THOMAS:
— O que acha de agora tentarmos sem as rodinhas?— perguntou a senhorita Mare, empurrando a bicicleta.
— Não. Se a senhora tirar, eu vou cair.
Já haviam se passado sete dias, desde que todos os meus amigos aprenderam. Todas às manhãs, as instrutoras nos levavam para o parque com as bicicletas. Por mais que quisesse, eu não conseguia aprender. Tinha medo de cair.
— Besteira. Você precisa vencer o medo ou nunca irá conseguir. Seu pai estava perguntando sobre o seu desempenho.
Sem querer me desequilibrei e quase caí, mas a instrutora impediu.
— M-meu pai? A senhora contou a ele sobre eu não ter aprendido ainda?
— Não querido. Eu disse que você está indo muito bem. — ela reergueu a bicicleta.
— Não pode dizer a ele, entendeu? Se ele souber, não irá mais sentir orgulho de mim. — disse de cabeça baixa.
A cor fugiu-lhe do rosto. Ela ficou pálida.
— Como pode dizer isso Tom? Tenho certeza que seu pai tem muito orgulho de você. Ele não se importa em quanto tempo você demora pra aprender a andar de bicicleta. — uma de suas mãos atravessou meus cabelos, e a outra acariciou meu rosto.
— Olhe para mim Tom. — disse ela com doçura segurando suavemente meu queixo. — Seu pai sente muito orgulho de você, porque você é filho dele.
— Não diga nada a ele, entendeu?! — alterei a voz.
O parque estava barulhento demais para que os outros instrutores percebessem minha conversa com a senhorita Mare. As outras crianças eram agitadas.
— Tom querid-
— Prometa. — interrompi.
— Está bem. Eu prometo não contar ao seu pai. Mas você irá prometer a mim, que irá se esforçar para aprender.
Assenti com a cabeça e prosseguimos. Sempre aquela ocasional rotina. Mare com as mãos no assento durante todo o trajeto, empurrando e me impedindo de desequilibrar. Os sons de bicicletas sendo pedaladas, e o retinir de sininhos sendo emitidos, eram um coro tão familiar, que já não tinha mais dificuldade em imaginar os sons.
Em frente, a instrutora Marta aproximou- se.
— Como ele está indo? — perguntou com uma estranha curiosidade na voz.
— Ah, no momento continuamos no mesmo ritmo. Mas acredito que Tom será um grande ciclista. Só precisa se familiarizar com a bicicleta. — minha instrutora disse, parecendo diverti- se com a ideia.
— E como vai a nossa doce Scarllet?— Ah, ela está indo melhor do que o esperado. De todas as crianças, foi a que mais se destacou no aprendizado. Nem precisou do auxílio de rodinhas. — respondeu com muito orgulho na voz.
Foi então que vi a garota de cabelos castanhos e capacete rosa. Tinha muitas coisas para pensar a respeito dela. Ela pedalava tão bem. Não sentia medo. Nem ao menos se desequilibrava. Já eu, estou com calos e com as palmas das mãos úmidas.
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A última noite
RomancePara Scarllet, sua vida deveria ser seguida à risca, com muitas expectativas a cumprir. Ao crescer cercada por muros de colégios internos, obedecendo normas, e prestes a completar dezoito anos, pela primeira vez em sua vida, esteve presa em um mar d...