capítulo 44

76.8K 5.4K 26.2K
                                    

Na manhã do dia seguinte, eu tinha que estar de pé antes das nove. Quando abri os olhos, ele estava dormindo. Como da última vez. Dormia profundamente e nem ao menos realizava um movimento sequer. Eu iria pedir que fosse embora do meu quarto, esse era o planejamento. Afinal, possivelmente não estaria mais bêbado. Mas, enquanto ele dorme, sua presença fica irreparável e eu realmente tive pena de fazer isso.

Não sei qual é a dele em aparecer assim no meu quarto. Depois do que fez, deveria assumir consciência, e manter distância de mim.

Coloquei o uniforme e fiz uma trança no cabelo. O processo demorou meia hora e faltavam vinte e dois minutos para a minha primeira aula.. No silêncio da minha cabeça, eu procurava um jeito válido, para que ele ouvisse apenas uma vez, e não resistisse a minha ordem. Teria que ter pulso firme, só assim Thomas me levaria a sério.

Quando estava exclusivamente pronta para sair, fiz contagem regressiva. Primeiro, acordaria ele. Segundo, diria para ir embora. Terceiro, eu iria assumir toda a seriedade de alguém que exige respeito. Não há como falhar.

Antes disso, ouvi batidas na porta. Eu não iria abrir. Não arriscaria. Mas para minha feliz surpresa, era a voz de Brian. Eu abri a porta, e não me senti surpresa ao vê- los. É claro que vieram buscar o amigo.

— Cadê ele? — Lucas endireitou a postura.

Ele aparentava estar sonolento, e quase não suportado o peso de querer desabar nos próprios pés. Uma festa. Era óbvio. A ressaca estava estampada nos rostos de cada um deles. Eis o possível motivo para não terem atendido minhas ligações.

— Está aqui. — respondi, encarando um a um. Dessa vez, não haveria mentiras.

— Podemos entrar? — Eric perguntou. Dentre eles, o único com uma aparência não tão fraca e cansada.

Dei espaço para que entrassem, abrindo um pouco mais a porta. Atravessaram, um por vez. Só então me lembrei daquele deplorável detalhe. Thomas não estava usando roupa alguma. Obviamente, seus amigos deduziriam que eu e ele, nos relacionamos. Não tive nem cinco segundos para pensar nessa perspectiva. O olhar aborrecido de Lucas já pesou em mim, no momento em que afastaram o corpo adormecido de Thomas, do lençol.

Eu estava me sentindo exageradamente envergonhada. E embora não fosse um hábito cobrir o rosto, tive que controlar as mãos. Tentei agir naturalmente, mas não fui capaz de encarar a cara feia de Lucas por muito tempo. Fiz questão de olhar para o outro lado, me sentindo estranha.

Os outros, não disseram nada. Reagiram a isso, como algo casual. Fiz agradecimentos internos. Fiz de tudo para conter a vontade de demonstrar o constrangimento.

— Onde estão as roupas dele? — Brian foi direto ao ponto. Ele não queria saber o porquê de Thomas estar despido, e sim queria que eu entregasse as peças de roupa para ele.

— Estão no banheiro.

Fui ao banheiro e quando voltei, entreguei as roupas dele a Brian. Lucas me encarou de novo, sem receio algum, com aquela expressão evidente. Por isso decidi que não ficaria ali. Pouparia- me de aguentar o julgamento dele.

— Você sabia que não se trepa com alguém que está nitidamente chapado? — antes que pudesse responder, Lucas acrescentou com aquela feição sórdida: — Você é maluca por acaso?

Meus olhos perambularam pelo quarto, checando se os outros se importavam com isso.

— Não enche. Você nem viu merda nenhuma. — Eric respondeu por mim.

— Porque claramente, não preciso. Você sabe como o filho da puta do Collin fica quando está chapado. — Lucas deu continuidade a aquele tom invariável, dando dois passos para a direção de Eric.

A última noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora