Capítulo 9

257 30 15
                                    

Apolo sai do elevador feito um foguete, sem olhar em minha direção, deixando-me aqui com o cheiro do seu perfume no ar e o silêncio pesando em meus ombros.

Levo um instante antes de sair e segui-lo até a recepção limpa e clara. O cheiro do lugar piora meu estado e meu estômago se retorce. Parece engraçado que poucas horas antes estávamos deixando esse mesmo hospital e já estamos aqui de novo. Espero que isso não se transforme em uma rotina mórbida.

O som de conversas paralelas em uma sala de espera adjacente é baixo e distante, quase um zumbido.

Do outro lado do balcão, há duas recepcionistas e uma delas encara Apolo com uma expressão sugestiva, ela é ruiva e usa óculos no rosto fino, sua expressão sugere impaciência enquanto meu namorado explica a razão da sua presença. A mulher da direita ergue o olhar por um instante antes de voltar a baixar o rosto de bolacha para o trabalho.

Encosto-me ao lado de Apolo, ergo a mão e a coloco sobre a dele, sobre o balcão. Ele me olha, o rosto pálido, então faz um sanduiche com a minha palma ao colocar a outra mão sobre ela.

Qual é mesmo o nome dela? — questiona a ruiva parecendo meio aérea.

— Dalila Nogueira Sampaio.

Ela se vira para seu computador e digita por um instante. A mão de Apolo aperta a minha e isso me ajuda um pouco, embora meu estômago continue retorcendo-se.

— Encontrei, ela está no quarto quinhentos e vinte, mas não pode receber visitas por ora.

— Por quê? — A voz dele falha, pigarreia. Sua mão continua apertando a minha.

— Não se preocupe, senhor. Ela está sendo submetida a exames necessários, peço que...

— Tem alguma informação sobre o estado dela? E o bebê? — interrompe, sua voz se elevando um pouco. A recepcionista ruiva dá um salto no seu lugar e a outra olha para ele pelos cantos dos olhos, sem se virar.

— Como disse, ela está sendo submetida a exames, portanto não tenho maiores informações, senhor. Peço que aguarde por mais notícias na sala de espera bem ali.

Apolo não responde, apenas tira a mão de cima da minha, fecha os olhos e pressiona a ponte do nariz por um instante.

— Aí, graças a Deus, vocês chegaram! — Reconheço a voz de Leona, e ela está tremula. A moça sai da sala de espera mais adiante e vem ao nosso encontro tão rápido que mal tenho tempo de entender, seus cabelos soltos balançam como uma cortina ao redor do seu rosto.

Leona pula em Apolo e envolve seu pescoço com os braços. Isso pega tanto a mim quanto a ele de surpresa e o faz resmungar. Dá um passo para trás e puxa a mão da minha para segurá-la pela cintura enquanto ela esconde o rosto em seu peito e começa a chorar quase aos berros.

— Leona, cuidado — repreende, baixo.

Ela, por sua vez, não diz nada. Continuo com a mão sobre a superfície fria da bancada.

— Eu não... Não pude... — Sua voz sai abafada. Me aproximo dela e toco seu ombro. Apolo me olha e retribuo o seu olhar, suas sobrancelhas se retorcendo, sem entender nada, as mãos levemente contidas na cintura dela. — Me desculpe... Ela estava lá, naquele...

Sua voz está embargada por causa do choro. É estranho ver Leona passar da mulher furiosa que me agrediu meses atrás para essa que está em prantos nos braços de Apolo. O som de sua fala retumba pelos quatro cantos e recebemos olhares de curiosos vindos de todos desde as recepcionistas, passando pelos médicos que aparecem com pastas nas mãos, pelas pessoas que desembocam do elevador justo agora, até chegar nas pessoas que estavam na sala de espera. Parece que nenhum deles nunca viu uma pessoa chorando assim.

GUIANDO O PRAZER (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora