55_ Fim.

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Eliza Claire

— Não fique triste porque acabou, fique feliz porque aconteceu... — Sussurrou o Bigode, meu pai hospedeiro, enquanto me abraçava no meio do aeroporto.

Retirei o meu rosto do ombro dele e sorri sem dentes para um dos homens mais simpáticos que eu já tive o prazer de conhecer.

Apesar do sorriso e de toda gratidão que eu sentia, algo estava faltando.

— Obrigada pelo ano mais feliz da minha vida. — Aumentei o sorriso, me virando para a Foguinho, que tinha a sua mão no meu ombro.

O Adam puxou um lencinho do bolso da calça do pai e começou a limpar as lágrimas.

— Eu acho que você não quer saber onde esse lencinho tava... — O pai dele soltou com os olhos arregalados, fazendo a Brenda engasgar e começar a tossir descontroladamente.

Não acredito que o Adam acabou de passar os irmãos na cara...

Olhei em volta mais uma vez, querendo me certificar se tudo era real.

O Theo não estava aqui.

Assim como também ele não esteve presente nos últimos 4 dias. Eu fiz questão de visitar ele um dia depois da nossa conversa. Ele não estava em casa, mas o pai dele atendeu a porta, dizendo que o Theo tinha saído. Nos dois dias seguintes foi a mesma coisa. Hoje, fomos buscar ele antes do aeroporto, para que ele tivesse a chance de se despedir — pelo menos se despedir —, mas nem ele ou o pai dele estavam.

Eu não queria admitir, mas aquilo quebrou algo dentro de mim.

Talvez fosse por isso que eu me sentia tão vazia. Talvez fosse por isso que eu estava segurando as minhas lágrimas durante dias.

— Sabe algo que eu nunca entendi? Como você é tão boa em economia. — A Soso comentou me olhando com lágrimas nos olhos em uma tentativa de aliviar a tensão.

— No Brasil, a gente se mata por economia. — Respondi dando de ombros.

— Tá explicado. — Ela sussurrou entre lágrimas, mas ainda assim não me deixando chegar perto para um abraço, pois segundo ela, se eu abraçasse ela, a despedida seria real demais.

— Uma coisa que eu não entendo é como você pode ter namorado a Zoé mesmo não confiando nela. — Soltei com um tom de sarcasmo.

— Quem recusa buraco é prefeitura. Gostar dela e transar com ela são duas coisas muito diferentes! — Explicou indignada.

— Ok, Eliza, vamos checar os seus documentos? — O Bigode pediu estendendo a mão com os olhos arregalados pelo comentário da Soso e eu suspirei.

— De novo? — Perguntei entregando os meus documentos pela 23ª vez.

[...]

Parte de mim talvez esperava que ele fosse aparecer no aeroporto um minuto antes de eu ir embora.

Mas eu lembro perfeitamente que a cada minuto que passava, eu fazia um pedido silencioso para qualquer um que estivesse disposto a escutar as minhas súplicas.

A voz dele. Por favor não me deixem esquecer da voz dele.

Talvez em outra vida.

Por favor, não me esqueça e não esqueça as coisas que a gente fez. Por favor.

Talvez eu estivesse em negação ou desacreditada que ele não apareceria ou simplesmente teria ido embora, mas mesmo que as nossas almas nunca mais se tocassem pelo resto da nossa existência, eu me sentia honrada de ter conhecido alguém que fez "dizer adeus" tão difícil.

O IntercâmbioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora