25_ Santa misericórdia.

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Eliza Claire

- Você ficaria surpresa com a quantidade de vezes que eu escuto isso. - Ele confessou sorrindo de lado.

- Eliza! - Ouvi uma voz feminina no início do corredor em que estávamos.

Eu mal percebi que estava apertando o pescoço do Theo forte demais, até que ele fez carinho na mão que segurava ele, quase implorando pra amenizar o aperto.

Mas o rosto dele não apresentava nada.

Ele era realmente a porra de um ator.

E nem era um ator pornô...

Nem pra isso ele serve.

Quebrei o contato visual com ele apenas pra ter certeza de quem estava me chamando.

Brenda.

Respirei fundo soltando o pescoço do Theo e ele continuou me encarando, esperando algo mais, mas eu apenas sai.

Ele não merece um olhar meu.

Segui por um corredor diferente, do lado da Brenda, e acabei por sentar no chão contra os armários escolares vermelhos.

As minhas lágrimas embaçaram a minha visão e a Brenda se sentou do meu lado preocupada.

- Eu sei que não é o momento, mas eu nunca achei que te veria chorando. - Ela sussurrou me abraçando.

Eu também nunca achei que gostaria de ver o Bolsonaro usando calcinha ao invés de sentir esse buraco se formando no meu peito.

- Por que todo mundo acha um absurdo eu chorar? - Soltei desacreditada com a voz fraca.

- Porque você é o tipo de pessoa que espanca alguém quando fica machucada, e não o tipo de pessoa que chora. - Ela explicou com um breve sorriso no rosto.

- Eu estou apenas em choque. - Confessei encarando a Brenda com o olhar baixo. - Primeiro, ele roubou o trabalho e depois o alarme de incêndio... O alarme!

Quando eu ia levantar do chão em desespero, a Brenda segurou o meu braço me parando com um sorriso envergonhado.

- Eu toquei o alarme de incêndio. - Ela contou e eu observei o seu rosto confusa. - Eu li o seu trabalho, Eliza. Quando você entrou na sala de apresentações, eu acabei por ficar perto da porta apenas pra ver a sua apresentação. Você é brilhante e eu precisava ver você apresentando pessoalmente. - Ela deu de ombros sorrindo. - Mas aí eu notei que o Theo estava apresentando o seu trabalho e fiquei desesperada vendo você entrar em pânico. Então, eu ativei o alarme de incêndio.

- Não tem nenhum fogo? - Questionei chocada.

- Não, apenas alguém que provavelmente vai ser expulsa. - Apontou pra ela mesma e eu abaixei o olhar.

- Eu pensei que você estava chateada comigo. - Lembrei e a Brenda riu.

- A Zoé foi a pessoa que me enviou o vídeo. - Confessou e eu encarei ela com os olhos arregalados.

A Brenda abraçou as suas pernas e fingiu um sorriso sem dentes.

- Ela me enviou o vídeo para que eu não acabasse vendo por outra pessoa. Logo em seguida ela me ligou e falou que ela estava com a namorada dela quando ouviu vocês rindo e que nada aconteceu, porque você estava evidentemente bêbada. - A minha amiga explicou e eu franzi o cenho ouvindo uma determinada palavra.

- Namorada? - Repeti surpresa.

- Foi o que eu falei. Tá surda? - A Brenda me encarou confusa.

- A Zoé não namorou com o Theo? - Questionei ainda mais confusa que a Brenda.

- Não! - Respondeu rapidamente rindo. - A Zoé é lésbica. Isso dela namorar o Theo foi um boato idiota que uma garota espalhou e olha que ninguém descobriu quem foi até hoje...

Soso...

- Então o Theo e a Zoé são apenas amigos? - Perguntei e a Brenda assentiu.

- Melhores amigos, na verdade. - Corrigiu encarando o teto.

Eu continuei olhando a Brenda e depois de algum tempo em silêncio ela me observou de volta.

Os seus olhos azuis brilharam encarando os meus e eu encolhi o meu corpo desviando o olhar.

- O que você vai fazer? - Perguntou genuinamente.

- Além de tentar me jogar na frente de um caminhão? Não sei... - Fiz graça.

Espero que pelo menos seja um caminhão rosa.

- Sobre a bolsa. - Ela especificou e eu suspirei. - Eliza, você passou quase 3 meses do seu intercâmbio se preocupando com essa bolsa de estudos pra simplesmente parar assim...

- Eu realmente devia parar de esperar tanto das pessoas. - Sussurrei mudando de assunto.

Insistir na bolsa era um caso perdido.

Eu cheguei atrasada na apresentação mais importante da bolsa e todos viram como eu fiquei paralisada no centro da sala.

Mesmo se eu tentasse denunciar que o Theo roubou o meu trabalho, eu teria que explicar que quebrei as regras da bolsa e organizei o meu trabalho com outro concorrente.

Nenhuma das opções do que vai acontecer é boa...

- Sim, você realmente deveria parar de esperar honestidade de pessoas que nem conseguem dar isso pra elas mesmas. - A Brenda me repreendeu e eu me virei pra ela.

- Eu quero fazer ele chorar. - Admiti com rancor. - Assim como ele me fez chorar.

- Não, você precisa deixar o karma trabalhar. - Ela falou inclinando a cabeça pra mim.

- Me chame de Karma. - Soltei. - Porque se aparecer alguma oportunidade de fuder com a vida dele, eu vou pegar ela.

A Brenda me encarou levemente assustada antes de voltar a falar.

- Santa misericórdia... - Ela sussurrou com medo.

Ouvimos passos no corredor e eu me virei bem a tempo de ver uma senhora caminhar até nós.

- O que vocês ainda estão fazendo aqui? Saiam! - A mulher quase gritou.

- Olha aqui, sua velh... - A Brenda se levantou na base do ódio.

Eu puxei a Brenda pra trás, logo depois de me levantar também e encarei a responsável pela bolsa com os olhos arregalados.

- Nós já vamos sair, senhora Reitrac. - Forcei um sorriso.

- Senhorita Claire. - Ela me reconheceu. - Os outros responsáveis e eu decidimos que a sua apresentação vai ser adiada pra daqui a dois dias. - Informou antes de sair andando.

Dois dias pra montar um trabalho que foi feito por 2 pessoas em uma semana? Impossível...

- Viu? É só deixar o karma trabalhar, igual aquele negócio de terceiros na economia que você me falou na biblioteca. - A Brenda passou o braço pelo meu ombro sorrindo.

- Terceirização? - Questionei confusa.

- Isso. - Sorriu igual o Coringa e eu arregalei os olhos.

- Você acabou de me dar uma ideia. - Ri.

continua...

O IntercâmbioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora