Sob o céu estrelado (Sáfico)

Megera

2023

        Tomar decisões nunca é fácil, eu sempre soube disso. Durante toda a minha vida, fiz escolhas que alteraram minha trajetória de forma rápida, brusca e dolorosa. Mas, neste exato momento, minhas decisões não iriam afetar apenas a mim, mas a outras três pessoas.

         — Não, definitivamente, não. — Respondi de maneira rígida a minha irmã.

         — Natasha, não podemos deixá-las sozinhas... Não seja tão fria! — Explodiu Lana.

         Eu tinha duas irmãs mais novas, e Lana era a mais nova dos 4 filhos que vingaram da minha geração na família Aubert. Minha irmã era quatro anos mais nova que eu e, diferentemente de mim, tinha compaixão por qualquer criatura viva existente no mundo.

          Trabalhávamos juntas e, enquanto eu era a "Megera (In)domada"" de Shakespeare, Lana podia ser vista com olhos semelhantes àqueles que viam os heróis e mártires como a pobre Julieta de "Romeu e Julieta", ou mesmo a Giselle, figura importante do balé.

            — Lana, eu não sei cuidar de criança! Porque acha que nunca tive filhos?

           A mentira me atingiu como um tapa, desenterrando dores que eu havia escondido em um abismo profundo da alma.

            Mentirosa!

           Ouvi minha vozinha interior bradar tais acusações e segredos que eu preferi enterrar, mas a calei instantâneamente. Não era hora de lembrar do passado. Mas era verdade, eu não fazia ideia de como cuidar de crianças, só as controlava enquanto ensinava balé, mas trazer duas para nossa casa? Que experiência tínhamos?

             — São duas meninas, duas irmãs, o furacão as deixou sozinha, você sabe como é perder a família, isso aconteceu com a gente! — Insistiu minha irmã.

            Massageei as têmporas. Lana viveu comigo por toda a minha vida, apesar de ser a mais nova, era a mais habilidosa em mudar minha mente e cutucar feridas dolorosas. Mesmo que não houvesse propósito.

             Mas, astuta como uma raposa, usava seus conhecimentos sobre mim quando queria conseguir algo.

             — Você pensou sobre nosso tempo? Ou sobre o fato de quase não estarmos em casa? Uma criança requer atenção, Lana. — Expliquei.

             Na televisão, as notícias sobre o furacão Natasha, (De tantos nomes que tinham para colocar... Justo o meu?) que abalou a Califórnia não paravam a dias. Vários repórteres iam até lá a fim de conseguir um furo de reportagem e noticiar sobre o número de mortos cujo crescia cada dia mais.

              Lembro de quando descobrimos, Lana e eu havíamos acabado de voltar da Academy of The stars, onde eu era a professora de balé e ela era figurinista. Ligamos a televisão e vimos os filmagens de entulhos. Ela se desesperou na hora, pois nossa irmã morava lá.

              Meu trabalho, como irmã mais velha, foi acalmá-la, embora um verdadeiro furacão estivesse acontecendo dentro de mim.

              3 dias depois do desastre, Lana recebeu a visita de uma assistente social avisando que Lauren, nossa sobrinha, perecera, assim como seu marido . Mas Jenny ainda não havia sido encontrada e isso me dava mais calafrios do que eu gostaria de admitir.

              Fomos informadas de que Christina e Marrie, nossas sobrinhas netas, foram encontradas com vida, pois Christina, a mais velha, levou sua irmã para o porão, construído para estes fins.