Para uma manhã de sábado, eu havia sobrevivido bem, durante o resto da semana. Não vejo Thomas desde a última vez. Me isolei em meu quarto, e agora, tenho a sensação de que tudo voltou a ser como antes.
É claro, que não seria totalmente. Porque agora, tenho muitas memórias. Enquanto isso, o dormitório estava bastante silencioso. A inexistência de ruídos era intrigante. Não havia nem mesmo, sons de passos.
Não tinha tanto o que fazer. Sem querer, eu havia percebido que a minha vida é entediante. Cresci dentro de muros de escolas internas e nem mesmo tendo chances de usufruir da "liberdade", ainda assim, eu havia perdido boa parte da adolescência.
Talvez se não estivesse ocupada demais, mergulhado em páginas e páginas de livros, me isolando no quarto, ouvindo as mesmas músicas e de vez em quando, chorando por motivos desconhecidos, talvez eu carregasse lembranças de uma boa adolescência.
Eu me vesti com um moletom, que era duas vezes o meu tamanho. Enquanto a minha coelhinha, bom, ela havia se adaptado ao ambiente fechado do quarto. Estava sentada em meu colo, enquanto eu acariciava seu pelo branco e macio. Usava um lacinho rosa, e particularmente, estava em uma condição melhor que a minha.
Estava tudo perfeito, até alguém bater a minha porta. Ouvir a voz de Sam, me fez ir arrastada abrir. Ela estava usando uma espécie de moletom azul e uma saia plissada com meia calça arrastão. Também havia ondulado os cabelos.
— O que você está fazendo? — Sam não entrou e nem se moveu. Mas seus olhos bateram em Zoe, que estava em minhas mãos. — Richard está solitário.
— O seu gato? — perguntei confusa.
— Sim! — expressou- se em melancolia. Sam bocejou tocando os próprios fios de cabelos. — O que acha de dar uma volta de skate?
— Mas já é quase a hora do almoço. — arranquei o celular do bolso para checar as horas.
Eram 11:47 da manhã e o almoço seria às 12:00. Ergui para que ela pudesse ver a tela do celular. Mas eu não me importava muito com isso. Não passa de uma boa desculpa, para resistir ao convite.
— Pelo o jeito que está vestida, aposto que nem sequer estava nos seus planos ir para o refeitório.
Ela tinha razão. Fazia parte dos meus planos não ir para o refeitório. Ótimo jeito de evitar ter que ver Thomas.
— Eu vou. E o que tem de errado com a minha roupa?
— Nada, é só que esse moletom parece mais um vestido.
— Ah, é que estava fazendo frio, só isso.
— Scarllet. — Sam fez biquinho como se estivesse implorando para que eu ouvisse. — Há quanto tempo está presa nesse quarto?
— Não muito. — encostei o ombro na parede antes de colocar minha coelhinha no chão. — Você irá para o refeitório?
— Sim, mas não estou a fim de ir agora.
— Hum. — foi a única coisa que pude falar.
Meus pretextos pareciam estar se esgotando. Talvez fosse melhor dizer a Samantha que realmente não quero sair.
— Já que não quer sair, eu posso passar aqui hoje à noite?
— Claro. — balancei a cabeça sorrindo pra ela.
Era engraçado porque eu nunca recebia outra visita, a não ser as visitas de Hilary ou monitores. Era legal saber que eu havia ganhado mais uma amiga.
— Beleza. A gente se vê. — Sam deu de costas com um aceno e foi para a direção do andar de baixo. Era notável em quanto seu cabelo estava bonito, ondulado.
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A última noite
RomancePara Scarllet, sua vida deveria ser seguida à risca, com muitas expectativas a cumprir. Ao crescer cercada por muros de colégios internos, obedecendo normas, e prestes a completar dezoito anos, pela primeira vez em sua vida, esteve presa em um mar d...