Castelo de Cartas

693 94 6
                                    

No dia seguinte Lena acordou e começou a se mexer lentamente na cama, abriu os olhos e por alguns segundos estranhou a parede desconhecida. Definitivamente não estava em seu quarto.
Logo se lembrou do acontecido com Ruby e momentaneamente se acalmou, foi recordando que estava em um hotel em Metrópoles, mas em seguida seus momentos com a ex vieram a tona e ela se sentou com tudo puxando o lençol até o queixo.
A loira acordou também assustada com a movimentação, abriu os olhos lentamente, ela estava completamente nua com a tão habitual ereção matinal, sem falar nada coçou a barriga e se alongou toda.
- Será que você pode se cobrir?
Kara franziu as sobrancelhas, mas puxou o lençol cobrindo seu quadril – Bom dia pra você também...
- Bom dia?? É sério isso? Mas que merda... Não era pra isso ter acontecido – Apontou algumas vezes de uma para a outra.
A loira se sentou também, ela estava com uma careta, sempre foi difícil acompanhar as mudanças de humor de sua esposa, mas hoje ela estava de parabéns – Tá certo, vamos conversar sobre o que aconteceu...
- Que merda Kara, eu disse que não queria... Que não iria passar daquilo...
- O quê?? Você por acaso está dizendo que eu te forcei?
- Não, mas...
- Mas o que Lena?? Eu não estou entendendo onde você quer chegar com essa conversinha besta...
- Conversinha besta??
- Eu já tinha entendido que você não queria e eu não ia insistir... Eu estava ali na minha, me masturbando só imaginando as coisas que a gente poderia estar fazendo, foi você que arrancou sua calcinha e disse pra eu colocar...
- É lógico... Você estava ali dura, esfregando o pênis na minha perna e gemendo daquela forma... Eu não sou de ferro.
- Então não vem dizer merda – A loira foi se levantou deixando o lençol cair.
- Puta merda... Você realmente tem que ficar pelada assim?
- Qual o problema? Nós somos casadas...
A morena deu uma risada sarcástica – Só no papel, e por causa de um maldito papel na verdade... Você não faz ideia do quanto eu me arrependo de ter concordado com meus pais e ter assinado aquele acordo.
A loira ainda estava em pé pelada, sem reação. Ela odiava quando a outra assumia que elas só estavam “juntas” por causa do papel que seus falecidos sogros insistiram para que elas assinassem. Era uma lembrança constante do quanto os sogros não acreditavam no amor delas, uma forma de assegurar que a detetive não estava casando com intensão de um golpe do baú.
Os Luthors sempre foram uma família abastada, não era ricos, mas viviam muito bem e a morena era a única herdeira.
Suspirou pesadamente – Seus pais não precisavam ter feito isso, não foi legal da parte deles nós obrigar a nada...
- A não?! Vai me dizer que você não continua casada comigo por causa desse papel? – Perguntou com os olhos semicerrados.
Kara abriu a boca e fechou algumas vezes – Não Lena, eu não continuo casada com você por causa desse acordo...
- Então você já poderia ter pedido o divórcio, já que os impedimentos que são impostos pelo papel não fazem tanta diferença assim...
- Espera, você por acaso está alegando que eu só não pedi o divórcio por causa do seu dinheiro? Por causa dos seus bens?? – A loira no mesmo instante olhou para a outra totalmente abestada.
- Por qual outro motivo seria?? Eu não pedi o divórcio até hoje porque jamais iria abrir mão de tudo que eu conquistei até hoje, da minha herança...
Um tapa provavelmente teria doído menos do que as palavras de sua esposa. Então era isso, ela finalmente havia recebido a confirmação de que tanto fugiu, Lena não a amava mais, ainda tinha desejo por ela, isso ficou bem claro na noite passada. Mas não existia mais nenhum motivo além do financeiro para que elas ainda estivessem unidas
Depois de alguns segundos parada a loira finalmente conseguiu sair do estupor, passou a vestir suas peças de roupa – A gente ainda tem coisas para fazer aqui em Metrópoles, mas eu prometo que vou resolver o seu problema assim que chegarmos em casa – Pegou o celular e a chave de seu quarto e saiu rapidamente.
A loira tremia muito, teve um pouco de dificuldade em conseguir abrir a porta de seu quarto, mas deu certo depois de algumas tentativas. Bateu a porta com mais força do que seria necessário e deu alguns socos na parede finalmente deixando as lágrimas escorrerem grossas por seu rosto. Ela sabia que a situação das duas não era boa, mas essa alegação de que a loira tinha algum interesse financeiro foi baixa demais. Nunca poderia imaginar ouvir tais palavras saindo da boca de sua esposa.
No outro quarto a morena ainda estava sentada enrolada no lençol, ouviu algumas pancadas na parede e se encolheu imaginando que seria sua ex descontando a raiva e frustração. Se sentiu mal por ter dito aquelas coisas, ela sabia que Kara não tinha interesse nenhum em seu dinheiro, mas não podia se aproximar mais uma vez, não correria o risco de sentir toda aquela dor novamente.
Depois de algum tempo se levantou e tomou um banho bem quente, vestiu a mesma roupa de ontem e foi saindo, no quarto ao lado tinham duas mocinhas que já estavam limpando – Bom dia moça, pode deixar a chave comigo, sua amiga já fez o check-out e está tomando o café no salão.
