capítulo 37

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Fiquei onde estava, paralisada. Após um tempo, me sentei, ali mesmo, no chão do banheiro. A primeira lágrima desceu do meu olho esquerdo, em seguida, a segunda, e agora todo o meu rosto está jorrando. Eu claramente não sabia o que fazer, e por isso estou chorando. Nunca iria perdoar Hanna por ser tão cruel comigo. O mais horripilante, é saber que ela nunca irá se arrepender ou pedir desculpas.

As minhas mãos congelaram por conta do ar gelado que atravessava curta brecha da porta. Eu não deveria estar chorando no chão do banheiro, justo quando há um corredor logo à frente. Mas está doendo tanto, que não consigo me conter.

As palavras dela, me obrigam a refletir. O que irá acontecer quando a diretora souber? Provavelmente irá questionar, depois irá perceber, ficará horrorizada, decepcionada, preocupada. Mas e quando tudo isso passar? Irá sentir raiva de mim e finalmente irá fazer o que Hanna alegou. Me expulsar.

Penso o mesmo de Madson, minha mãe e meu pai. Eles irão me enviar para aquela escola interna, possivelmente de freiras, rígido e atormentador. Irão esquecer que eu existo e me prender lá pra sempre. Me parece que nada pode me salvar agora.

Ao imaginar, minha situação piorou. Agora, mal consigo respirar. Tentei abafar o som do choro com as mãos, cobrindo a boca. Tudo para não chamar a atenção. Não deveria chorar aqui. Não deveria mesmo. Os gemidos de agonia e choro começaram a ficar intensos e logo, alguém entrou. Samantha me encarou como se eu fosse um fantasma. Espantada e com os olhos vidrados, ela se aproximou de mim.

— Scarllet? O que aconteceu? Por que está chorando?

— Nada pode me salvar agora, Sam. — disse baixinho para ela. Samantha não entendeu.

— Calma... Eu não estou entendendo. Pode me explicar?

— Eu vou perder tudo. — então eu vejo seu rosto.

Samantha tirou o cabelo do rosto, comprimindo os lábios, olhou para o chão e depois para mim.
— Você está tendo uma crise? — senti que ela perguntou, mas não era exatamente o que queria dizer. — Olha, vai ficar tudo bem. Vai passar.

— Não, não vai.

— Vai.

— Você já sentiu que o mundo ficou contra você? Desde que você nasceu? Que você nunca pôde se sentir e feliz, ou teve permissão para tentar?

— Scarllet... Eu vou ligar pro Thomy. — Samantha só queria ajudar. A verdade, é que ela só não sabia como. Não sabia o que fazer.

— Não. Por favor, não faça isso. — eu tentei gritar, mas a minha voz não passou de mero resquício de silêncio.

Samantha pegou o celular, e parou o que estava prestes a fazer. Vi em seus olhos. A forma como a pena esboçou neles. Ela jogou o skate no chão, e sentou- se ao meu lado.

— Quer conversar?

— Algo de ruim irá acontecer comigo.

— É essa a sensação que a ansiedade traz. Mas isso não é verdade.

— Posso te fazer uma pergunta? — prestei atenção no skate dela, mas fiz isso só por fazer. Eu já não conseguia enxergar bem, por conta do excesso de lágrimas.

— Claro. — ela respondeu.

— Se você tivesse que escolher entre seus amigos ou você, quem escolheria?

Samantha demorou para reponder. Talvez só estivesse se esforçando para descobrir o real motivo para me encontrar assim, nesse estado. Ou talvez, só esteja pensando em uma boa resposta.

— Você se sacrificaria pelos seus amigos? Mas e os seus amigos? Se sacrificariam por você?

— Eu não sei.

A última noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora