Capítulo 9 - Vossa Majestade.

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— Espera, você tem que ir com a gente, agora. — Timóteo diz e me faz voltar para a mesinha.

— Ir com vocês de volta? Agora? Tá doido?!

— Sim, Celina— ele suspira— O assunto é sério.

— Ah e só porque o assunto é sério eu devo ir?

— Não é óbvio?

— Olha— Benedito diz— Eu acho que você vai querer saber, é sobre o Rei Branco. — Meu olhar muda.

— O Rei Branco? O que aconteceu com ele?

— É por isso que você deve ir com a gente!

— Não sei, eu sei que o Rei Branco me ajudou enquanto vocês me assustaram, mas ainda assim, eu não vou agora pra lá de novo, eu me encrenquei feio! E se eu tiver que ir, só se for mais tarde.

— Mais tarde?

— Sim, me encontre na frente da minha casa depois das onze. — eles me olharam confusos enquanto eu saia dali com minha mochila, é claro, eu mudei rápido de idéia, mas não posso negar que essa coisa toda tá fazendo eu ficar com uma rotina um pouco mais agitada.
Mas também fiquei preocupada em como eles disseram isso. Será que algo de muito ruim tinha acontecido com o Rei Branco? Eu espero que não.

•••

— Celina, hoje eu quero que você durma cedo, está bem? — Minha mãe me olhou.

— Porque?

— Amanhã você vai vir comigo na rua, e nem adianta reclamar que vai sim! — Revirei os olhos.

— Oh mãe… — grunhi baixinho.

Voltei a comer o jantar ansiosa para sair dali, com medo de dar errado essa minha primeira fuga. Não estava fazendo nada de ruim, só iria ver um amigo gentil, e talvez alguns garotos bonitos... mas isso não é o foco, não sei se o Rei Branco está em perigo, doente, ferido, parecia que agora eu estava interessada naquele mundo, mas por quanto tempo?

— Quê isso Celina, vai engolir o prato e a colher junto, é? — Sylvia riu de mim.

— Já falei que não é pra comer apressada, daqui da cozinha você vai pro quarto dormir, não vai pra lugar nenhum com essa pressa.

— Não é que, eu deixei pra escrever umas coisas pro trabalho da escola, e tô com pressa de terminar logo.

— Mesmo assim, come devagar!

Voltei a comer um pouco mais devagar, ainda pensando no momento que iria pular a janela do meu quarto.

•••

Quando deu dez horas, minhas irmãs subiram para seus quartos enquanto minha mãe foi à casa de uma amiga de última hora. Fiquei aliviada, assim a única chance de ser flagrada seria pelas minhas irmãs que não ligam para o que eu faço mesmo.

Mas ainda assim, toda cautela é boa.

Troquei de roupa, coloquei o vestido azul com margaridas e as minhas botas cinzas. Abri a janela, e me pendurei, rezando para não cair.

Botei os pés em espaços da casa do lado de fora, e me segurando firmemente em galhos ao lado da árvore quase seca. E quando senti que dava pra soltar, soltei.

Caindo com o corpo no chão. Senti algo quebrar, mas isso não importava, ou importa, mas agora não. Me levantei com dificuldade, e tentei correr para a frente da casa, e de longe já havia conseguido ver Timóteo e Benedito parados do outro lado da rua, e quando me viram vieram até mim.

— O que aconteceu com você? — Timóteo perguntou preocupado.

— Ah nada, eu só quebrei um osso. — Fiz pouco caso.

— Isso não parece "nada".

— Mas é, vamos logo ver o Rei!

— Sabe onde deixou, Benedito? — Timóteo olhou para Benedito que confirmou com a cabeça.

Benedito nos levou até o quintal da vizinha da frente, e tivemos que nos esconder do cachorro dela.

— Porque estamos aqui? — perguntei em meio aos matos ali.

— Porque fica aqui um portal para o país das maravilhas. — Respondeu Benedito.

— Aqui? No quintal dos outros?

— Sim "oh questionadora". — Timóteo rebateu.

— Só fiquei surpresa oh caramba.

— Aqui, vamos. — Benedito chegou perto de um buraco, e simplesmente pulou nele.

— Pera, o quê?

— Vem, vamos pular! — Timóteo se preparou.

— Tá maluco? Na última vez que caí num buraco foi por acidente, nunca que eu teria coragem de pular assim.

— Então pode ser por um acidente?

— Claro que não— Antes que eu terminasse a frase Timóteo pegou em minha mão e me puxou para pular no buraco com força, me jogando junto.

Caí em um grito agudo enquanto ele ria da minha cara. Parecia que o buraco não acabava nunca, mais e mais fundo, assim como na primeira vez que cai.

E de repente um boom. Estávamos na frente da casa do Timóteo, na verdade, a Casa de Chapéu.

— Viagem legal né? — ele disse no meu ouvido rindo.

— Não foi o que eu achei. — digo irritada.

— Vem. — novamente, ele pegou em minha mão e me levou para dentro da casa. Benedito já estava lá esperando por nós.

— Vocês demoraram um pouco, o que aconteceu?

— Ela não quis pular, mas eu fiz ela pular.

— Forçadamente. — reforcei isso.

•••

Timóteo e Benedito me levaram até um cômodo diferente. Estava alguns outros ali, Crispin, Beck eu acho, e um que eu não sabia o nome que tinha cabelos azuis, óculos e um cigarro em sua boca.

Os três estavam ao redor de uma cama um pouco baixa. Havia um bebê ali.

Um bebê?

Coberto com lenços que pareciam ser de seda, bonitinho, fofinho, e branquinho até demais.

— De quem é o bebê? — Perguntei quebrando o clima um pouco tenso.

— De ninguém.

— Como assim de ninguém? Ele brotou do chão?

— Bebês não brotam do chão aqui, bobinha, só nas Terras Acaveiradas. — respondeu Beck.

— Tá e quem é o bebê?

— É a Vossa Majestade.

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Eita gente, esse capítulo foi grande? Eu não sei, mas até que gostei desse capítulo 🧐

💖

𝑾𝒐𝒏𝒅𝒆𝒓𝒍𝒂𝒏𝒅 - 𝑑𝑖𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒? - Um País Cheio De LoucurasWhere stories live. Discover now