Capítulo 4

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Uma batida à porta acordou-o. Lembrou-se de onde estava. Mandou entrar. Era Hoseok, que acendeu os lampiões da cabina.

— É tarde, quase onze horas — comentou. — Guardei algo para o senhor comer, milorde. Posso trazer?

O rosto de Namjoon escureceu. Dormira por nove horas seguidas. Há poucas semanas, movimentava-se dia e noite, com apenas uma ou duas horas de repouso. Agora era diferente, estava mais fraco. Irritava-o a volta lenta das suas forças após o acidente no campo de batalha.

Ergueu-se e andou pela cabina, inquieto, enquanto o criado esperava.

— Não sei o que faria sem você, Hoseok. É... estou com um pouco de fome.

— Volto já, milorde...

De novo sozinho, o conde ficou pensativo. Depois das tensões suportadas na guerra, não sentia atração pela vida social na capital. Não conseguia entender como pudera sentir atração por aquela vida vazia antes. Queria, na verdade precisava, fazer alguma coisa útil. Não se conformava em ficar inativo, quando seus camaradas lutavam. Mas como? Machucado como estava, o que poderia fazer? Talvez Jae-hyun tivesse alguma ideia... Sorriu diante daquele pensamento, sentindo-se mais animado.

Pelos seus cálculos, deveriam chegar logo ao porto. Se fosse direto para a capital, veria o noivo no dia seguinte.

Sentou-se diante da bandeja que Hoseok trouxera e comeu com apetite.

Quando o navio atracou, Namjoon desceu pela prancha, confiante, sentindo-se em casa entre os sons e a paisagem que conhecia desde criança. Mesmo as pragas berradas por trabalhadores das docas e marinheiros o fizeram sorrir. Ansioso para prosseguir viagem, usou o prestígio de sua posição para retirar sua bagagem e cavalos em primeiro lugar.

Ao ver o criado sério, observando-o, o sorriso desapareceu de seus lábios. Lembrou-se de que ele reprovava a ideia de continuar a cavalo. Tinha consciência de que devia gratidão àquele alfa pelo cuidado com que o tratara, porém não suportava ser mimado. Queria entrar logo em ação e Jae-hyun o esperava. Precisava voltar para ele sendo o mesmo homem ao qual o ômega concedera a mão; não se conformava em se apresentar diminuído e incapacitado diante do homem que amava.

Indiferente à oposição do criado, ele montou. Mas o alfa não desistia:

— Posso ir com o senhor, milorde? — pediu, olhos fixos no rosto do amo, uma das mãos no pescoço da égua inquieta.

— Hoseok, chega! Não acha que já sou grandinho?

Sua paciência se esgotara, na ansiedade de partir. Mas a preocupação e desaponto que se estamparam no rosto do criado suavizaram a sua raiva.

— Não seja desmancha-prazeres, Hoseok! Não vai me acontecer nada em uma estrada com movimento, durante o dia. Você vai seguir logo atrás de mim e saberá se houver alguma coisa.

Hoseok concordou, sabendo que nada poderia fazer. Quando seu amo decidia algo, era difícil convencê-lo do contrário. O conde acenou um adeus e fez a fogosa égua, Delila, se movimentar. Enquanto olhava o amo distanciar-se, o criado consolou-se: talvez se preocupasse à toa, o conde conhecia as próprias forças.

Ao deixar a cidade para trás, Namjoon sentia prazer cavalgando entre os campos verdes. Conduzia a égua a galope firme, só diminuindo o passo quando o caminho piorava ou ao encontrar gado atravessando a estrada.

No meio da tarde, a marcha forçada fez sentir seus efeitos. Ainda estava a horas da capital, e seu ombro doía como se cavalgasse há dias. Cada passo da montaria o atingia como um ferro em brasa. 

Ao chegar à última parada antes da cidade, ele precisava de algo mais que um simples descanso. Mesmo as duas doses de brandy que tomara enquanto alimentavam e cuidavam de Delila não conseguiram apagar a contraída expressão de dor em seu rosto. Manteve-se na sela até o fim, por pura teimosia.

O ômega do Conde | NamjinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora