Capítulo 1

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A conversa já perdurava por horas com o rapaz mal escutando as palavras. Por vez ou outra murmurava alguma coisa, apenas para a moça não desconfiar que estava falando sozinha – e se pegava admirado por a mesma não ter ainda notado isto –, visto que ela faria uma tempestade num copo d'água se isto acontecesse de novo.

Sophie Brixton era bela, com seus cabelos dourados claros e seus olhos âmbar. Todavia o que atraía em beleza era afastado assim que a mesma abria a boca. Talvez fosse apenas a opinião do jovem, já que havia louco para tudo no mundo, inclusive para gostar daquele tipo de conversa. O fato é que: já estava começando a cair no sono há alguns minutos, e tudo o que mais desejava naquele momento era sua cama.

O grande relógio da sala ressoou, indicando meia noite. Era a deixa perfeita para se livrar daquele monólogo infindável e abraçar seu sono. Pediu desculpas à jovem, que cedeu com uma leve expressão de irritação. Sem dúvida estava falando sozinha de novo, afinal como poderia ser ignorada ao contar sobre sua quase queda de cavalo no passeio com a lady Barker? O rapaz já devia estar disperso há um bom tempo para isto.

Bem, tampouco importava. Tinha de dormir também, pois na manhã seguinte voltaria para seu castelo com o pai. Precisava estar descansada se não quisesse estar de mau humor.

Se levantou da luxuosa poltrona, imediatamente puxando o moço para um beijo, que não foi recusado. Apesar de parte – boa parte – da personalidade de Brixton não lhe agradar, tinha de admitir que tudo no mundo tinha um lado bom.

E esse era o lado bom dela, seus beijos.

Era como se tivesse sido enfeitiçado. Toda a conversa pífia e sua agonia anterior sumiam, e tudo o que conseguia pensar era no quão suaves eram aqueles lábios. Estes eram provavelmente os únicos momentos em que de fato aproveitava a companhia da garota, e talvez a única coisa que ainda o instigava a continuar com aquele futuro casamento estúpido.

A assistiu caminhar lentamente para se retirar, vez ou outra checando para ter certeza de que estava sendo observada. Ela gostava daquilo, ter as atenções todas voltadas para si, a fazia se sentir viva, importante, amada e aclamada. Um sentimento puro que chegava a ser infantil.

E talvez realmente fosse, visto que não tinha tanta maturidade de personalidade.

Somente quando a ponta do longo vestido desapareceu na porta que o rapaz se deu conta de que também tinha de ir. Rumou ao seu quarto com a mente em coisas banais, como por exemplo qual chá tomaria no dia seguinte ou se iria passar o dia fora ou dentro do castelo. Era mais provável a primeira opção, já que adorava explorar as florestas nos arredores ou mesmo passar o dia andando a cavalo. E o que podia fazer dentro senão ficar apenas na biblioteca, sendo perseguido por seus tutores para estudar ou escutando sua mãe reclamar de que nunca cumpria seus afazeres?

É, sair definitivamente era a melhor escolha.

Frank Anthony Iero II era o herdeiro do trono de Theldra, um vasto reino que jazia em paz há anos. Não era como se tivesse orgulho daquilo, afinal tudo o que mais queria era apenas explorar, se aventurar por terras ainda desconhecidas para si e desfrutar de suas maravilhas. Era jovem, não se importava tanto com responsabilidades como liderar uma nação, portanto quando pensava sobre seu destino considerava seriamente a possibilidade de fugir.

Fugir. Para um lugar distante e desconhecido. Onde ninguém pudesse cobrar algo de si. Onde poderia ser livre, ser a si mesmo. Onde finalmente poderia respirar a liberdade e viver jornadas com companheiros leais que fizesse pelo caminho.

É, talvez fosse um pouquinho sonhador demais. Mas quem o podia culpar, se a vida toda ele tivera seus atos limitados por regras e deveres a cumprir? Aquilo dava nos nervos às vezes!

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