Lena agradeceu e entregou a chave indo até o lugar indicado, lá tinha uma mesa posta com várias coisas de café da manhã, pegou o seu costumeiro café preto, um pãozinho e alguns frios e por fim um pedaço de mamão. Foi até a mesa que a loira estava, ela tinha um pouco de tudo das coisas que estavam a disposição para serem escolhidas.
- Caramba, tá parecendo que você não come há anos – A pesquisadora falou em um tom divertido.
A loira levantou os olhos para ela a encarando por uns segundos, logo em seguida voltou a comer ignorando a presença da mais velha. E morena passou a comer também, em silêncio desta vez.
Depois de uns 15 minutos finalmente terminaram de comer, a loira se levantou – Vamos, quero voltar o mais rápido possível para National City...
- Sim – Ambas saíram do hotel em silêncio e foram seguindo o caminho que o GPS indicava, logo chegaram em um bairro de subúrbio tranquilo, algumas crianças brincavam pelas ruas e adultos conversavam nas calçadas.
Depois de rodarem mais um pouco pararam na frente de uma casa, as duas mulheres desceram e a loira se adiantou tocando a campainha, alguns instantes depois uma morena que aparentava estar desesperada surgiu – Bom dia, meu nome é Kara Danvers, sou detetive em National City – Mostrou o distintivo – Eu falo com Samantha Arias??
- Sim, esse é o meu nome, entrem, por favor... Vocês estão aqui por causa da Ruby? Ela bateu na minha porta agora de pouco, acabei de fazer algo para ela comer... Ia entrar em contato com a polícia depois.
As três estavam indo para a cozinha onde uma faminta Ruby se esbaldava com um prato de ovos mexidos. Assim que ela viu Lena se aproximar se encolheu levemente. Era óbvio que ela já poderia imaginar o quanto estava encrencada.
- Mocinha você faz ideia da confusão que você aprontou? Sua mãe está desesperada... – Suspirou resignada – Eu vou ligar para a Andrea, com licença – Se afastou em direção da sala ao lado.
A anfitriã estava olhando a adolescente comer com um sorriso bobo no rosto, mas ao ouvir esta última frase se dirigiu até Kara – Ela disse Andrea??
- Sim, é a mãe adotiva da Ruby.
- Andrea de que?
- Rojas!
- Oh Deuses... Não , você não pode estar falando sério... – A morena andou até a sala e se sentou na poltrona respirando com dificuldade, ela suava muito e estava falando algo que a detetive não conseguia entender.
- Eu já falei com a Andy, vamos só esperar a garota terminar de comer e já poderemos pegar a estrada – A Luthor veio dizendo, mas então reparou no estado que a outra estava – O que aconteceu?
- Ela começou a surtar ao ouvir que Andrea Rojas é a mãe da Ruby, elas definitivamente se conhecem mesmo.
- Ahn, ainda mais essa...
- Hey, Samantha – A loira se aproximou e foi se agachando em frente da outra – Eu sinto muito por toda essa confusão, nós já vamos indo. Seria bom você trocar contato com a Ruby, eu imagino que não seja o que você pretendia ao abrir mão da guarda dela alguns anos atrás, mas como você pode notar ela é muito insistente e meu medo é que ela venha mais uma vez atrás de você.
- Eu poderia ir com vocês?? Eu não faço a mínima ideia de como funciona esse tipo de protocolo, mas eu realmente gostaria de entender como essa criança foi parar na guarda da Andrea.
- Você conhece a Andrea de onde?
- Daqui de Metrópoles, nos moramos juntas por um bom tempo, dividíamos um apartamento, éramos boas amigas. Até que a amizade ultrapassou algumas barreiras e nós acabamos namorando por um tempo. Mas eu não tinha um pingo de juízo e acabei traindo, e é claro que eu fiquei grávida em seguida.
As três estavam ouvindo em silêncio.
- A Andrea e eu discutimos muito depois disso tudo, acabamos mantendo o namoro. Mas nossa relação foi se desgastando cada vez mais até que eu resolvi que iria dar o bebê para a adoção, ela ficou possessa, por mais que fosse um fruto de um adultério ela já amava demais o bebê e implorou para que eu mudasse de ideia.
- Mas como eu disse antes eu era muito inconsequente e imatura, não podia criar uma criança e sendo adotada ela tinha grandes chances de ir parar em uma família estável, ter pais que iriam a amar demais e dar tudo do bom e do melhor para ela.
Ruby tinha abraçado Lena e chorava muito, provavelmente pela primeira vez se dando conta da besteira que tinha feito.
- O resto é história, a criança nasceu, foi levada para o sistema e quando eu voltei para o apartamento Andrea tinha sumido com todas as coisas dela, nunca mais tive notícias de nenhuma das duas e eu segui a minha vida.
- Você é casada, tem mais filhos além de mim?
- Eu fui casada, por quatro anos, me separei fazem uns sete ou oito meses. Não tive mais filhos, minha ex esposa nunca quis ter filhos, esse foi um dos motivos para que eu me separasse. E você tem algum irmãozinho?
- Não, minha mãe nunca teve nenhum relacionamento que fosse longo o suficiente para casar e ter filhos.
- Certo, eu espero que eu não seja uma decepção completa pra você Ruby... Será que eu poderia seguir viagem com vocês para a gente conversar e se conhecer melhor? Gostaria de me encontrar com a sua mãe de novo também.
A garota deu de ombros e concordou com a cabeça então a mulher se levantou secando uma lágrima que estava escorrendo por seu rosto.
- Eu vou só pegar um mochila com algumas roupas.
- Certo nós vamos esperar no carro...

O que vem depois do amorOù les histoires vivent. Découvrez maintenant