Capítulo 60

4.2K 460 41
                                    

Já são duas horas da manhã e o silêncio do meu quarto não consegue ser mais irritante do que o fato de eu já ter deixado várias mensagens para Mia e nenhuma delas ter sido respondida - ou ao menos visualizada. Eu perdi as contas de quantas vezes eu liguei para ela e sempre ouvia a mesma coisa.

Oie, você ligou para Mia Collins. Talvez eu esteja em casa mas o celular insiste em fugir de mim, deixe seu recado e eu vou retornar assim que encontra-lo.

Talvez eu devesse sair dessa cama e pular a janela do quarto dela, mostrar que posso estar ali sempre que ela quiser, sempre que ela precisar. Meus dedos coçam com a extrema vontade de jogar o edredom para o lado e me enfiar na primeira roupa que vier pela frente. Sem demora me sento na cama, tentando encontrar algum sinal dela encarando sua janela, infelizmente, com as cortinas fechadas. Irritado demais para ficar sentado decido me levantar e sair do quarto, deixando a angustia com minha solidão. Elas tendem a se resolver melhor sozinhas.
O corredor esta pouco iluminado, a porta do quarto dos meus pais está fechada e felizmente a de Anthony também. Os quadros pendurados nas paredes podem soar um pouco assustadores a essa hora da noite, tantas pessoas importantes nas quais eu nem sei os nomes me julgando apenas com o olhar. Pelo menos é dessa forma que eu sinto.
Paro de respirar por um instante ao sentir o piso de madeira gelado entrar em contato com a sola dos meus pés, evidenciando que eu estava prestes a descer a escada sem prestar o mínimo de atenção. Sem me segurar no corrimão desço rapidamente, ansiando cada vez mais por conseguir chegar ao quarto da ruiva e finalmente dar fim as minhas dúvidas.
Porque o senhor Collins parecia tão aflito na ligação ?
Porque a ruiva não me dá algum sinal de vida?
Respiro fundo, encarando a porta da entrada da casa como se ela fosse a única coisa que me separasse das minhas respostas. Sem mais demora decido ir em frente, deixando toda a ansiedade para trás e enfrentando minhas incertezas. Claro, todas as portas da casa dela estão trancadas a essa hora da noite, mas voltar aos velhos hábitos sempre facilita a minha vida.
Escalo a árvore devagar e com cuidado, observando que sua casca está um pouco úmida e isso pode acabar resultando em uma queda daquelas caso eu me descuide aqui em cima. Com uma das mãos verifico se a janela está trancada, agradecendo mentalmente por Mia ter apenas abaixado a guilhotina antes de ir dormir, enquanto me seguro em um dos galhos com a outra mão. Ergo a guilhotina e me impulsiono para frente, colocando as pernas no batente de madeira e só soltando a árvore ao ter metade do meu corpo para dentro do quarto da ruiva. Com dificuldade, mantenho a janela aberta apoiando no meu braço esquerdo enquanto termino de me colocar para dentro.
Meus pés tocam o piso sem fazer barulho, me relembrando a primeira vez que entrei nesse quarto.
E

