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Machado de Assis disse: "Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento." Essa é uma citação de seu livro chamado Ressurreição, que é um dos livros mais conhecidos de sua fase romântica. Nessa fase, Machado traz a paixão, mas traz o realismo junto, deixando muitas das tradicionais características de lado e criando um estilo próprio. Olympia sabia disso, era uma das coisas que estava pregada em seu quadro de avisos, acima da sua escrivaninha. Estava escrito em uma folha de caderno com sua própria letra, era uma anotação de seu tempo de escola. Era o que ela encarava enquanto procurava coragem para ligar para George.

Era fevereiro, ou seja, carnaval no Brasil e o Clube dos Brasileiros da UCL (University College of London) vai dar uma festa. Então, como ela já ia de qualquer forma, pensou em retribuir o encontro que George havia organizado antes. Fazia exatamente 4 dias desde o piquenique e ela já queria encontrar ele novamente. Ela tomou coragem e clicou na tela.

— Já é a segunda vez que você me liga. — Ele anotou rindo. — Eu pensava que você não era boa nisso. — Falou e ela revirou os olhos enquanto se jogava para trás, caindo na cama.

— Olá, George. — Falou querendo iniciar a conversa, mas ele já tinha feito isso.

— Oh, e você ainda interrompeu minha leitura. Quer saber o progresso? — Perguntou e recebeu um murmúrio empolgado como resposta. — Estou atualmente na página 113 e quero dizer que Lizzy está sendo totalmente injusta com ele. É simplesmente revoltante como, enquanto ele defende ela e quer conhecer ela, Lizzy está dizendo aos vizinhos que ele é uma pessoa horrível. — Ele se levantou da cadeira, sendo inevitável a revolta.

Os dois sorriram com a risada um do outro. Era inevitável se darem bem, a energia entre os dois era sempre muito boa. Era sem precedentes até onde os dois iriam para tentar fazer isso certo. Os precedentes são medidos de forma diferentes. George tentava ficar o mais próximo possível dela, tentando se fazer presente, enquanto Olympia tentava se dar bem ao mesmo tempo que estavam longe. Era complicado, mas o esforço era mútuo.

— Eu estou completamente viciado. Estou lendo em pausas do trabalho, como agora. — Ele explicou querendo tirar mais algumas palavras dela.

— Trabalho... Ah, claro. Meu Deus, eu sinto muito estar te ligando nessa hora. Eu nem cogitei isso. — Um peso foi colocado de volta em suas costas, como se tivesse estragado absolutamente tudo.

— Tudo bem. Você está no timing perfeito. — Ele garantiu. — Tem alguma razão específica para ter me ligado?

George não é uma pessoa namoradeira, ele não teve muitas namoradas. A primeira foi Karina, uma menina da escola. Ela era legal e foi uma ótima namorada durante dois anos, quando ele viu que após a escola eles não durariam muito. Assim que percebeu, terminou. A segunda foi Erin, que se conheceram enquanto ele estava nas categorias de base do automobilismo, tinha acabado de terminar a escola. O problema era que ela só o queria para ter status. Como piloto, George já tinha muitos problemas, a última coisa que precisava era um coração quebrado. Desde então, ele andava sem nenhuma pretendente. Com pouco tempo em Londres e muito tempo se dedicando às pistas, a vida social ficou de lado. Era um pouco triste, mas era necessário. Agora, com estabilidade em sua carreira, já na Mercedes, George Russell buscava alguém com honestidade, alguém que não pudesse machucar seu coração. Ele ainda não sabia se Olympia era essa pessoa.

— Vai ter uma festa típica brasileira hoje por aqui perto, mas você obviamente está ocupado, o que eu deveria ter imaginado. — Se sentiu envergonhada por um segundo.

— Uma festa brasileira... Eu adoraria ir. — Ele pensou um pouco, lembrando todas as vezes que viu uma dessas no Brasil. — Mas estou preso no trabalho até mais tarde. Vou te dizer algo, que tal irmos em um terceiro encontro? Tenho uma ideia legal. — Sugeriu preocupado.

— Sim, claro. — Olympia aceitou de bom grado. — Desculpa te interromper. Até mais, George. — Falou e desligou a ligação.

Olympia nunca havia se sentido assim, tão... inferior. George trabalha, tem sua vida e sua renda. É algo que ele conquistou. Enquanto ela sentia que apenas estudar era um total fracasso. Ele tem 24 anos, ela tem 22 anos, ainda na faculdade, sustentada por sua mãe que mora no Brasil. Ela se sentia realmente uma pessoa inferior. Mesmo assim, ela ignorou e seguiu em frente, começou a se maquiar e se arrumar para a festa. As sensações que ela estava sentindo eram as que ela não queria com ela no momento. Era tempo de celebração, de ficar feliz, encher a cara e realmente ser você próprio, sem medo de julgamentos.

Ela lembrava de seu último carnaval no Brasil. Foi um dos melhores, comemorando os três dias em uma casa com seus amigos, andando pelas ladeiras de Olinda, seguindo blocos e se sentindo parte. Fantasias diferentes a cada dia e aproveitando ao máximo sem saber que aquele era seu último carnaval em sua terra natal.

George se sentia péssimo por negar o convite, mas sua carreira sempre estaria em primeiro lugar, além do medo do reconhecimento. Ele queria ter certeza de que ela era de confiança e de que estava sendo honesta antes de dizer a ela que ele é um piloto de Fórmula 1. Saindo de casa, Olympia não sabia disso. Ela ainda não se sentia enganada, não se sentia triste ou desapontada. No meio de muita gente, pintada de glitter da cabeça aos pés, Olympia se sentia uma idiota por ter pensado que seria boa o suficiente para uma pessoa como George.

— Você ainda não falou para ela. — Lewis Hamilton entrou na sala e sentou na poltrona à sua frente. — Ela parece uma pessoa legal, cara. Não a decepcione ou você vai perder ela. Se você acha que ela é alguém especial, não deixe isso para depois. — Direcionou.

George escutou as palavras do inglês, mas não as absorveu. Ele ainda achava que estava certo de se proteger dessa forma, ainda achava que deveria continuar com segredos. Isso não é muito a praia de Olympia, muito pelo contrário. Se teve algo que ela aprendeu durante os anos é que segredos são coisas que não levam a nada bom. Ela aprendeu isso da forma difícil, talvez é disso que George precise também.

Beethoven | George RussellWhere stories live. Discover now