capítulo 40

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Olhar a grandeza do céu, nunca fora tão constante. Seria hoje uma boa noite para observar cada particularidade dele. Eu estou me perguntando, se deveria dormir ou permanecer em pé. Não me lembro a última vez que saí deste quarto, a não ser às vezes que fui obrigada a ir para as aulas ou comer.

Talvez já devesse ter me acostumado. Mas ninguém se acostuma com o sentimento de solidão. Gostar de estar sozinha é bom, mas todos os seres humanos necessitam de comunicação. Nem que seja uma vez nada vida. Minha única companhia, tem sido Zoe.

Quando deixo de encarar o lado de fora da janela, ao invés de fechar ela, continuo a deixar aberta. Acordada em plena meia noite. A companhia de Zoe não está sendo o bastante. Nem mesmo estou vendo Hilary.

Essa seria a última noite. A última vez que deixaria a janela aberta para ele. E pensar nisso me traz um sentimento desordenado. Principalmente por pensar que tudo foi um sonho. Mas parecia tão real. A temperatura, até mesmo as batidas do coração dele ou os beijos, as promessas. As promessas que me fizeram jurar que ele cumpriria com sua palavra.

Embora a lógica grite com mais força, algo me diz que aquilo foi real. Não foi algo da minha cabeça.

Mas não era só isso que martelava a minha cabeça. No começo, imaginei que ele só estava esperando a oportunidade certa, que talvez só estivesse me esperando. Mas Thomas sumiu. Ele não apareceu mais nas aulas, ou no refeitório. Nem mesmo esteve frequentando os lugares que sempre frequenta.

Gostaria de ter coragem para perguntar a um de seus amigos. Talvez devesse perguntar a Brian, mas as probabilidades de uma possível mentira só muitas. Sem contar, que sei que ele não gosta de mim. Assim como todos os outros. Eles só fingem.

Quando acordei, eram nove da manhã. Me desesperei, e corri atordoada pelo quarto. Eu estava atrasada pra aula. Muito atrasada.

Vesti o uniforme ainda dominada pelo pós sono. Foi aí que a porta do meu quarto foi aberta. Pra minha surpresa, era Hilary. Ela entrou e logo depois Samantha também. Elas não estavam com uniforme.

Me encararam de um jeito estranho, juntando as sobrancelhas, antes de me perguntarem ao mesmo tempo:
— Por que está vestindo o uniforme?

Eu esperava um bom dia, ou algo parecido. Afinal, não as vejo há dias...

— Estou atrasada! — vesti a blusa dominada pela tensão de estar atrasada.

— O quê? — Hilary perguntou.

— Scarllet, hoje é sábado. — Samantha disse enquanto me observava atentamente. Ela falou com cuidado, como se eu fosse uma criança.

Parei o que fazia na mesma hora. Comecei a perceber os olhares delas. Pareciam estranhas. Pareciam me tratar como se eu fosse estranha.

— Não é não. Ontem foi quarta.

— Ontem foi sexta... — Hilary ofegou.

— Não, não foi.

— Foi.

— Não podem estar falando sério.

— Scarllet, estar presa nesse quarto por tanto tempo deve ter afetado você... — Samantha falou baixinho, como se sentisse pena de mim.

Se antes achava que elas estavam estranhas, agora tenho total certeza. Nunca vi Hilary assim, e mesmo tendo me aproximado de Samantha há pouco tempo, posso perceber isso presente também nela.

— Talvez. — sentei em minha cama, agora convencida. Elas estão sérias demais para estarem brincando.

— Verônica disse que você está livre do castigo. — Hilary sentou- se ao meu lado.

A última noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora