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BEATRIZ 🍄

Deixei o celular cair do meu lado quando eu vi a data de hoje, estava completando três meses desde a morte do meu pai. Foram os meses mais confusos da minha vida, eu não sabia direito o que estava sentindo e não conseguia assimilar a situação. Nunca fiquei tão confusa. Eu não conseguia ter uma reação sobre a morte do meu próprio pai e não conseguia entender que sentimento deveria ter e o que eu deveria fazer.

Quando chegamos no velório e eu me aproximei do caixão, cheguei à conclusão de que não tinha nada de bom para falar a respeito daquele homem. Isso me doeu. Doeu não ter nada para dizer, e doeu não consegui chorar enquanto via os amigos dele secando as lágrimas. Eu não conseguia sentir nada, e eu juro que queria sentir alguma coisa.

Mas esse tempo foi difícil para mim, não sei identificar se estava vivendo a dor do luto, porque a única coisa que eu consigo sentir é um vazio. Eu não consegui sair da cama para fazer as coisas normalmente, sem vontade alguma de sair para lugares e fazer as coisas que eu fazia antes, eu estou me sentindo mal, mas não sinto uma dor absurda. Eu só queria entender tudo que está acontecendo.

Leonardo ficou do meu lado o tempo todo, e eu não consegui entender como ele podia estar no velório do homem que atentou contra sua vida. A todo momento ele estava segurando a minha mão, quando eu tive que ir para reconhecer o corpo, quando eu tive que preparar o velório todinho, quando eu tive que fingir estar bem ao lado daqueles homens que eu nunca tinha visto na vida mas sabia que tinha um envolvimento com coisas horríveis e que meu pai também tinha. Ele ficou do meu lado a todo momento.

Quando eu cheguei em casa e caí de joelhos no meio do quarto, e ele me pegou no colo e me levou para o banheiro, tirou a minha roupa com cuidado e me colocou embaixo do chuveiro quente. lavou meu cabelo com todo amor e carinho do mundo, Enquanto repetia várias vezes que estava do meu lado e que tudo ia ficar bem. Foi nesse momento que tive a certeza de que aconteça o que acontecer, ele sempre será o meu suporte.

Ouvi a conversa dele com o pai antes de irmos para o velório. Lorenzo falando que não queria o filho prestando condolências a um cara que quase o matou. Leonardo disse que antes de tudo ele estava indo dar apoio a mulher dele.

Sinceramente? Eu não sei o que seria de mim sem ele nesse momento, eu não iria conseguir, não iria dar conta de tudo sozinha.

Passei a mão no rosto tentando esquecer desse dia terrível, não dói absurdamente mas ainda dói.

Sorri fraco Quando senti cheiro de torradas, Leonardo como em todas as manhãs, estava preparando nosso café. Ele sabe que amo torradas, então faz várias vezes na semana e eu amo. E ele nunca esquece do chocolate quente na minha caneca preferida, uma que tem a nossa foto onde estou mordendo a sua bochecha e ele sorri fazendo careta como se estivesse sentindo dor.

—Café da manhã para a mulher mais linda do mundo — ele entrou meio atrapalhado com a bandeija como em todas as vezes — Derramei leite quente no meu dedo, está doendo. Então tome cuidado quando for beber, acabei esquentando demais e não quero que você queime a língua.

Leonardo sempre cuidadoso.

—Amanha eu preparo nosso café — sorri preguiçosa me ajeitando na cama enquanto ele se sentava ao meu lado — vou fazer aquele bolo de chocolate que você gosta.

Ele sorriu animado igual uma criança e se inclinou beijando a minha bochecha. São nesses momentos que eu percebo o quão feliz sou tendo uma vida com ele.

Não vou dizer que é tudo mil maravilhas, temos brigas de casal como qualquer outro, e às vezes piora um pouco por morarmos juntos e a vida de casados não é fácil. Mas não teve um dia que passamos inteiro brigados, alguém sempre dá o braço a torcer e pede desculpas.

Só por uma noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora