Capítulo II - União

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Ouviu-se um estrondo. O impacto quase o arremessou para longe. Ao olhar para trás, manifestou certo alívio ao ver aquele enorme tronco que minutos antes vinha desgovernado em sua direção fora barrado por duas árvores, o impedindo de ser esmagado. Por pouco não havia visto aquilo, todo aquele cenário o fez esquecer por um momento que deveria ter um cuidado redobrado com o imenso mundo ao seu redor. Na verdade, por um momento sentiu-se grande, como se a paisagem em que se encontrava não fosse totalmente desproporcional ao seu tamanho minúsculo. Devia estar sonhando acordado. De novo. Aquilo estava se tornando cada vez mais frequente, talvez fosse a hora de começar a se atentar a isso antes que o matasse acidentalmente - como minutos atrás.

Balançou a cabeça freneticamente, como se pudesse expulsar os pensamentos conflitantes de sua cabeça com o movimento. Ele precisava ter foco. Sair daquela floresta era o principal de seus objetivos no momento, e não conseguiria isso estagnado no lugar que estava, vulnerável a qualquer ato de hostilidade que aquele mundo poderia preparar. Preocupou em se concentrar no sinal, e segundos depois já estava em sua trilha novamente.

Durante a caminhada, a floresta voltou a intimidá-lo com sua magnitude pavorosa. O mundo era bem mais assustador visto de baixo. A trilha completamente instável o obrigava a fazer diversas manobras apenas para manter-se dentro dela, tendo que raciocinar um pouco a fim de prosseguir em sua jornada. Se ele fosse um pouco mais alto... Ah, por que estava reclamando?! Sua vida sempre foi assim, até o momento, já havia enfrentado coisas piores. Aqueles sonhos realmente estavam deixando sua mente confusa.

Enquanto andava próximo de algumas armadilhas de urso, ouviu um estalo seguido de um farfalhar macio vindo de alguns metros logo atrás de si, o que o deixou em alerta. Parou de caminhar e encarou a trilha por onde segundos atrás percorrera - a exata origem do som. Parecia com algo pesado caindo sobre a relva. Uma pedra, talvez? Seria estranho, a floresta era silenciosa, sinal de que nem mesmo animais de pequeno porte habitavam aquelas terras inóspitas, ou seja, não poderia ter sido algum deles responsável por aquilo. Uma pedra se mover sozinha era algo bem mais do que suspeito.

Contudo, tudo parecia em ordem - ou algo próximo a isso. A paisagem mantinha sua plenitude inquietante, fazendo suas pupilas dilatarem em alerta. Cada minuto que transcorria dentro daquela floresta clareava a necessidade de fuga, como se o real perigo pudesse se materializar a qualquer instante enquanto ainda estivesse ali. Era uma sensação frequente - dada as circunstâncias do mundo em que vivia - contudo, o odor mefítico que ali exalava ia muito além dos corpos em decomposição ao seu redor. Algo visceralmente perigoso o aguardava.

De súbito, uma vertigem o atingiu em cheio, o fazendo cambalear em busca de equilíbrio. Seus passos tortos o levaram mais adentro da mata, ou pelo menos achava que era, já que tudo que via era uma imagem ondulada e mais retângulos coloridos e um borrão negro, quase translúcido, em meio à paisagem. O borrão se moveu, saindo de trás de uma árvore e caminhando até o lugar onde estava segundos atrás, aos poucos tomando a forma de uma silhueta relativamente alta em comparação à sua e de traços suaves. A tal silhueta estava de frente a outro borrão, desta vez menos nítido - porém familiar. Quando o borrão começara a tomar foco, a primeira coisa que distinguiu fora um par de olhos vibrando com a estática, e instantaneamente sentiu uma pontada em seu lobo frontal que o fez vacilar mais alguns passos para trás. O cenário todo chiou como uma televisão sem sinal, e ambas as silhuetas começaram a desaparecer em um show de cores e glitchs enquanto algo ainda martelava sua cabeça. Tudo ocorria em um lampejo, e no instante em que a imagem opaca dissipou-se em um frame, tudo voltou ao normal.

Porém não rápido o suficiente para que o fizesse perceber a armadilha logo atrás de si.

Ele acordou exasperado, seu peito subindo e descendo freneticamente enquanto recuperava o fôlego. Suor frio escorria de sua nuca, e o corpo tremia com a adrenalina excessiva em seu sangue. Seu olhar desceu instintivamente para as pernas, as encontrando inteiras e sem ao menos uma gota de sangue. Ele estava bem, estava vivo. Foi apenas um sonho esquisito. Exalou o alívio em um sopro, normalizando a respiração afoita.

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