33- Escolha

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Negação. Raiva. Tristeza. Dor. Desesperança. Injustiça. Impotência. De todas as fases do luto e da terrível perda de sua mãe, o que mais Malu sentia era impotência. Foram minutos chorando sem parar ao telefone com seu pai, que já estava no hospital durante a ligação. Seu irmão, Pedro, estava na escola e ainda não sabia que perdera a mãe também. Malu pediu ao pai para buscar Pedro na escola no fim do dia e contar-lhe sobre a morte da mãe, mas seu pai insistiu que Malu o buscasse na escola ainda naquela manhã. No caminho, Malu não pôde deixar de se lembrar dos sonhos recorrentes que estava tendo, nos quais seu pai lhe dizia que sua mãe "tinha que ir". Ela havia passado praticamente todos os dias daquele fatídico mês de setembro sonhando com isso, com o que parecia mais um aviso do que um sonho ou pesadelo.

- O corpo será liberado para velório hoje à tarde. Vai ser algo bem discreto, vou ligar para alguns familiares e amigos próximos e de madrugada tudo já terá acabado. - afirmava Luiz, racionalmente, lembrando de como era sua esposa e recordando uma conversa que tiveram há muito tempo sobre quando um dos dois partisse primeiro - Sua mãe sempre quis celebrar a vida, e não a morte... Sei que era assim que ela gostaria que fosse: a presença apenas quem realmente era próximo em uma rápida despedida.

Malu concordou acenando - sem Luiz, do outro lado da linha, poder ver - Sua mãe, Maria, era realmente assim. Vivaz, simples e valorizava os momentos ao lado dos poucos e bons que amava. Maria era incrível e uma excelente pessoa - por isso, para Malu, a sensação de injustiça permeava.

Por telefone, a ruiva conseguia perceber a voz trêmula do pai, ainda que ele tentasse ser firme pelos filhos. Naquela manhã, a garota desligou o telefone e chorou. Dwight, seu cãozinho, foi correndo para seu colo ao ver a dona chorar sem parar, sentada na rede de sua sala/varanda. Aquele era o único carinho que a ruiva recebia. E o dia, que era de sol, de repente ficou sem cor.

Malu passou a fazer tudo no automático: ligou para a escola que trabalhava avisando da morte de sua mãe, tomou um banho e se arrumou para buscar Pedro na escola e começar a longa jornada que seria aquele dia.

O dia em que sua mãe morreu.

O dia em que sua vida mudou para sempre.

Malu trajou um vestido branco que usara no reveillón daquele ano, como uma maneira de homenagear sua mãe. "Sem preto, sem dramas", pensou a ruiva tentando se convencer que conseguiria controlar suas emoções de agora em diante, mas sentindo um aperto no peito como nunca antes.

Logo, quando terminou de calçar os sapatos e fazer uma maquiagem simples tentando disfarçar sua dor, Maria Luiza lembrou-se de avisar Julia, sua melhor amiga, que morava em São Paulo capital. Malu começou a digitar a mensagem, porém em vão, ao notar suas mãos começaram a tremer. Logo, mandou um áudio à amiga:

- Ela se foi, Ju, minha mãe morreu! - Malu voltou a chorar - Não consigo entender, primeiro a surpresa de um AVC repentino, um tempão internada e depois os médicos estavam dizendo que ela estava melhorando, que podíamos ter esperanças, que ela ia acordar... Meses e meses em coma e agora isso? Não consigo entender...

A mensagem virou um choro ininterrupto por mais de 30 segundos, quando Malu conseguiu retomar as emoções:

- Por um tempo, conforme as semanas passavam, eu via minha mãe daquele jeito, inchada, em coma, na UTI, e sequer a reconhecia. Cheguei até a pensar que ela não sairia do coma e que era melhor ela partir mesmo, do que ficar mais tempo daquele jeito, amiga... - Malu chorou sentindo culpa por seus pensamentos. A mesma culpa que sentia agora novamente ao saber que a mãe, de fato, se fora. Mas ela sabia que Julia não a julgaria por seu pensar.

Ela continuou:

- Mas depois ela começou a estabilizar, melhorar e os médicos deram esperança e eu realmente achei que ela sairia dessa, Ju. Eu realmente acreditei... - o choro continua, até Malu, enfim, secar as lágrimas - Agora estou indo buscar o Pedro na escola e vamos pro hospital. Minha mãe morreu, amiga... - Malu terminou o áudio desabando de chorar.

Meeting Joseph Quinn 🇧🇷Where stories live. Discover now