capítulo 52

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O carro praticamente estava prestes a voar. Era bizarro eu não me importar com isso. Na verdade, desejava que partisse ainda mais rápido. Longe daquele lugar. A pior parte de saber que estamos mesmo fugindo, é pensar que poderão vir atrás de nós. Nada me incomodava, a não ser ter que olhar para trás, com medo. A cabeça fervilhando incessantemente. A impressão de que há alguém logo ali, vindo na nossa direção.

A fita adesiva, cobre o corte e evita a passagem de mais sangue. O local ferido dói. Posso sentir por dentro, o fervor quente dilatando, deixando de preencher as artérias. Não consigo sentir minha mão. Não consigo sentir minha perna. Me sinto tonta, exausta. Até mesmo respirar, se tornou cansativo, e tenho quase certeza que estou pálida. Sem querer, acabei sujando o banco do carro.

Brandon só podia se concentrar. Sam pensava. Ela olhou para mim por um instante, mas voltou a se concentrar na linha de pensamento. De certa forma, é como se todos nós estivéssemos assim. Compartilhando as mesmas emoções. Imaginando, processando os fatos.

— Eles sabem para onde vamos — Sam murmurou, como se estivesse sentindo pontadas de dor. Ela tocou o joelho, e por mais que eu tentasse ver, não conseguia enxergar evidências de cortes, até ela arrancar com as pontas do dedos, algo invisível. Eu não conseguia perceber. Não no escuro. Mas aquilo, era um minúsculo caco de vidro.

— Acha que virão atrás de nós? — Brandon apertou o volante com as mãos. Ele estava tão assustado quanto eu.

O carro estava a 150km, estávamos rápidos. Se quisessem nos alcançar, teriam que correr. Mas mesmo assim, não era uma excessão.

— Você acha? — Sam evidenciou mais um murmuro enquanto analisava o próprio joelho. — Agora nós sabemos de artigos confidenciais. Podem não nos machucar, mas irão encontrar outras formas de arrancar a verdade. Não tem como fugir, mas tem como atrasar o processo.

Odiava ouvir aquilo, porque era verdade. As fotos dos arquivos, ainda estavam guardadas em meu celular. Nós três estamos encrencados, e eu não havia contado com isso, enquanto formulava o plano na minha cabeça.

— Não pude encontrar nada do que procurava. E vocês? — questionou Brandon. Ele murmura de um jeito choroso. Pelo o que parece, eu não fui a única que me machuquei.

— Nada — Sam prendeu os cabelos me observando de um jeito estranho, mas logo desviou.

— Por que está me olhando assim? — suspirei drasticamente, fazendo rapidamente a pergunta que estava presa em minha garganta.

— Nada.

— Então, o que vamos fazer? Para aonde vamos?

— Não sei. Como está a sua perna? Acho melhor irmos para um hospital — Brandon, apesar de assustado, também conseguia demonstrar sua preocupação.

Sam estava mais tranquila. Percebeu que o sangue da perna e do pulso, estavam findando o processo de hemorragia.

— O hospital mais próximo, é o da cidade — Sam inspirou. Olhou constantemente para a minha perna, para o pulso, para mim.

— Passamos no hospital, e depois a gente se hospeda em uma das casas do meu pai — Brandon arriscou a dar uma olhadinha, antes de se voltar novamente para a estrada.

— Ou, podemos ir para uma das casas dos meus pais— Sam ofereceu.

— E por quê não para lá? — Brandon respondeu Sam como se de certa forma, estivesse ofendido pela sua simples sugestão.

— Porque, basicamente, o motivo da gente estar nessa situação, é culpa do seu pai. Afinal, aqueles idiotas armados, só estavam cumprindo ordens.

Ótimo. Agora alguém receberia a culpa. Afinal, quem é o culpado de toda essa situação? O pai de Thomas, por querer que sua privacidade seja respeitada, os homens armados, por estarem cumprindo ordens, ou eu? Por ter dado essa ideia estúpida? A resposta era simples e sem rodeios.

A última noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora