19.

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A I D A N

Seis dias para as finais.

Eu particularmente acreditava que atletas tinham calendários embutidos dentro deles, contagens regressivas que nós podíamos sentir, cronômetros que pulsavam na mesma batida de nossos corações.

Teoricamente, era uma manhã como todas as outras. Eu saí da cama assim que meu alarme tocou, me vesti e saí para minha corrida matinal antes do café da manhã. Era sábado, mas eu era um defensor de que a semana tinha pelo menos seis manhãs úteis. No dia anterior, o treinador havia convocado uma reunião com o time para discutir os últimos detalhes técnicos do jogo e, na segunda, teríamos nosso último treino pesado. O sentimento de antecipação sem dúvidas seria palpável e aumentaria mais e mais até estarmos de fato no gelo, prestes a jogar. Eu conhecia a sensação, toda a ansiedade e expectativa, mas também a pressão e a tensão.

Chegar tão longe em um campeonato era incrível e assustador ao mesmo tempo, mesmo que eu jamais fosse admitir o último em voz alta. Quanto mais alto se está, maior é a queda, não era assim que diziam?

Para todos os fins, eu era o capitão e eu tinha um papel que ia além das minhas habilidades no gelo. Eu tinha que ser a cola que mantinha o time unido, a cabeça fria que sempre sabia o que dizer e o coração apaixonado que inspirava todos ao meu redor. Mesmo que isso felizmente fluísse naturalmente para mim na maior parte do tempo, eu ainda estava ciente dessas funções, sabia quando precisava executar cada uma delas, sentia em meus ossos. Simplesmente tinha que fluir, tinha que ser instintivo, pois pensar sobre tudo isso sempre deixaria qualquer um louco.

Quando eu voltei para casa, Allison já estava na cozinha, com seu café da manhã diante de si - uma vitamina de fruta e uma tigela de granola, iogurte e morangos - e um sorriso em seu rosto enquanto ela falava ao telefone. Ao seu lado, sobre o balcão, havia um buquê de flores cor de rosa, com um cartão preso à ele. Com apenas um olhar, eu reconheci a caligrafia como a de nosso irmão mais velho, o que me fez parar por um instante. Ele mandava flores para ela?

Eu sabia que minha irmã estaria competindo naquele final de tarde e também sabia que ela não esperava a presença de ninguém lá para assisti-la. Ela estava acostumada a estar sozinha. Michael não estava aqui, nossa mãe nunca estava por perto e eu... eu era o idiota que havia ignorado tudo relacionado à Allison por todo esse tempo.

Ouvi-la confessando para Hunter um par de dias atrás que ela não queria ter que pedir para ninguém estar lá e tentava se conformar com o fato de que ninguém estava havia de alguma forma me chacoalhado. Talvez porque eu nunca havia realmente parado para pensar que não era o único sofrendo com nossa disfunção familiar. O único que havia desistido de procurar um rosto familiar na multidão, alguém que estava lá exclusivamente para você. Eu sabia o que era isso, mas até então não havia realmente compreendido que Allison também.

Bem, eu não era tão estúpido. Eu sabia que não havia ninguém lá torcendo por ela também, mas nunca havia de fato reconhecido isso, não até recentemente. Com tanto tempo mantendo distância, havia sido fácil cair no caminho da ignorância e da conveniência e reverte-lo agora apresentava verdades bem tão bonitas.

Allison acenou para mim quando eu fui até a geladeira para caçar meu próprio café da manhã, o telefone ainda contra a orelha, falando com nosso irmão, eu supunha. Nós permanecemos em nossos próprios mundos e eu comi em silêncio enquanto ela conversava, seus olhos nunca deixando o buquê diante de si por muito tempo. Ela ainda estava entretida quando eu terminei e eu a deixei sozinha, subindo para tomar um banho rápido e me livrar do suor da corrida. 

The Colors BetweenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora