53_ Pai?

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Eliza Claire

A entrada da garagem na casa do Theo estava fechada.

Não que eu tivesse planos de entrar de fininho igual um assaltante por lá mais uma vez...

Longe de mim!

Os traumas que recebi da última vez foram suficientes.

Me contentei em andar até a porta da entrada e quando eu estava prestes a tocar a campainha, a porta de carvalho escuro se abriu, revelando o uniforme de policial acompanhado pelo rosto severo e acolhedor.

O pai do Theo.

— Eliza — cumprimentou ele com um sorriso breve. — Qual é a ocasião especial que te fez aparecer aqui no meu belo lar?

A maldita falta de tempo.

— O Theo — fui sincera e o pai do Theo assentiu com um olhar curioso.

— Antes que eu esqueça, lamento muito por você não ter vencido a bolsa. — Inclinou a cabeça na minha direção com um sorriso reconfortante. — Lembro como se fosse hoje de como você estava nervosa no dia da primeira apresentação.

Eu teria caído nesse sorriso sem dentes se eu não soubesse de tudo que esse homem já tinha feito com o Theo. Cada hematoma, cortes transformados em cicatrizes e machucados que não podiam ser vistos foram causados pelo homem diante de mim.

Ele destruiu alguém que não podia se defender, ele acabou com muitas partes da vida do Theo, e por isso, eu o odeio.

— Tá tudo bem, o Theo merece ela. Eu estou feliz por ele. — Me forcei a sorrir e o policial devolveu o sorriso.

O homem abriu caminho, me deixando entrar na sua casa e eu senti o meu coração se acelerar enquanto eu pisava na madeira. A madeira gemia com os meus passos na medida em que eu passava o olhar pelo corredor da casa. Várias fotos estavam penduradas na parede oposta à escada que provavelmente levava até os quartos.

— Eu sei que você viu. — O pai do Theo murmurou atrás de mim, me fazendo travar por um segundo e logo em seguida me virar pra encarar ele.

O meu olhar confuso foi suficiente pra fazer o homem erguer um dos cantos da sua boca no que era suposto ser um sorriso presunçoso.

— Eu ouvi os seus passos naquele dia da excursão. Eu sei que você ouviu e assistiu a minha conversa com o meu filho. — Explicou, ainda mantendo a sua mão na maçaneta da porta que estava aberta.

Conversa. Ele chamava agredir alguém indefeso de conversa.

— Eu não sei do que o senhor está falando. — Me forcei a responder, com o meu coração batendo violentamente no meu peito.

A minha voz soou baixa demais, entregando o meu medo.

— Fico feliz por ver que você escolheu manter suas opiniões longe do jeito que eu educo o meu filho. — Deu de ombros, levando a mão que estava na maçaneta para a lateral da madeira na porta, bem na altura de sua orelha.

— Eu não tenho certeza se alguém consideraria aquilo educar. — Me permiti soltar, mantendo o contato visual quando o pai do Theo se aproximou.

Era ainda mais difícil manter o contato visual com ele do que com o Theo.

— Eliza — pronunciou o meu nome com cautela, fingindo um carinho. — Eu não vou permitir que, uma garota que não tem nem mais uma semana inteira nesse país, interfira no jeito que eu educo o meu filho. Continue o que você fez naquele dia; ignore.

Você não está educando o Theo, quis gritar, você está destruindo ele.

Você já destruiu ele.

O IntercâmbioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora