Na manhã do dia seguinte, eu tinha que estar de pé antes das nove. Quando abri os olhos, ele estava dormindo. Como da última vez. Dormia profundamente e nem ao menos realizava um movimento sequer. Eu iria pedir que fosse embora do meu quarto, esse era o planejamento. Afinal, possivelmente não estaria mais bêbado. Mas, enquanto ele dorme, sua presença fica irreparável e eu realmente tive pena de fazer isso.
Não sei qual é a dele em aparecer assim no meu quarto. Depois do que fez, deveria assumir consciência, e manter distância de mim.
Coloquei o uniforme e fiz uma trança no cabelo. O processo demorou meia hora e faltavam vinte e dois minutos para a minha primeira aula.. No silêncio da minha cabeça, eu procurava um jeito válido, para que ele ouvisse apenas uma vez, e não resistisse a minha ordem. Teria que ter pulso firme, só assim Thomas me levaria a sério.
Quando estava exclusivamente pronta para sair, fiz contagem regressiva. Primeiro, acordaria ele. Segundo, diria para ir embora. Terceiro, eu iria assumir toda a seriedade de alguém que exige respeito. Não há como falhar.
Antes disso, ouvi batidas na porta. Eu não iria abrir. Não arriscaria. Mas para minha feliz surpresa, era a voz de Brian. Eu abri a porta, e não me senti surpresa ao vê- los. É claro que vieram buscar o amigo.
— Cadê ele? — Lucas endireitou a postura.
Ele aparentava estar sonolento, e quase não suportado o peso de querer desabar nos próprios pés. Uma festa. Era óbvio. A ressaca estava estampada nos rostos de cada um deles. Eis o possível motivo para não terem atendido minhas ligações.
— Está aqui. — respondi, encarando um a um. Dessa vez, não haveria mentiras.
— Podemos entrar? — Eric perguntou. Dentre eles, o único com uma aparência não tão fraca e cansada.
Dei espaço para que entrassem, abrindo um pouco mais a porta. Atravessaram, um por vez. Só então me lembrei daquele deplorável detalhe. Thomas não estava usando roupa alguma. Obviamente, seus amigos deduziriam que eu e ele, nos relacionamos. Não tive nem cinco segundos para pensar nessa perspectiva. O olhar aborrecido de Lucas já pesou em mim, no momento em que afastaram o corpo adormecido de Thomas, do lençol.
Eu estava me sentindo exageradamente envergonhada. E embora não fosse um hábito cobrir o rosto, tive que controlar as mãos. Tentei agir naturalmente, mas não fui capaz de encarar a cara feia de Lucas por muito tempo. Fiz questão de olhar para o outro lado, me sentindo estranha.
Os outros, não disseram nada. Reagiram a isso, como algo casual. Fiz agradecimentos internos. Fiz de tudo para conter a vontade de demonstrar o constrangimento.
— Onde estão as roupas dele? — Brian foi direto ao ponto. Ele não queria saber o porquê de Thomas estar despido, e sim queria que eu entregasse as peças de roupa para ele.
— Estão no banheiro.
Fui ao banheiro e quando voltei, entreguei as roupas dele a Brian. Lucas me encarou de novo, sem receio algum, com aquela expressão evidente. Por isso decidi que não ficaria ali. Pouparia- me de aguentar o julgamento dele.
— Você sabia que não se trepa com alguém que está nitidamente chapado? — antes que pudesse responder, Lucas acrescentou com aquela feição sórdida: — Você é maluca por acaso?
Meus olhos perambularam pelo quarto, checando se os outros se importavam com isso.
— Não enche. Você nem viu merda nenhuma. — Eric respondeu por mim.
— Porque claramente, não preciso. Você sabe como o filho da puta do Collin fica quando está chapado. — Lucas deu continuidade a aquele tom invariável, dando dois passos para a direção de Eric.
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A última noite
RomancePara Scarllet, sua vida deveria ser seguida à risca, com muitas expectativas a cumprir. Ao crescer cercada por muros de colégios internos, obedecendo normas, e prestes a completar dezoito anos, pela primeira vez em sua vida, esteve presa em um mar d...