58 - Jantar

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O pouso em Nova York foi sem complicações e, quando cheguei lá, era de manhã

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O pouso em Nova York foi sem complicações e, quando cheguei lá, era de manhã. O agrupamento de pessoas apressadas saiu do avião, o homem que estava sentado ao meu lado direito no voo não ficou calado por muito tempo e eu tinha conhecido mais dele do que de qualquer outra pessoa naqueles últimos dias. Eu sabia que ele estava tendo uma crise no seu casamento porque desconfiava que a sua mulher estava o traindo. Ele me contou até mesmo como os dois se conheceram – em uma daquelas baladas dos anos 70 – e sobre o fato de eles terem tido filhos muito cedo, lá com os seus dezesseis anos. O nome dele era Manuel, sua mulher se chamava Rose e eles tinham três filhos: Nataniel, John e Helena.

Manuel pareceu triste ao falar daquilo e, mesmo que tivesse contado bastante sobre a sua vida durante a viagem inteira, tive simpatia por ele. Lhe vi acenando para mim e dizendo adeus, a fim de seguir com o seu trajeto usando o seu terno bem passado e segurando uma maleta preta. Enquanto eu levantava a mão para retribuir o aceno, caminhei mais alguns passos e depois avistei a minha avó esperando por mim.

Instantaneamente o meu sorriso surgiu e eu segui para abraçá-la. Senti aquela fragrância doce de rosas e vovó acariciou o meu rosto, fazendo questão de pegar as minhas bochechas e apertá-las, como se procurasse alguma coisa que estivesse fora do lugar.
     — Você continua tão lindo quanto antes! — ela disse, o tom bem alegre e entusiasmado. — Eu diria que o novo país lhe fez bem, docinho, mas sei que na verdade foi outra coisa — vovó piscou um olho e apontou o indicador, um tanto maliciosa. — Ué, onde estão as suas malas?

Senti o meu rosto ruborizar e dei um beijo na bochecha dela, que agarrou o meu braço bem firme e foi me puxando na direção do seu carro.
     — Mamãe não avisou? — perguntei, estranhando. — Na verdade, eu vim pegar o resto das minhas coisas. Vou passar uma semana aqui e depois volto para a Nova Zelândia.
     — É mesmo?

Vovó parou de andar e me fitou, séria.
     — Sim…
     — Não vai mais morar em Nova York?
     — Não, vovó.

Ela pareceu triste e eu acabei ficando triste também, mas era porque estava vendo-a daquele jeito. Vovó era sempre muito sorridente e espontânea.
     — Então vocês dois vão se casar?
    
Pensei naquilo e cocei a cabeça, buscando tempo
     — Vou morar com ela…, mas não vamos nos casar agora.
     — Por que não? — vovó franziu o cenho e eu enlacei o meu braço no dela, a fim de que continuássemos andando.
     — É só que agora não é um bom momento, vovó — respondi, sincero. — Estamos ótimos e temos todo o tempo do mundo para planejarmos isso com mais calma.
    
Ela sorriu e assentiu.
     — Você tem razão, docinho.
     — Você também não está nada mal, sabia, Sra. Twist? — comentei, depois que entramos no carro dela. — Eu sempre comento com a minha mãe que você tem uma fonte da juventude, mas que esconde da gente.
     — Vou reconsiderar a ideia de contar os meus segredos e truques — cochichou ela, e parecia falar sério. — Mas a nossa genética nos favorece assim mesmo, docinho, então eu garanto que vocês não vão precisar se preocupar com isso durante um bom tempo.
     — Olha, isso é verdade — sorri, pondo o cinto de segurança enquanto vovó dava a partida. — Como estão as coisas com você? Quase não nos falamos por vídeo chamada.
     — Oh, querido, desculpe — ela fez um biquinho, mas não tirou os olhos da direção —, é que estou aprendendo a dançar bolero, todos os dias vou para o salão. Quero fazer mais do que jogar xadrez no parque com aquele bando de velhotes encrenqueiros.

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now