stava nítido do rosto dela o quanto a mesma estava confusa e assustada por tudo o que aconteceu naquele dia.
Vê-lá adormecida nessa cama enorme cheia de travesseiros ao seu redor me faz pensar que ela pode se sentir solitária na hora de dormir, rio baixo com o pensamento de pular sua janela todas as noites para esquentar seu corpo com o meu durante as madrugadas frias. Fecho os olhos por um momento, inspirando o ar doce e querendo guardar na memória cada nota desse perfume suave. O perfume da pele dela depois do banho.
Alguns passos são suficientes para que eu chegue até ela, tocando seus cabelos avermelhados com as pontas dos dedos.
Os fios tão macios quanto seda.
Sem mais demora me inclino para frente, deixando meus lábios tocarem os seus no intuito dela acordar mais depressa.
Bem, eu poderia pular em cima dela mas isso renderia um grito assustado e eu não estou a fim de explicar ao senhor Collins o que eu estou fazendo aqui as duas da manhã. Sei que sua imaginação seria bem criativa enquanto a isso, mas ainda sim é uma péssima ideia.
Os olhos dela se abrem junto com um sorriso. E que sorriso.
- posso deitar com você?
- só deixa eu achar o Charlie antes, não quero ser você deite em cima dele.
Ergo meu tronco para sair de cima dela e começo a jogar todas as almofadas no chão, entrando encontrar o gato afim de me deitar logo ao lado da ruiva. Mia se senta na cama, erguendo um pouco o edredom e encontrando o pequeno Charlie deitado ao lado de seu quadril.
- se importa de colocá-lo na caminha dele?
- não, não me importo.
Charlie acorda com o carinho da dona e logo estica suas patinhas para se espreguiçar, uma cena que com certeza derreteu o coração da ruiva. Pego o filhote com cuidado, o colocando deitado no meio do círculo fofo e macio.
- a cama desse gato é melhor que a minha. - digo ao vê-lo se ajeitar.
- ele também merece ficar confortável.
Me enfio debaixo do edredon e a puxo para mais perto, a fazendo deitar a cabeça em meu peito.
- pode me contar agora o que aconteceu? Confesso estar bem curioso.
- Verônica está enfrentando alguns problemas com seu filho mais velho, aparentemente ele gosta de sumir por um tempo e quando aparece volta cheio de dívidas e com alguns hematomas.
- aparentemente ele deve mexer com coisas ilegais então.
- não sabemos ao certo, mas vovô já colocou um detetive particular atrás dele a algum tempo e ele não trouxe notícias muito boas hoje. - Mia respira fundo antes de continuar. - o detetive alegou que Miguel está envolvido com uma máfia internacional, algo tão grande que nenhuma lei consegue intimidá-los. Ele faz é o responsável por fazer os diamantes entrarem nos países aonde serão vendidos, passando por cima de qualquer um que esteja no seu caminho. Atualmente parece que Miguel está crescendo nesse meio e as vezes, chega até a matar pessoas para se manter no cargo e se sentir respeitado. Isso acabou com Verônica, ela ainda achava que o filho tinha salvação e ouvir isso a fez apenas querer ir para casa ficar sozinha por um tempo. Vovô ficou desesperado ao vê-la naquele estado e por isso me ligou, mas Verônica não quis esperar e saiu daqui correndo.
- Nossa, imagino o quanto ela possa estar devastada com tudo isso. - deixo meus dedos acariciarem seu couro cabeludo,  ligando brevemente a informação de trágico de diamantes aos pais da ruiva.
Eles podem ter expandido suas redes para cá antes de virem atrás da filha.
- sim, eu queria ligar para saber se ela queria conversar mas vovô acha melhor  darmos um tempo para que ela pense melhor sobre o assunto.
- sabem a quanto tempo ele faz esse tipo de trabalho?
- uns quatro meses pelas previsões do detetive.
Pensar que Benjamim Collins pode estar por trás disso não é tão difícil, de acordo com o dociê ele conseguiu expandir mundialmente o seu negócio sujo e conseguir certos tipos de subordinados para fazer qualquer tipo de serviço não seria tão difícil.
- ela vai ficar bem ruiva.
Mia se apoia em um dos cotovelos para se erguer e me encarar, os olhos vidrados nos meus.
- achei que você tinha vindo até aqui porque estava com saudades.
Levo uma das mãos até seu rosto, sentindo a pele quente dela contra meus dedos gelados. Um leve tremor atinge seu corpo e eu molho os lábios como resposta a sua reação.
Parece que alguém está sensível.
- entenda uma coisa ruiva: eu sinto a sua falta a cada momento em que você não está do meu lado, a cada segundo que eu deixo de tocar a sua pele, a cada vez que a sua boca está longe da minha.
Em uma atitude impensada me sento na cama, a puxando para cima de mim, deixando suas pernas uma de cada lado do meu quadril.
- até o seu cheiro me faz falta.
Molho os lábios, notando agora seus mamilos excitados por baixo da camisa de tecido fino. O calor crescente no meio das suas pernas fazendo meu coração  bater mais forte.
- você é a mulher mais linda que eu já vi Mia Collin, e o melhor de tudo isso é  que você é tão minha quanto eu sou seu.
Pego sua mão esquerda, a colocando em cima do meu peito. Quero que ela sinta meu coração batendo fervorosamente por ela.
- está sentindo? Esse é o efeito que você  causa em mim senhorita Collins.
Sei o quanto essas palavras são importantes pra ela, Sam me deixou prevenido que Mia gosta de saber o que estou sentindo e que me abrir com ela seria uma das formas de demonstrar o meu amor. É, isso é  novo pra mim.
Mas confesso que gosto de ver esse sorriso bolo em sua boca.
- sinta se privilegiada dele ter te escolhido.  - brinco, querendo fazê-la rir um pouco.
O clima fica mais silencioso do que eu poderia  imaginar, talvez por que ao invés de rir Mia prefere ser ousada e se inclinar mais para frente,  tentando chegar mais perto.
- você Andrew Grayson, deveria se sentir privilegiado por estar no meu coração.
Pode acreditar ruiva, eu sou privilegiado só por te ter ao meu lado.

Collins Onde as histórias ganham vida. Descobre agora