quase doze da tarde. — Brandon responde.

Estou surpresa por dentro, mas não demonstro. É a primeira vez que dormi tanto, durante à noite e metade da manhã. Isso é bom, porque assim posso ofuscar o que estou sentindo.

Arregalei os olhos ao me lembrar.

— E as aulas? — excruciei atônita.

— Nós faltamos. Achamos que seria bom pra você descansar um pouco. — Antony senta- se na cama.

— O quê? Não podemos faltar aula. Vocês sabem que é proibido.

Em todos os meus anos estudando aqui, nunca ousei faltar uma aula sequer, mesmo que estivesse doente. Não sei o que Antony e Brandon estão pensando. Eu posso estar com o coração partido, mas as regras da escola continuam sendo as mesmas.

— Calma, eles não vão nos expulsar só porque faltamos uma vez. E a gente só perdeu as aulas da manhã. Nada demais. — Brandon tenta justificar, mas isso não é justificável.

Mas eu não posso dizer nada. Só consegui acordar por causa de um sonho. Caso contrário, quanto tempo eu teria dormido? Ontem eu nem ao menos pude me lembrar das aulas. Não posso jogar a culpa disso neles. Eles devem estar tão cansados quanto eu.

— Bom, eu não sei vocês, mas estou com fome. Daqui há dez minutos o almoço vai ser servido, então acho melhor começarmos a tomar banho.  — Antony disse levantando- se.

Balancei a cabeça positivamente. Meu estômago está roncando. Embora quisesse que só fosse isso, eu pude experimentar o resultado de não comer corretamente. Assim que coloquei os pés no chão. Por um momento imaginei que meu corpo não iria aguentar o próprio peso, e iria de encontro para o chão. Por sorte só estou sentindo isso, fora a visão embaçada.

Esperei por um tempo que Brandon e Antony tomassem banho. Eles são rápidos. Não demorou nem dez minutos, e os dois já estavam vestidos com o uniforme e prontos para irem.

Quando entrei em meu quarto, esperei que Hilary não estivesse lá, mas ela estava. Ela me olhou com um olhar cheio de dúvida, com as mãos na cintura.

— Tem ideia de como eu fiquei preocupada? Aonde estava? — pelo tom de sua voz, ela exigia uma resposta.

Brandon e Antony entraram logo depois.

A última noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora