Maria Vitória terminou de tomar o seu café na companhia de Eugênia. Estava calada, séria, até a mulher presente quebrar o silêncio na intenção de saber o que se passava na cabeça da garota.
- O café estava bom? A sua avó insiste em querer uma empregada o quanto antes, mas até que venho me saindo bem sozinha. Pensei que em meio as escravas libertadas eu poderia encontrar uma mulher de confiança para os serviços aqui. O que me diz?
Maria Vitória estava distraída olhando "para nada", e assim não respondeu.
- Maria Vitória... Ei, Maria Vitória?! - Gritou.
- Sim? O que foi?
- Estou falando com você, e nada! Não me responde, está distraída, o que tens?
- Só estava pensando em algumas coisas, desculpe-me.
- Passou o dia inteiro naquela fazenda ontem. Custa ouvir um pouco essa mulher que está na sua frente?
- Desculpe, minha mãe. É que são tantos problemas.
- Mais ainda? Impossível! O que houve agora?
- Os cativos que foram libertados, eles precisaram voltar para a fazenda.
- Como assim?
- Voltaram para ter um lugar para viver. Como estou tomando conta, eles pensaram se eu não poderia lhes oferecer algo.
- E o que você decidiu?
- Tenho idéias para eles, lhes contei, a aceitaram. Não são grandes coisas, mas tudo que posso fazer.
- Eu pensei que fossem continuar nas comemorações. Sabe, toda essa festa já está me incomodando.
- Foram séculos de escravidão, estão comemorando a liberdade. Infelizmente foram jogados das senzalas para as ruas, nem sabem como será depois.
- Eu não quis dizer que não devem comemorar, claro que sim, mas é que... Ah, esqueça! Me conta, e a Dandára? Imagino que deva estar feliz.
- Muito! De alguma forma todos estamos.
- Você não me parece muito feliz, minha filha. Tem algo a mais que não me contou?
- Não é nada. De repente vem memórias na minha cabeça. Me lembro do meu pai, de tudo que vivemos até aqui... E também... Fausto está indo embora hoje.
- Hoje? É por isso que está tão chateada?
- Não vou esconder que estou muito triste. Eu sempre disse que nos casaríamos quando a minha mãe Dandára estivesse livre, mas não vamos mais.
- Eu sinto muito, filha. E sinto mais ainda se de alguma forma eu colaborei para isso.
- A escolha foi dele, não se preocupe. Bom, eu vou para a fazenda.
- Mas já?
- Sim, vou limpar o escritório. Vou ver os papéis, documentos, e tudo que estiver lá.
- O que pensa em fazer?
- Eu vou guardar tudo. Poderia queimar, mas sei que algum dia tudo aquilo será algo histórico para uma geração. Igual os pertences da minha avó, a baronesa.
- Está certa! É uma boa escolha. Não se esqueça de benzer tudo aquilo.
- Já falei em celebrar uma missa na fazenda, sim? - Sorriu.
- Ótimo! Aquele lugar precisa tirar toda energia carregada deixada por aquele homem.
- Por falar nele... Como será que está no sanatório?
- Sofrendo, eu espero.
- Mãe...
- Sinto muito, Maria Vitória, eu não consigo esconder isso. Você vai para a fazenda, e eu vou fazer uma visita ao orfanato - Ela se levantou. - Não pense em coisas ruins, sim? - Eugênia disse segurando e beijando-lhe o rosto. Saiu em seguida, deixando Maria Vitória pensativa.
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O Caminho Para A Liberdade [REESCREVENDO]
Historical FictionESSA HISTÓRIA VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM! Dandára, a mais bela das moças, cativa da fazenda Álvares Real, apaixonou-se, e viveu um romance com Leôncio, o filho do Barão Leopoldo. Mas esse amor logo é interrompido pelo Barão, quando o mesmo...