Capítulo 6

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Sinto um tremor percorrendo cada parte do meu corpo e um reboliço em meu estômago muito forte. Meu Deus!

Abro os lábios em um sorriso meio torto enquanto deixo de conter o choro que reprimi pela última hora.

Seus olhos demoram a se abrirem de verdade, mas seus dedos agem contra os meus como um afago. Nem sei o que devo fazer, contudo tateio ao lado da cama até encontrar o controle que serve para chamar a atenção dos médicos. Aperto o botão e aguardo.

Apolo abre os olhos em uma tranquilidade invejável. Por um instante até parece que sabe exatamente onde está. Ele olha primeiro para o quarto, vai de um canto a outro vagarosamente, estudando tudo, então seu olhar repousa a mim, me causando uma onda gigantesca de emoção. Sua testa se vinca um pouco, olha para nossas mãos unidas e volta para meu rosto. Meu coração bate na minha garganta com força e o sangue pulsa atrás das orelhas.

Uma enfermeira escancara a porta e entra apressada.

— O que aconteceu? — Ela olha diretamente para Apolo e a essa altura já sabe a resposta.

Nesse momento o meu namorado ergue a mão livre e tenta tirar o tubo enfiado em sua boca, entretanto a profissional recém-chegada se aproxima eficientemente e o impede depressa.

Os dedos dele continuam se mexendo contra os meus. Ergo a mão e seco as lágrimas do rosto.

Os batimentos dele se aceleram e Apolo começa a se mexer, tentando se levantar e se livrar de todos os equipamentos necessários.

— O que está acontecendo? — quero saber. Apolo puxa a mão da minha e a leva ao tubo em sua boca para tirá-lo, mas o impeço imediatamente e seguro seu pulso contra a cama.

Seus olhos me fuzilam com um brilho estranho.

— Senhor, me escute... — A enfermeira se inclina contra ele, a voz tranquila. — O senhor está seguro, mas não pode tirar o tubo endotraqueal até que o doutor venha te ver. Por favor, se tranquilize ou terei que sedá-lo.

Os olhos de Apolo continuam em mim, assinto para ele, tentando parecer tranquilo, embora por dentro esteja totalmente inseguro e nervoso. Volto a mão para a sua e seus dedos envolve minha palma com mais força do que antes, porém em um toque ainda muito singelo.

Com isso, ele se tranquiliza e aos poucos os batimentos vão se regularizando. Seus olhos não deixam os meus, que não param de soltar lágrimas. O choro é livre e me sinto um pouco idiota por estar aos prantos e sorrindo ao mesmo tempo.

A enfermeira solta o braço de Apolo e diz:

— Não se preocupe, é comum que ele apresente confusão nos primeiros momentos. Você fez muito bem em acionar o botão.

Isso me deixa um pouco aliviado, mas não muito. Minha palma contra a dele se encaixa perfeitamente.

— Quando o médico vem?

— Acabei de chegar! — diz o doutro Pedroso, irrompendo pela porta com uma expressão ótima, uma prancheta de metal em uma das mãos, sorriso no rosto e um estetoscópio saltando do bolso do seu jaleco. — Fico feliz em ver que meu paciente está consciente.

O doutro entrega a prancheta para a enfermeira, que dá passagem para que ele examine Apolo como deveria. Ele chega o pulso de Apolo, tira uma lanterna clínica do bolso e a usa para verificar os olhos dele. Passo a passo, ele vai murmurando coisas para que a enfermeira preencha a prancheta usando uma caneta que estava presa com o papel pelo fixador.

A enfermeira pede que eu deixe o quarto por um instante, para que eles tirem o tubo da boca de Apolo, presumindo que não quero presenciar isso. Ela está certa, então deixo o quarto com a promessa de que voltarei logo e saio, a enfermeira fecha a porta atrás de mim.

GUIANDO O PRAZER (+18)Where stories live. Discover now