Engano

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— Você parece bem mais calma agora.

— É e sinto muito por isso.

Começo a me erguer, me sento na cama e olho envolta atrás das minhas roupas, não sei se fico grata pelo fato de apenas o abajur estar aceso ou se fico ainda mais constrangida, quero me cobrir e sair daqui. Não entendo bem o que aconteceu aqui, mas compreendo uma parcela das coisas que levaram isso a acontecer, preciso tomar um banho e uma pílula do dia seguinte, começar a trabalhar mais com o Brian e tentar lidar com o fato de que é melhor que ele faça a jornada dele do que com tudo isso o que está acontecendo.

— Eu não sinto. — a voz dele está firme, sinto a mão segurando meu pulso. — Vamos falar sobre isso.

— Talvez esteja confuso agora, mas garanto que isso não vai voltar a acontecer senhor Martim. — falo — Você só está achando que gostou porque ele fez isso conosco, eu nem acredito que ele fez isso.

Ou não quero acreditar.

— Foi bom, muito bom na verdade. — ele diz.

— Sinto que tenha passado por isso. — estou começando a ficar envergonhada.

Sei que ele ainda está sob efeito da influência, em pessoas comuns é algo que pode demorar, em mim é algo que dura só no calor do momento, me sinto uma verdadeira trouxa.

— Ele nos usou. — praguejo e me solto da mão dele.

— Não foi bem assim que aconteceu, eu estou bem ciente do que fizemos.

Isso é novidade.

Me viro para ele bem surpresa, o homem fica me olhando pensativo, suado, o rosto vermelho demais e os lábios da cor de carmim, não sei se poderia dizer que não gosto da visão, uma coisa é imaginar como ele é totalmente pelado na minha cabeça e outra totalmente diferente e ver isso ao vivo e a cores.

Me sinto idiota.

Pego o travesseiro e jogo na direção das coisas dele, respiro fundo e pego o cobertor jogado num canto da cama bagunçada, conseguimos tirar até a colcha no que eu posso começar a chamar de confusão, abro o cobertor e me cubro colocando-a por cima dos ombros.

— Tenho esses sonhos com você e ainda não sei explicar como me senti agora a pouco, mas estava aqui o tempo todo e quis, mesmo que em alguns momentos tenha me sentido estranhamente um terceiro, eu fiz porque queria.

— Fez porque ele te influenciou, ele te fez usar o perfume dele para me seduzir, ele te influenciou a vir até aqui para te usar.

— Eu gostei bastante.

— Você só está sob a influência de um espírito, Sea, daqui a pouco volta a me chamar de obesa e a falar merda.

Saio da cama começando a ficar chateada.

— Eu não estava mentindo quando disse aquilo agora a pouco, ainda não sei explicar o que está acontecendo — os olhos dele já estão em seu normal. — Tenho tido sonhos com você, algo que é como o que fizemos há pouco, isso foi tão excitante, você é muito gostosa.

Minhas bochechas queimam e recolho meu macacão e minha calcinha, não consigo nem olhar na cara dele.

— Amanhã você volta ao normal.

— Eu estou normal. — Retruca saindo da cama. — Olha, com certeza eu não posso mentir sobre como me sinto em relação a isso, eu queria muito transar com você e foi consensual.

— Ufa, achei que você iria correr até a polícia e dizer que foi possuído pelo espírito ragatanga. — replico desprovida de humor.

Ele joga o travesseiro na cama e desvio o olhar arregalando os olhos, sei que ele sorri e isso é esquisito.

— Me senti tenso em admitir que quero você.

— Entendi.

De costas para ele começo a tentar enfiar a calcinha pelo pé direito, de repente sinto o cobertor sendo arrancado dos meus ombros e sou puxada pelos quadris para trás, sinto tranco e por pouco não me desequilibro e caio, me ergo realmente irritada.

— Eu tenho que ir para o meu quarto, se não percebeu as meninas estão lá. — reclamo.

— Podemos ficar um pouco aqui... juntos, não acha?

— Para de ser emocionado, eu só usei o seu corpo para transar com o meu marido.

— Eu gostei de ser usado, me use de novo.

Oprimo o sorriso e sinto uma mordida suave no ombro, ele me abraça e fico parada dividida entre ficar aqui e ir para o meu quarto, envolvida por uma situação que não desejei, por uma pessoa que sei que amanhã talvez me odeie por ter permitido que isso acontecesse.

— Não quero desculpas — ele beija a minha bochecha. — Vem ficar um pouco comigo, fico carente depois do sexo.

— Ah, sei.

Com coisa que você precisa né?

Me viro e o olho nos olhos, estão aparentemente normais, cor e tamanho das pupilas, este diante de mim é Sea Martim em sua essência e pessoa, suspiro.

— Tenho lutado contra isso. — confessa.

— Então, vamos tentar resolver isso como dois adultos, sem que me ofenda. — respondo séria.

— Você se ofende com pouco.

— Ok, vou para o meu quarto...

Me desvencilho dos braços dele e dou um passo para trás, Sea me segura e me puxa pela cintura contra seu corpo, ele me encara com cara de quem comeu e não gostou.

— Desculpe, vamos conversar francamente, como adultos, vou falar coisas que não possam te ofender, ok? Espero um pouco de tolerância.

— Combinado, sem julgamentos?

— Vem para a cama, vem.

Reviro os olhos, ganho um beijo suave e vou caminhando para a cama com ele, minhas mãos vão pousando em seu peito e tocando a pele quente, não é como sentir aquela quentura de antes, nem a sintonia ou atração.

Fui tapeada.

Contudo ainda assim, não quero me afastar dele, mesmo que deva. Agora é arcar com as consequências do que houve há alguns momentos atrás e que Deus nos ajude porque se depender da situação como ela está, estou totalmente ferrada.




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